Se Sócrates pode dizer que o Louçã não tem currículo nem idade, eu posso repor resíduos.

Aqui a atrasado no lançamento do livro de um amigo, muito se disse e muitas interpretações se ouviram a quem se pronunciou. No final, o autor, em roda de amigos confidenciava: não supunha ter escrito o livro de que falaram.
Não o fez em tom de zombaria, antes o contrário, confirmando que uma obra não se esgota quando o seu autor a termina.
Reflectindo sobre as palavras que uma amiga em tempos escreveu, concluí que uma obra, qualquer obra, nunca está completa; passa a ter outras histórias que são as interpretações que cada um lhe faz, e isto justifica-se essencialmente porque o ponto de partida não é o mesmo da chegada. Ou seja: um artista comunica com os outros por uma linguagem diferente, seja a do discurso escrito, das tintas, da pedra... e fá-lo por sentir a urgência de “dizer” algo que de outra forma não é capaz, por sentir a insuficiência das palavras procura imagens ou texturas ou sons... criada a obra, ela passa a ter vida própria e uma lógica própria, ultrapassa o criador retendo deste a assinatura e o desejo de algo. Tentar dizer algo “sobre”, seria quase o mesmo que calar um filho, considerá-lo mudo e incapaz de falar de si e do mundo.
A obra, qualquer obra, tem vida própria, ganha essa vida ainda antes de acabada, quando “diz” como quer ser... um quadro pede cores e traços, um texto foge ao traçado inicial quando as palavras se impõem como uma força que escapa ao controle. O raciocínio a que o autor pretende obedecer escapa-lhe desde logo, nunca lhe tomou as rédeas, antes foi tomado por elas e é preciso ouvir a obra falar, escutar o que tem para dizer.
O autor a falar da sua obra... a obra a falar do seu autor... um diálogo de surdos porque o cruzamento das vozes é enorme e, no entanto, fazemos silêncio para ouvir e tentar perceber.
Claro que nem sempre isto acontece, e então o “leitor” descobre-se no autor e algumas vezes o inverso é também verdadeiro, porque a arte tem vida própria e abre mundos não sonhados, para quem a cria e para quem a recebe.

Acontecimento cultural do ano


Na ocasião, será igualmente apresentada, por Jorge Telles de Menezes, a obra "A cada instante estamos a tempo de nunca haver nascido", de Paulo Borges (colecção NOVA ÁGUIA)

Lista completa de lançamentos:
http://www.novaaguia.blogspot.com/

FAÇA PARTE DESTE PROJECTO. ASSINE A NOVA ÁGUIA:
http://www.zefiro.pt/novaaguia


Como é sabido, A Águia foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal, em que colaboraram algumas das mais relevantes figuras da nossa Cultura, como Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Raul Proença, Leonardo Coimbra, António Carneiro, António Sérgio, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.
A NOVA ÁGUIA pretende ser uma homenagem a essa tão importante revista da nossa História, procurando recriar o seu "espírito", adaptado aos nossos tempos, ao século XXI, como se pode ler no nosso Manifesto.
A NOVA ÁGUIA está vinculada a três entidades : Associação Marânus/ Teixeira de Pascoes (sede Norte), Associação Agostinho da Silva (sede Sul) e MIL : Movimento Internacional Lusófono. Inspirando-se na visão de Portugal e do Mundo de Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, a NOVA ÁGUIA assume-se como um órgão plural.

Tal como n' A Águia, procuraremos o contributo das mais relevantes figuras da nossa Cultura, que serão chamadas a reflectir sobre determinados temas. O tema do primeiro número é "a ideia de Pátria: sua actualidade".
Orgulhamo-nos de ter conseguido o contributo de gente tão ilustre como Agustina Bessa Luís, António Cândido Franco, António Telmo, Ariano Suassuna, Fernando Echevarría, Joaquim Domingues, Manuel Ferreira Patrício, Mário Cláudio, Miguel Real e Pinharanda Gomes, a par de muitos outros.
Para além disso, neste primeiro número poderá ainda encontrar uma série de outros textos, sobre outras temáticas:

NOVA ÁGUIA : ÍNDICE DO PRIMEIRO NÚMERO

- EDITORIAL/ MANIFESTO NOVA ÁGUIA/ ÓRGÃOS
- Manuel Ferreira Patrício, APROXIMAÇÃO À IDEIA DE PÁTRIA
- Pedro Teixeira da Motta, DO RENASCIMENTO DA NOVA ÁGUIA

