Férias



Agora que o grande caçador voltou e o País está entregue, posso ir de férias.
Até ao próximo dia 6, e já agora, sintam a minha falta.

Álvaro de Campos


Não sei se já vos aconteceu, mas de cada vez que leio este poema de Álvaro de Campos, na realidade não o leio, limito-me a passar os olhos sobre as linhas e a ouvir as palavras do saudoso João Villaret, um dos maiores talentos portugueses, que soube interpretar a alma e a transcendência que o poeta imprime nos seus poemas.
A primeira vez que o ouvi, foi pela sua boca, e talvez pela forma excepcional e avassaladora como o interpretava, recordo-o até hoje.


Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:

É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável ás normas da vida,
Ás normas reais ou sentimentais da vida –
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas,
E se revoltam contra a vida social porque têm razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-me com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se há uma razão exterior para ela?

Sim ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter de pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo mais é ter fome ou não ter que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco, àquele
Pobre que não era pobre, que tinha olhos tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!

Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!
Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais,
Não tenho, mesmo defesa nenhuma, sou lúcido;

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido.

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Horário da Barbearia



Os meus agradecimentos à Ana B. pela foto.

Retirada de Gaza

Foto - HAARETZ.COM
Aí estão os problemas previsíveis na retirada de Gaza, os confrontos entre o exército e os extremistas Judeus começou, o que me remete para o excelente artigo que o jornal público trazia este domingo, assim como à entrevista que a revista Pública fez a Uri Avnery (UA), escritor e activista, fundador do Israel council for Israeli-Palestinian peace e também do Gush Shalom (Bloco para a Paz), com o título: “Sharon quer anexar mais de metade da Cisjordânia


E, a referência que quero aqui deixar, é à jornalista Alexandra Lucas Coelho (ALC) da Pública, que, denotando profundo conhecimento dos problemas Israelitas e também do grande político e estratega que é Sharon, não quis perder a oportunidade de ter à sua frente alguém que conhece Sharon vai para 40 anos e que sempre se posicionou na ala esquerda israelita, para formular a pergunta que se impunha:

“Sharon é o pai dos colonatos. Agora aparece como promotor inquebrável da retirada de Gaza. Com que objectivo? Poderá usar os protestos para mostrar que, se há tanto barulho em Gaza, onde vivem pouco mais de oito mil colonos, será impossível retirar da Cisjordânia, onde estão mais de 200 mil colonos – sem contar com os de Jerusalém Oriental. Ou seja, a retirada de Gaza pode significar o fim da possibilidade de acabar com a ocupação na Cisjordânia?”

Percebemos então pela resposta de UA, que a esquerda Israelita não tem nenhum plano, estão para já dependentes das acções de Sharon, que é um politico muito consistente de longe o mais consistente de Israel e que sabe o que quer.

Termina UA dizendo que em cada revolução, o factor dominante é: onde está o exército? E neste momento o exército está do nosso lado.
Ao que ALC replica: - Do lado de Sharon.
E, UA remata: - Que é o nosso agora. O exército está a remover colonos. Isso é o mais importante agora.

Benfica e Sporting

O post que segue, com o sugestivo titulo “Benfica e Sporting”, é um gentil empréstimo do Sr. Bom Selvagem, dono e gerente da estimada casa A Tasca da Cultura, que ficando aqui mesmo ao lado, estará num ápice acessível se V. Exas. leitores deste blog se disponibilizarem a clicar aqui. (aqui mesmo)

A transcrição do post foi feita na íntegra, pelo que, lavo as minhas mãos de qualquer tipo de responsabilidade que porventura me queiram imputar.
Este blog, assume sim, a defesa da causa do humor, em nome da necessidade intrínseca que este povo do fado, tem de se rir de si próprio nos intervalos das excelentes medidas governamentais, com que todos os dias somos bafejados.

Sem mais delongas, que o post vem já a seguir, faço votos que se riam com o mesmo gosto que eu ri.


Benfica e Sporting


Há dias, no Metro, vi um senhor com paralisia cerebral a coxear pelo cais fora, com a boca aberta e os olhos tortos, a mão suspensa junto ao peito e com um boné e uma t-shirt vermelha do benfica, que dizia "Ser do Benfica é ser Diferente!". Pois é, o mau marketing é característico de um clube do povo como o Benfica.

O Sporting tem classe, tem cartazes que dizem "o regresso dos indomáveis" ao melhor estilo de hollywood e provavelmente alusivo às diculdades de Peseiro em controlar o balneário da equipa. O Benfica tem o Media Market e o Fernando Mendes.

O sporting tem a Game Box. O Benfica o Kit Novo Sócio.

A claque do Sporting chama-se Juve Leo, em latim erudito. A do Benfica chama-se NoNameBoys, o que é verdade, visto que a maior parte são ilegais ou marginais sem documentos. O único latim erudito que o Benfica tem está no logo (uma roda de bina com uma águia e muitas mais coisas) e num perfume que se chama "Unum"...

