Esta coisa do contraditório tem que se lhe diga e a democracia também

Pois é meu caro doutor Pedro Santa Lopes, o contraditório é uma coisa muito bonita e há até quem diga, veja só, que faz tanto pela verdade como uma garoupa com um fiozinho de azeite biológico faz pelo estômago e, meu caro doutor, eu sou um defensor do contraditório como o doutor em tempos quis fazer parecer que era com as consequências sobejamente conhecidas e que o professor Marcelo Rebelo de Sousa tão depressa não esquecerá.
Vou por isso e sem mais delongas, ao caso que motiva este diferendo:

O meu caro doutor, tem um blog com caixa de comentários e tudo, e, embora os comentários fiquem sujeitos a aprovação, atitude compreensível em alguém que suscita ódio e admiração em proporções que não pretendo adivinhar nem me interessa, espera-se que esse filtro sirva para evitar canalhices (digamo-lo assim para não alongar a conversa), e não censurar quem só usa do tal e tão apregoado direito que em tempos fez parecer ser-lhe caro e que, de certa forma, define o debatedor honesto. Podia o doutor não ter blog, e tendo-o, podia não ter caixa de comentários que estava no seu pleno direito. Agora meu caro doutor, com a responsabilidade que lhe advém de tudo o que já disse publicamente e (ironia das ironias) defendeu, ter a dita caixa e censurar quem não o festeja é que já não se faz e é um insulto que para já e por consideração a quem me lê, não adjectivo.

Após o congresso, o doutor Pedro Santana Lopes no post encimado pelo titulo "Congresso-I", lastima-se qual estrela mediática pelas “constantes, permanentes, solicitações dos jornalistas” a quem pede “para não entrarem comigo na sala, para não ser dado aquele” espectáculo “”, partindo depois para uma análise sucinta, muito sucinta aliás, do desempenho do doutor Luís Filipe Menezes no congresso e termina com um elogio à coerência, coisa que sinceramente aprecio.

Eu andava a estranhar que, as caixas de comentários do seu blog só reflectissem a opinião de quem lhe passava a mão pelo lombo, ou no mínimo lhe mostrava simpatia. Não encontrava o mais pequeno vestígio de acne e muito menos de opinião contraditória, tudo muito limpo, perfeito, arrumadinho e aplaudido como convém e isso, no blog de alguém tão controverso, dava até que pensar a quem não possuísse lógica dedutiva, assim, nada como a prova e, sem preocupação de estilo num momento insano, comentei o tal post dizendo-lhe que, o que se lhe exigia, não era que falasse no congresso, era que soubesse se ia falar ou não, mínimo exigível para quem pensa liderar a bancada do maior partido da oposição, e terminava com ironia dizendo-lhe que devido a tanto segredar com o doutor Filipe Menezes durante o discurso da doutora Manuela Ferreira Leite, ficava ligado ao impulso que provocou a primeira derrota do líder, rematando com uma referência ao gasto de créditos que havia acumulado com a sua “expontânea” saída da SIC. Tudo isto, dito de forma educada como é hábito dos que tomaram muito chá em pequenos.

Não para meu espanto, mas confirmando o que doentiamente esperava, lá veio a sarrafada ligando o exercício do poder à ideia de indignidade que dá razão aos seus detractores; o comentário, com nefanda liberdade não foi aprovado, ou seja; discordar da sua opinião, não é simples matéria de divergência intelectual mas um pecado intolerável que deve ser proibido, e o grave de tudo isto é a imoralidade de procedimento que alimenta a mentira que daí advém e que em nada o prestigia quando, aparentemente neste exame substantivo se constata que, pretende fazer crer com esta atitude de autoridade judicial, gozar do apreço e simpatia para com tudo o que escreve, atitude que na opinião deste humilde e simples cidadão é, senão politicamente, socialmente reprovável e imbecil porque, enferma de legitimidade, provoca percepções erróneas da realidade e interpretações falseadas.

Termino na inteira liberdade de consciência das pessoas normais, com as suas tão queridas palavras: “as acções ficam para quem as pratica”.

Referendo e futebol (se faz favor)

A dona Idalina e o senhor Fausto*, meus vizinhos, que votam no mesmo partido desde que podem, e porque sim, porque sempre votaram e não é agora que vão mudar, são pessoas de brandos costumes para quem só o presente pontual existe. Para eles, tudo o que é diferente é uma ameaça e em política o conteúdo da sua opinião é a do partido.
Esta leviandade conformista onde a falta de originalidade há muito assentou arraiais é perigosa, e, pela constatação do facto, seria licito considerar um erro que, em questões demasiado complexas, os meus vizinhos (com o devido respeito pelos seus cabelos brancos e sem querer ser insultuoso) que não sabem o nome dos 27 países da união europeia nem tão pouco que são 27, tenham uma palavra decisória em questões onde, a complexidade técnica de certas decisões aponta no caminho da democracia representativa em sua substituição, mas não considero.