SOBRE A IDEIA DE PÁTRIA: TEXTOS

Mário Cláudio, DA PÁTRIA
J. Pinharanda Gomes, ANAMNESE DA IDEIA DE PÁTRIA
Pedro Brum, PÁTRIA E LIBERDADE
Paulo Feitais, PENSAR A PÁTRIA HOJE: QUE SENTIDO?
Paulo Borges, DA IDEIA DE PÁTRIA AO SENTIDO DE PORTUGAL E DA COMUNIDADE LUSÓFONA
Maria João Frade, SERMOS TUDO OU TODO?
Manuel Matos, A IDEIA DE PÁTRIA ENQUANTO REPRESENTAÇÃO IDENTITÁRIA
José Leitão, UM ARGUMENTO PELA IDEIA DE PÁTRIA
Joaquim Domingues, DIÁLOGO ACERCA DA PÁTRIA
Isabel Santiago, A LÍNGUA COMO PÁTRIA
Fátima Valverde, SONHO, SAGRADO E SILÊNCIO: TRILOGIA PARA UMA NOVA PÁTRIA
António José de Brito: A PÁTRIA: AINDA É POSSÍVEL…
Ana Margarida Esteves, FADO DOS FILHOS DA «DEMOCRACIA DE SUCESSO»?
Sérgio Sousa-Rodrigues, REPATRIAR A PÁTRIA
Samuel Dimas, PÁTRIA E MÁTRIA
Rui Martins, PÁTRIA: ONTEM, HOJE…E AMANHÃ
Rita Cardoso, POX VOP
Renato Epifânio, NOVE NOTAS & UM NOVO PARADIGMA PARA PORTUGAL
Paulo Ferreira da Cunha, REFLEXÕES SOBRE A DECADÊNCIA
Manuel Abranches de Soveral, A PERSPECTIVA DA ANDORINHA
Luís G. Soto, UM PATRIOTISMO PLURAL, LIMITADO MAS COMPROMETIDO
Luís Santos, A LUSITANIDADE NÃO IMPEDE A LUSOFONIA
Lourdes Cidraes, QUE LUGAR PARA OS NOSSOS HERÓIS?
José Eduardo Franco, O MITO DA EUROPA EM PORTUGAL
João Beato, LUSO, LUSÍADA, PORTUGUÊS
Dalila Pereira da Costa, UNIÃO E FUGA À PÁTRIA

SOBRE A IDEIA DE PÁTRIA: POEMAS

De A. Cândido Franco, Alexandre Vargas, Celeste Natário, Dirk Hennrich, Donis de Frol Guilhade, Emmanuel Gatete, Fernando Grade, , Isabel Mendes Ferreira, Francisco Soares, José Florido, Luís Filipe Cristóvão e Manuel da Silva Ramos, Renato Epifânio, Paulo Borges e Augusto Emilio Zaluar (com nota de Rainer Daehnhardt)

OUTROS TEXTOS

Ariano Suassuna, SOBRE AGOSTINHO DA SILVA
Romana Valente Pinho, ANTÓNIO QUADROS: PÁTRIA REAL E PÁTRIA IMAGINÁRIA
Miguel Real, FRANCISCO DA CUNHA LEÃO: PORTUGAL COMO HARMONIZADOR DE OPOSTOS
Renato Epifânio, MIGUEL REAL: UMA OBRA EM TRÊS LIVROS
Paulo Borges, PORTUGAL: MEDO DE EXISTIR OU TRANS-EXISTÊNCIA?

OUTROS VOOS/ OUTRAS VOZES

F. M. Palma-Dias, VIAGEM A TRACEJADO…
Dirk Hennrich, PAISAGEM E PÁTRIA
Doug Tarnopol, ESTE PAÍS [E.U.A] É UMA PÁTRIA?
Sinem Adar, ENCONTRARMO-NOS NO "OUTRO": MEMÓRIA E HISTÓRIA.
Francine Charron, A LUSOFONIA: OBJECTIVOS NOBRES E DESAFIOS DE GRANDE ENVERGADURA

OUTROS POEMAS

De Fernando Echevarría, Renato Epifânio, Paulo Borges, Paulo Brito e Abreu, João Carlos Raposo Nunes, Duarte Drumond Braga, Maurícia Teles da Silva, Esteva de Alba, , Amon Pinho Davi e Vicente Franz Cecim