O Sporting tem presidentes com curriculum, o Benfica tem presidentes com cadastro.

O estádio do Sporting é uma obra do pós-modernismo, uma obra de autor. O do Benfica é uma uma 'cesta' vermelha grande que baste para acomodar o numeroso povão.

O ídolo do Sporting chama-se Sá Pinto. O do Benfica chama-se Mantorras. Os adeptos do Sporting pronunciam esMãn-tora logo seguido de uma gargalhadinha amarga. Os Benfiquistas pronunciam "VaiMantooooôrrasVAIVAI!VAICARALHO!AHhhFOda-se".

Os cânticos do Sporting são coisas em francês, cheias de allez, como "Todo o estádio a cantar, todo estádio a dançar, lá lá lá lá lá allez Sporting allez, allez Sporting Allez, só eu sei, porque não fico em casa..." Os do Benfica são "S.L.Bêeee. S.L.Bêeee S.L.B. S.L.B. S.L.B. Golrioso S.L.Bêee Glorioooso SLBêee" ou então "BENFICA *tum tum tumtum* BENFICA *tum tum tum Tum* BENFICA"

Enfim, é por estas e por outras que sou do Benfica.
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Assinado: O Senhor Bom Selvagem.

Sócrates de regresso



O primeiro-ministro de Portugal regressa hoje de férias, e ao que parece antecipou o regresso em 1 dia, já que era para regressar no dia 17 a tempo de presidir o Conselho de Ministros de dia 18.

Resta-nos agradecer ao Sr. primeiro-ministro, a preocupação com os problemas da Nação, que o fizeram perder um dia de férias, já que o safari que tanta tinta gastou em Portugal, tinha sido uma promessa que fez aos filhos ainda antes de ser primeiro-ministro.

Compreendemos que as promessas feitas aos filhos são para cumprir, esperamos que tenha feito boas fotografias e que a observação à fauna local tenha sido profícua, nós por cá também tivemos muito que fotografar, mas infelizmente o motivo das fotografias deu-nos cabo da fauna e da vida de muitos portugueses, não foi portanto nenhum safari como o que V. Exa fez em Ngorongoro na Tanzânia.

Esperamos que V.Exa. depois deste merecido período de descanso, venha com energias redobradas para fazer frente aos problemas do País.

Em relação aos fogos, hoje só já tínhamos 12 por controlar em 6 distritos, nada de preocupante, portanto.

A propósito de Algarve...

Após um fim-de-semana prolongado e de regresso ao aconchego do lar, apetece-me partilhar convosco, mais uma pequena história do António Alçada Baptista, que é mais uma entre muitas.

Estás gordito…

O Jorge Amado passeava uma vez com a família no Algarve. Como é habitual nele, estava de camisa florida, calções curtos, chapéu de palha e bengala: o próprio americano de férias.
Um homem que estava a vender figos secos, alfarroba e outras coisas desse género, pegou um figo seco e ofereceu-lho dizendo:
- Good, good…
O Jorge pegou no figo e, enquanto o comia, dizia para o vendedor:
- Good, good…
O vendedor disse entredentes:
- Estás gordito, filho da puta…
Uma gargalhada do Jorge Amado e da família que o acompanhava deixou o pobre vendedor envergonhado a dizer:
- Ai que são brasileiros!...
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A pesca à linha – Algumas memórias, da Editorial Presença p. 234

Hoje não há post!


Hoje é Sábado! Sem duvida um mau dia para os blogger´s, ainda tentei que o Sr. Bom Selvagem, me empresta-se um post hilariante que ele publicou ontem, mas como não me respondeu, vou ter de dar à unha, porque quando temos um teclado à frente, a obrigação para com o nosso pequeno número de leitores, obriga-nos a postar alguma coisa de significativo interesse. Por isso, há que pensar no que escrever e quando nada surge, recorremos aos últimos jornais e revistas na procura de ideias que nos façam sair do marasmo em que nos encontramos, e os temas começam de imediato a surgir.

O título já está, vai mesmo ser actualidade nacional, agora, resta encontrar algum tema significativo e que esteja na ordem do dia, como por exemplo os incêndios:

Não, sobre incêndios não vou escrever, porque já escrevi e agora sempre que penso no tema, começo logo a pensar no ministro Costa, que disse ter falado 2 ou mais vezes com o primeiro-ministro e depois de questionado, ter-lhe recomendado que não seria necessário ele interromper o safari, por causa dos incêndios que varrem Portugal. Talvez porque o problema é mesmo os incêndios serem no verão, temos de os mudar para o inverno que as pessoas precisam de férias.

Mas que outro assunto merecerá então a atenção de quem me lê? Poderia, isso sim, falar do outsourcing, que a Câmara Municipal de Lisboa decidiu contratar para a manutenção dos espaços verdes na Av. da Liberdade, pela módica quantia de €300.000 anuais, manutenção essa que era feita por funcionários municipais, mas começo a pensar que se a tal empresa fosse minha, seria um excelente negócio, para mim, pois então, mas como não estou em poder de todos os dados, prefiro não avançar por aí, e volto-me para as declarações que o Carrilho fez em relação à candidatura do Soares, mas logo a seguir ele desmente, ficando nós sem saber o que realmente ele pensa sobre o assunto, e a única coisa que me vem à ideia é que a campanha do Carrilho só é agradável quando a Bárbara aparece, agradável à vista, pois então, até apetece dizer como o Jorge Coelho: - Bárbara! Nós gostamos de ti.