A mourama dos partidos dominantes com intenção de não referendar já se perfila, enquanto do outro lado, se desfralda o referendo como bandeira da democracia, estes são os mesmos que não foram chamados a pronunciar-se sobre a livre circulação de pessoas e bens, sobre um governo, um parlamento e uma moeda comuns e, para estes, da mesma forma que a Constituição Europeia era um alvo a abater, o Tratado de Lisboa segue o mesmo caminho com todas as suas 250 páginas negociadas sem referendos.

Confesso relutância em ser favorável ao referendo do tratado de Lisboa porque, devia ser neste caso como em outros de igual complexidade, a favor do funcionamento da democracia representativa por duas razões principais: Quantos portugueses estarão preparados para referendar o tratado? Talvez mil a mil e quinhentos saibam o que está realmente em causa e com razoável honestidade o possa fazer, já com conhecimento de todo o processo e portanto em condições de promover o debate de cidadania, o número não deve ser superior a uma ou duas centenas, logo, qualquer debate sobre questão tão complexa é, em primeiro lugar um absurdo, por se transformar rapidamente numa luta fulanizada e numa grande e pública confusão (para se discutir o tratado, tem de se discutir a Europa), depois, chamar o povo para uma prova de vinhos às cegas é, salvo melhor e fundamentada opinião, antidemocrático. O povo deve ser chamado para aquilo que minimamente entende, para questões de elevada complexidade técnica, existem as incumbências legislativas de exercício de mandato que os deputado têm e dos quais se deve esperar um razoável entendimento do que está em jogo.

Mas gaita… por mais paradoxal que possa parecer depois do que atrás escrevi, este assunto consegue espremer-me algumas considerações mesmo não querendo contribuir com material para a divina comédia nacional, nem sabendo expressar-me melhor e mais curto, é que, estou inconformado com esta coisa estranha e de singular arrojo, de trocarmos decisões por unanimidade onde, os votos dos portugueses eleitos conta mesmo não tendo primos encorpados para o debate de alternativas e esforço de consenso, por votações de maioria qualificada de um Conselho de engenharia política que não é eleito pelo voto do povo, e que, na prática, esta alteração prenhe de imoralidade de procedimentos (países pequenos nem sempre terão comissários) minará os alicerces da convivência política e partirá o clube dos 27 em dois, o dos países ganhadores e o dos países perdedores que, barrados, terão de dar satisfações aos seus eleitores, e mais, mesmo sem estilo o digo; estou convicto que, na primeira decisão que for tomada contra e ao arrepio dos verdadeiros artistas na manipulação da lógica (Reino Unido, França e Alemanha), estes não a aceitarão e vários cenários se poderão então concretizar (escusam de acenar com condutas antidesportivas, porque aqui não se devolve a bola ao adversário nem se fazem chás dançantes), bico-de-obra que só se resolverá no dia em que as eleições nacionais forem substituídas por eleições europeias, até lá, quero que Portugal continue a ter a possibilidade de o seu voto contar para alguma coisa que, não faça deste país, um mero, pequeno e insignificante número, governado por Sir Humphreys.

Chegados aqui sem que eu tenha adjectivado a meia dúzia de palavrões que me acompanhou na escrita do post, perguntarão; onde é que o futebol entra nisto tudo? Não entra, mas embora alguns teimem em dizer e provavelmente acreditar que o futebol é um desporto alienante, talvez até profano quando um quinto dos portugueses vive com menos de 360 euros por mês, eu não concordo. Nestas condições, o futebol é antes de mais um antidepressivo.

Viva o futebol!

* Nomes fictícios.

Mais correio

O poder da vírgula

“Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro à sua procura”.

Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de mulher.
Se for homem, certamente a colocou depois de tem.

No correio

"Casamento é um relacionamento a dois, no qual uma das pessoas está sempre certa e a outra é o marido."


Nota: É óbvio que, o gajo que escreveu isto conhece a minha mulher.

A circunstancia que leva alguém a escrever um post como este, é passar-se dos carretos.

Na zona dos chapéus de sol, enquanto sem razão e sentido, a música ambiente, por entre o vozear dos crescidos e os gritos das crianças se fazia ouvir, mastigava eu uma munique da Pans que súbita fome tinha requisitado.
Reparei então que, numa das mesas e com inexplicável tranquilidade, um casal absorvia os ensinamentos de uns livrecos técnicos, não sendo minimamente afectados com a psicose grupal daquela seitinha de adolescentes numa das mesas próximas. Numa outra, com expressão apreensiva liam-se os jornais, enquanto, por detrás, um casal de namorados desafiando uma inexistente timidez, incorria em pecado socialmente intolerável das duas que já tinham sido novas e os olhavam com ar policial e tribunalício e, mais afastada, na zona que não tinha direito a chapéus de sol e onde a intensidade dos raios solares era idêntica, uma mulher, conectada, imperturbável com o obsessivo choro dos gémeos e a audível autoridade da mãe em reparos de matéria de divergência social, aparentemente trabalhava no seu Toshiba.
Embora não estivéssemos ameaçados pelos cabos de alta tensão da REN, ou pelo Al-Zawahiri que faz os franceses retirar da Argélia, e o perigo imediato pudesse vir de uma tenda próxima onde decorriam eliminatórias de um campeonato nacional de Sudoku, fugimos deste quadro psicótico, desconexo e do domínio do imaginário que, só não é estranho, deslocado da expectativa e acompanhando de grandes doses de incompreensão, porque acontece num Centro Comercial, onde a obstinação, vencendo a percepção da realidade, me levou nesta tarde de domingo.
Azar o meu, eu sei.