DA ARCA

António Telmo, À TARDE E A BOAS HORAS

RUBRICAS

COISAS E LOISAS, de Pinharanda Gomes
O ESPÍRITO DOS LUGARES, de Manuel J. Gandra
AS IDEIAS PORTUGUESAS DE GEORGE TILL, de Jorge Telles de Menezes

VOOS TEMÁTICOS

LITERATURA ORAL E TRADICIONAL, de Ana Paula Guimarães
ARTES PLÁSTICAS, de Cristina Pratas Cruzeiro
MÚSICA, de Nuno Côrte-Real
CIÊNCIA, de Rui Martins

GOLPE D'ASA

Agustina Bessa-Luís, O FANTASMA QUE ANDA NO MEU JARDIM

PRÉ-PUBLICAÇÃO

António Telmo, A VERDADE DO AMOR
Paulo Borges, A CADA INSTANTE ESTAMOS A TEMPO DE NUNCA HAVER NASCIDO

DIRECÇÃO: Paulo Borges, Celeste Natário e Renato Epifânio
EDITOR: Alexandre Gabriel/ Zéfiro



É a justiça, estúpido! (ou o estado a que chegou)

A papelaria do meu bairro, onde abasteço o vicio; de fumo e jornais, foi assaltada. Não a papelaria, mas a caixa do multibanco que dá para a rua. Perdão! Também não foi a caixa de multibanco que dá para a rua, mas o segurança que procedia à reposição das faltas, na caixa do multibanco que dá para a rua.

Tudo indica, que esperaram a carrinha de valores chegar e o segurança entrar na papelaria para actuar. Fizeram-no com rapidez e argumentário suficiente. Quatro homens, encarapuçados, surgiram da rua traseira e forçando a porta da papelaria (tinha sido fechada – julgo serem normas de segurança), roubaram todo o dinheiro destinado à recarga da caixa. Conta um vizinho, com pungente afectividade, que o Sr. Manel dos frangos, correndo o risco de um cardiovascular, ainda largou a arte no intuito de socorrer a vizinha de comércio fronteiro, mas alguém avisado lhe gritou que parasse, informando que os meliantes estavam armados. Perante informação de tal monta e privados dos legítimos direitos de inscreverem qualquer acto contra a actividade ilícita que testemunhavam, ninguém mais ousou qualquer atitude para além da normal e cuidada espionagem entre portas.

Soubemos poucos dias depois, que o Grupo de Operações Especiais da Policia de Segurança Pública, fazendo tábua rasa da nova Reforma Penal, que proíbe a medida de coacção preventiva a criminosos puníveis com penas inferiores a cinco anos, tinha interferido com o livre exercício de actividade daqueles pacatos cidadãos. Descobriu-os, e no decorrer da acção capturou três, tendo o quarto, encontrado outro caminho ao despenhar-se de um andaime sem as necessárias asas.
Sejamos directos: um elemento, o Osvaldo, que também responde pelo nome de ‘Patusca’ e tem a digna profissão de barbeiro, é gente com historial de assaltos de carrinhas de valores à mão armada (sete, ao que consta) com outro gang que baleou um policia, em Novembro passado, quando atacaram o Finibanco de Moscavide.

Foram apresentados quinta feira da semana passada ao Tribunal de Sintra e já estão cá fora.
Chegado aqui, um forte pulsar tentava-me a falar do ministro da justiça e da sua reforma penal. Mas não, vamos lá sem bússola nem catavento que já se levanta a neblina.

Não consta se o juiz lhes terá dado algum coçóide dialéctico ou beliscões nos fundilhos, mas consta, que a confirmação de serem gente de trabalho, com emprego e por isso capacidade produtiva, bastou para serem elevados a cidadãos integrados na sociedade e mandados em paz -di-lo a vizinhança e confirma-o a edição on-line do Correio da Manhã de dia 14.

Dito isto, espero que os maquiavélicos agentes da PSP, que procederam às detenções com inequívoca e irrefutável falta de formação profissional, não venham a ser acusados de discriminação xenófoba ou racista, para com cidadãos que caíram, por mera casualidade, no isco apetecível de uma caixa multibanco. Também, não caia o leitor na tentação, de ver neste post um manifesto convite à criminalidade; o juiz, ao considerar aqueles cidadãos integrados na sociedade, pode muito bem, estar a referir-se àquela outra parte de que todos ouvimos falar e com a qual não temos intimidade.

Mesmo com pouca legitimidade linguístico-literária, cá vão mais algumas considerações sobre o Acordo Ortográfico.