Acabaram as conversas com a minha dentista


- A partir de agora só falo com estes três dedos. Este diz sim, este diz não e este diz que, ou pára de falar ou me tira a parafernália toda da boca. Decorou?
- Decorei.

Bolas… cansei-me da figura patética e ridícula de ter de lhe responder com o aspirador e outros instrumentos de tortura enfiados na boca e mandei à fava o tratado dos deveres, porque, há dias, que para colher o fruto há que derrubar a arvore. É que, a conversa tinha rumado para o casamento (não me lembro porquê, mas a culpa, embora simples, é certamente das cerejas). Dizia ela, que o casamento era só um papel e acrescentava sentença decidida no tribunal da sua imaginação: é assim e basta, é assim porque é melhor. E eu, devido à total inviabilidade de disputar no terreno racional tamanha ligeireza, nem lhe podia perguntar do que tinha ela medo; se de casar ou de se divorciar.

Os livros e a necessária divulgação



E cá está o lançamento de “Goor – A Crónica de Feaglar II” do Pedro Ventura e é com exuberância que, faço o favor de informar aquelas três pessoas que passam por aqui, o seu lançamento no próximo sábado dia 13, pelas 15:30hs na Livraria Pretexto em Viseu.
…soube também, que este complemento da epopeia terá um apresentador convidado; o Nuno Loureiro; um “outsider” que é um amigo comum e que, se espera, devido ao rigor de análise e á exclusividade do fenómeno, venha num futuro muito próximo a ofuscar (aniquilar, para já, seria pedir muito) o professor Marcelo.

Sobre a primeira parte desta aventura, “Goor – A Crónica de Feaglar I”, falei na altura aqui, porque, por alguma razão obscura me agradou e retive imagens, coisa que nunca me aconteceu com as obras de Saramago. Agora, e já tendo o segundo volume com excelente dedicatória do autor, sorte a minha, eu sei, dou a palavra a quem tem o correcto entendimento da coisa, aproveitando de caminho para informar a internacionalização do Pedro Ventura.

Encontrarão na apreciação de Maria Comesaña, uma galega especialista em literatura portuguesa que, como eu, não é perfeita e não é uma leitora habitual do género fantástico e, por isso, que acaba por ser uma vantagem ao não transportar os vícios do género, que é como quem diz; coisas de arrogância e sobranceria várias. Dizia eu antes de me perder por causa de querer separar o trigo daquela outra coisa que, encontrarão na sua apreciação, motivos vários que os disporão ao esforço, que também é cívico mas essencialmente criterioso, de adquirir esta obra de escrita fantástica.

Diz Maria Comesaña sobre este segundo volume, a que atribuiu quatro estrelas num máximo de cinco:

“Por fin chegou ás nosas mans a segunda parte da Crónica de Feaglar. E se me pedides que vola resuma nunha frase, direi-vos que concordo que as segundas partes non son boas, neste caso, son mellores!”
Continuar a ler.

Com duas rajadas se matou o homem e criou o mártir.

No 40º aniversário da execução sumária de Che Guevara, remando contra a maré que incomodada com a sua memória tenta desmontar o mito, recordo:
Quando o sargento Mario Terán no dia 9 de Outubro de 1967, baixou a cabeça fugindo ao olhar daquele cuja morte lhe fora encomendada por Felix Rodrigues, um operacional cubano que trabalhava para a CIA, e se conteve para não vomitar, foi a voz de Che que o chamou à realidade: “Acalme-se e faça bem a pontaria. Vai matar um homem!”


Tributo às palavras que escorrem quentes.

Há quem despreze bons momentos? Há. Mas quem o faz, merecendo respeito, não merece que se perca tempo a falar do assunto, é coisa lá dessas pessoas que, estando, não estão, de facto, não indo preguiçosamente além da emoção ligeira. (Ponto final, para que não pareça que estou a querer ser profundo).
Por isso, porque posso, mas principalmente por aquilo que, com sentido gosto, chamo a vossa atenção; não percam este post inteligente com o sugestivo titulo “Púbis rosado” e, principalmente, não simulem, escutem o complemento de forma admiravelmente clara em mp3 que, se revelará, quiçá por alguma razão aparentemente obscura, um delicioso, inteligente e equilibrado prato principal, onde a grosseria e a ignorância não são acompanhamentos.