Na língua, nada é fixo mas fixado de tempos a tempos por uma questão prática de comunicação e, sabemos bem, que uma das coisas belas da comunicação, está precisamente no rompimento das regras.
Esta discussão do Acordo Ortográfico, que vai da estagnação ao progresso lento e concertado, leva-me a reflectir sobre o mal-estar dos defensores do “Não” em verem aprovado o actual Acordo, e, escrevo mal-estar e não mal estar, porque a ortografia desta palavra decorre de uma regra publicada em decreto-lei, portanto com o alcance jurídico, que permite aos defensores do “Não” exigir o seu cumprimento para um caso e em simultâneo o incumprimento para o outro, aliás, as palavras compostas com recurso ao hífen, são uma confusão e dão-nos alguns desgostos, chegando a ponto de as encontrarmos grafadas com e sem hífen em dicionários de referência. Correntemente, há quem use e quem não use o hífen, seja por erro, por ordem prática ou preferência dos que acham que as normas são convencionais e não mandam na Língua.

Um bom exemplo, para além das mutações populistas, são alguns escritores que, perante a capacidade expressiva de um hífen poder cumprir funções semânticas, literárias ou estilísticas, se estão nas tintas para o padrão de orientação geral e desenvolvem novas formas, que, a par de outras, principalmente de sintaxe -mais comum do que de ortografia, leva alguns defensores do “Não” a dizerem que é dos escritores a honra de fazer norma, o que, a meu ver, e a par dos falantes que somos todos -porque não se trata de falar, mas de escrever com correspondência à fala, empurram a língua devido à sua padronização para a norma e daí a necessidade de tocar a reunir de tempos a tempos. Ora, como para além da norma, há quem proponha a norma, posteriormente, dicionaristas, gramáticos e linguistas, decidem ser esta ou aquela grafia, esta ou aquela construção sintáctica. Daqui se pode inferir, que ninguém em particular faz a norma, aparecendo esta, feita por toda a comunidade de forma retrospectiva e pelo reconhecimento oficial de um uso generalizado, quando não é por necessidade semântica.
Temos assim, que a norma é necessária para não nos apoiar-mos em balbúrdias e evitarmos afastamentos extremos que dificultariam a comunicação e, da mesma forma e pelos mesmos motivos, esta deve acompanhar os tempos.

A norma que nos regula data de 1945, e, também por isso, muitos defensores do “Não”, não são contrários a acordos ortográficos, sabem que a língua é como um organismo vivo que vai perdendo umas células, os arcaísmos por exemplo, e ganhando outras como os neologismos, são sim contra este Acordo, pela simples razão de o pensarem de forma diferente e independente de dizerem ‘stande’ ou escreverem ‘fevras’, outros, preferem a prosa redonda da integridade da Língua e divagações sobre soberania, outros preferiam uma poda como a de décadas atrás quando se limparam umas quantas palavras e outros ainda, acusam o Acordo de pertença do eixo Lisboa-Coimbra. Todos estes argumentos correm em paralelo e não importa que uns tentem falar mais alto que outros, o problema é que, os acordos não são ciências exactas, fazem-se pela urgência de resolver problemas de desfasamento correndo sempre o risco de provocar reacções contrárias, mas isso será sempre assim e esta discussão dura há 20 anos. É tempo, portanto, de aplicarmos este acordo por forma a controlarmos a dispersão que já se verifica (erva e desumano sem a consoante muda ‘h’, por ex. que estão consagradas no uso faz anos sem ter sido levada em conta a etimologia) e daqui a algum tempo recomeçar de novo.

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O MIL: Movimento Internacional Lusófono, decidiu promover uma Petição à Assembleia da República, em prol de uma mais rápida implementação do Acordo Ortográfico. A Petição, está aqui: http://www.gopetition.com/online/17740.html, se concorda, pedimos-lhe que a subscreva e também que a publicite.

Nota de apresentação: O MIL: MOVIMENTO INTERNACIONAL LUSÓFONO , é um movimento cultural e cívico recentemente criado, em associação com a NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI, projecto que conta já com cerca de meio milhar de adesões, de todos os países lusófonos.

O Ciclo Menstrual da Noite


A poeta, Alice Macedo Campos, do incontornável Blog “Acta Para Violino”, lança no próximo dia 10, pelas 16 horas, no Auditório da Casa Museu Abel Salazar, em São Mamede de Infesta ao Porto, o seu primeiro livro de poesia.
A Alice, é uma poeta que faz tempo me habituei a ler no seu blogue, onde, encontrei, uma escrita extremamente forte, de excelente qualidade, com imagens e palavras de refinado metaforismo, únicas.

Mas, melhor do que alguma vez eu diria, ouçamos o que Isabel Mendes Ferreira, diz sobre a autora de “o ciclo menstrual da noite”:

como uma vertigem. antiga. de um eros incorrupto. como toda a pele de um texto invariavelmente emocional ou como um texto arrepiado de esquemas rítmicos ao sabor da pele. assim a poética de Alice ao espelho dos sentimentos. Nada a detém. nada sobra. nada a desnorteia em cima das metáforas cruelmente femininas no que de mais loba a mulher tem e é. Uma escrita de sangue e carne e leite e seios e picos e renúncia e entrega e vibráteis gritos que diria virem de dentro da noite. irregular destino de quem se atira assim para uma espécie de poço cintilante. sem limites. um pathos quase criptogâmico. um parto oculto que desvenda o rigoroso carpelo de um discurso aparentemente de renúncia.
é uma mulher. claro. quem assim majestosamente se veste de nudez. muitas vezes quase numa iteração obsessiva.tumescentes as palavras ganham asas.passam a borboletas.
escamam os conceitos tidos como só do irreal. aproximam-se do fogo. querem-se de alimento generoso e generosamente ficam a boiar. como gritos. pessoalíssimas teias que anunciam o enorme voo de Alice.Campos. fora.dos.espelhos.regulares.dentro.de.um.prognóstico.amadurecido. Este livro de anunciação chega como voragem. e fica como Certeza

Reviver e pensar o Maio de 68, 40 anos depois


Será que resta alguma coisa, do tempo dos que se revoltaram contra o stato quo do poder estabelecido?

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Como nota e tentando sacar metade do ridículo a um post que pouco diz, uma cândida curiosidade que pode parecer uma piadola sem graça.

Começa a fervilhar uma polémica, de pouca arte diga-se, entre ingleses e espanhóis, que remonta a 1968. Tem a ver com um documentário da Jornalista, Montse Fernández, sobre o impacto que o Maio de 68 teve em Espanha e que será exibido na próxima sexta-feira, no canal, La Sexta.
Em Inglaterra, e sem aquelas entrelinhas que até apertam o coração, com base numa curta declaração de José María Iñigo, que ao tempo era apresentador da TVE, e afirma no tal documentário que, à Espanha, “interessava muito vencer o Festival da Eurovisão para ter algum nome” e que, sob ordens de Franco, responsáveis da TVE e de editoras espanholas, teriam viajado pela Europa com o fito de comprometer o voto dos responsáveis, prometendo-lhes a compra de séries e edição de discos de vários cantores, que nunca viriam a ser emitidos ou distribuídos, quando, os ingleses, nesse ano depositavam grandes esperanças no Cliff Richard e na canção Congratulations para vencer o festival. O Guardian e o The Sun, dando mostras de uma inexcedível sede de polémica e reagindo à chincada da respectiva horta, já se levantam em acusações a Franco e aos espanhóis, por terem comprado a vitória da cantora Massiel, nomeando, o The Sun, directamente o alvo e sem grande refinamento técnico, dizendo que, o “líder fascista espanhol, General Franco, amanhou o voto”.

Embora este fait-diver seja lamentável é, de certo modo, divertido, porque se pressupõe que para os espanhóis, nada disto é imoral, quando muito, um pequeno incómodo. É por estas e outras (bem piores, bem piores, bem piores) que o povo português é sábio no dizer: “De Espanha, nem bons ventos nem bons casamentos”. E nós sabemos do que falamos. Generalizo, claro, conheço espanhóis, que nada têem de espanhóis.


Bem, vou continuar o que estava a fazer. Estou a ler como é que o Péricles conseguiu manter-se tanto tempo no poder, e, por causa disso, já ontem não vi a apresentação da candidatura do Sr. doutor Pedro Santana Lopes, à liderança do PPD/PSD e, talvez por isso, gostei muito.

Goor - A Crónica de Feaglar II.

Desafiava-me o Pedro Ventura, aqui a atrasado no blog “Correio do Fantástico”, que definisse o que era afinal a literatura Fantástica. Depois de algumas considerações de género, dando os exemplos de Drácula de Bram Stoker, Frankenstein de Mary Shelley, os neofantásticos Kafka, Borges e Cortázar, os clássicos Maupassant, Hoffmann, Poe e Gogol, respondi-lhe, que era toda a literatura construída através de sistemas simbólicos, ambíguos e estéticos, com intencional transgressão dos preceitos racionais vigentes, equacionando os domínios do natural e do sobrenatural, do estranho e do maravilhoso, do tempo cronológico e do tempo subjectivo, que tentava contornar o incontornável real.
Posto isto, e porque no mesmo tempo lia o seu segundo livro a solo, (é co-autor com Teresa Branco, do “Astrologia, o Trabalho e o seu Destino”, da Livros Novalis), permitam-me os amabilíssimos leitores deste post, que diga antes de mais: O romance/aventura de Pedro Ventura, Goor - A Crónica de Feaglar II, da Papiro Editora, que podem encomendar aqui, é arte épica da Literatura Fantástica em todo o seu esplendor e, exemplo, de como em Portugal já se escreve a sério neste género literário.

Quando li o Goor - A Crónica de Feaglar I (Goor I), de forma prudente, tive oportunidade de me pronunciar aqui, quanto ao processo narratológico, planificação e caracterização das personagens de um épico romance/aventura, sem os habituais dragões e elfos que povoam a memória colectiva, mas com a conceptualização do fantástico de uma cultura laica e racionalista. Agora, no Goor - A Crónica de Feaglar II (Goor II), e embora não o aconselhe, pode ser lido sem passar pelo Goor I, o Pedro, volta a surpreender, conseguindo a façanha de escrever uma segunda parte, melhor que a primeira. Coisa, diga-se, não é habitual.

Os Goor, I e II, giram à volta de uma demanda. Os seus personagens, esteticamente humanos com roupagem do lugar e do tempo, são instâncias metafóricas densamente significantes, com fraquezas e erros de qualquer um, e vão-nos envolvendo no entrelaçado de histórias bem imaginadas pela criatividade do Pedro, que, chega a ser poética e não raras vezes filosófica, sublinhando a ideia de uma intencionalidade da consciência que emerge de um passado, mas não fica no passado.
Logo nas primeiras páginas, sentimos que o escritor cresceu com as personagens. A elaboração dos diálogos e a narração, deram o salto para a mensagem da dimensão da alma humana que é singular a cada um de nós: não perde de vista a condição de sermos seres como os outros e que a felicidade (estética) depende do máximo de felicidade (ética), levando-nos a um mundo em que nada é absoluto ou imutável, que é por excelência o mundo dos humanos, gente de sentimentos variados que podem hoje ser bons e amanhã o contrário, na medida em que, significa, o ser melhor num cosmos (mãe natureza) comum, e o abraçar as singularidades para promover o ideal imaginado, com motivações e angústias que vão sendo desvendadas com novas, surpreendentes e bem medidas revelações, terminando no encontro da paz interior quando, Feaglar, sobe a falésia e dança com o vento.

Dos vários e “ricos” personagens, cativam-nos, principalmente, a cintilante guerreira aurabrana, Calédra, uma encantadora e fantástica mulher que imagino de beleza imoral, imanente a ela mesma e transcendente das demais que, com Feaglar, o rei do reino Dhorian, é a ordem da autenticidade e suporte de toda esta trama.

Uma coisa é certa, quando acabamos de ler, Goor - A Crónica de Feaglar II, fica-nos a mágoa de não o continuarmos a ler.

Combustíveis e preços nebulosos

O paralelismo do preço dos combustíveis em Portugal, ultrapassa tudo o que se disse aqui a atrasado. Este cartelismo, sugeneris, que bem investigadinho nos EU podia dar 30 anitos de reclusão à canalha: a GALP, detentora de 40 por cento dos postos de abastecimento nacionais, por culpa da modorra que tomou conta de Portugal, aumenta o preço e os outros vão atrás, mandando às malvas a tão esperada e anunciada liberalização que, nunca passou do papel e deu o resultado que agora está à vista: só este ano, a ocorrência de catorze subidas do preço dos combustíveis.
Sua Excelência, o ministro da economia, num dia em que toda a imprensa barafustou sobre as razões destes aumentos, a reboque do já anunciado pela Autoridade da Concorrência, veio reforçar a urgência da análise na formação do preço de combustíveis em Portugal, de forma a garantir que o preço traduza adequadamente os custos da produção. Coisa, diga-se sem qualquer maleficência, a Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis, exige há algum tempo, e que, parece, passou leve, levemente como a neve do Augusto Gil.
Bem… tudo isto são pontos de vista a partir de opiniões e cada um forma a sua, segundo o ponto de vista mais imediato. Daí os “conflitos” de interpretação com que “temos” de viver.