Afinal, parece que não me apetece escrever sobre nada, mas tem de ser, folheio mais umas coisas e lá vêm as Presidenciais, mas sobre este tema também já escrevi, e agora sempre que penso no Soares só me vem à ideia que o “gajo” afinal, está mas é a dar argumentos para que este governo daqui a algum tempo, pense em mudar a idade da reforma dos 65 para os 80 anos!
Vamos mas é pensar noutro assunto, e aqui está, parece que as obras na A5 continuam, mas que, por seu lado e fazendo ouvidos moucos aos protestos dos utentes a Brisa continua a cobrar o mesmo nas portagens como se nada tivesse a ver com isso, e a conclusão é óbvia, neste mes de Agosto entra-se na A5 à vontadinha, mas ninguém sabe a que horas sai, mas escrever sobre a Brisa seria repetitivo, fi-lo ainda há pouco tempo e até poderiam pensar que tinha alguma coisa contra eles.

Continuo a procurar e dou de caras com uma pequena noticia, em que se diz, ter o Isaltino Morais dito, que era uma pessoa muito sensível. Éhéh, está explicada a razão do dinheiro na Suiça, provavelmente, algum empregado bancário que por cá o tratou mal, só pode ser, esta também não tem pernas para andar, e é então que se faz luz, numa notícia do dia 11, leio que o ministro Mário Lino, diz, que tudo o que se tem dito sobre a Ota, são falsidades, deturpações e demagogias, mas logo a seguir no Publico de dia 12, o jornal afirma que o governo tem um estudo inglês que defende a manutenção da Portela!? Nem sei o que dizer, parece que os demagogos e mentirosos como o Sr. Ministro lhes chamou, não são cegos, não é Sr. Ministro?! Decido não avançar para este tema, não gosto do fulano, sou contra a Ota e por isso só estaria aqui a dar comida à minha bílis, avancemos... Finalmente uma boa noticia, O Abramovich gripou o motor do barco, parece que quando foi abastecer à ilha de Malta, aquela “Malta” enganou-se no combustível e agora o homem tem de gastar no arranjo, nunca menos de 1,4 milhões de euros.
Éh pá, sobre isto também não, pois ficam logo a pensar que estou é com inveja do gajo e eu do gajo não tenho inveja absolutamente nenhuma, só gostava de ter o dinheiro dele, mais nada.

Então afinal do que vou eu falar?! O melhor é hoje não falar de nada e assunto encerrado, que hoje é Sábado.

A Imagem


Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
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Eugénio de Andrade


Sentença.

Texto na íntegra:

Sentença condenatória de Alagoas, Brasil, de 1833.

"O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant'Ana quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra que estava de tocaia em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará.

Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante.

Dizem as leises que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova.

CONSIDERO:

QUE o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ella e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;

QUE o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer; conxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzellas;

QUE Manoel Duda é um sujetio perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até nos homens.

CONDENO o cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE.
A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa.
Nomeio carrasco o carcereiro.
Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.

Manoel Fernandes dos Santos,
Juiz de Direito da Vila de Porto da Folha

(Sergipe), 15 de outubro de 1833.".

(Fonte: Instituto Histórico de Alagoas).

Os meus agradecimentos ao J. Bandeira, pelo documento.

Libertado terrorista da Al Qaeda.

A Marinha dos Estados Unidos, anunciou hoje ter libertado um terrorista de alto escalão da Al Qaeda, depois de interrogá-lo extensamente durante os 27 dias em que foi mantido prisioneiro a bordo de um porta-aviões norte-americano no Mar da Arábia.

Num gesto humanitário, o terrorista, no final do interrogatório, recebeu $50 dólares e um Ford Fairlane branco de 1962.

A foto abaixo mostra o terrorista de volta para casa logo depois de ter sido libertado pela Marinha.




Os meus agradecimentos ao A. Rodrigues pela dica.

Liga dos Campeões: Sporting vs. Udinese



O Sporting, inicia hoje a temporada de exibições com que conta proporcionar a todos os adeptos do futebol, excelentes e espectaculares momentos.

Logo ás 21:15 disputará frente ao Udinese, quarto classificado na série A italiana, na época passada, a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões.
O espectáculo será transmitido pela RTP1, para que todo o mundo tenha o privilégio de assistir.

O Sporting não poderá contar devido a lesão, com os contributos de Carlos Martins e Luís Loureiro, assim como, e pelos mesmos motivos a Udinese não contará com David Di Michele e Giampiero Pinzi.

A indústria dos incêndios

Publicação: 04-08-2005 21:05

A evidência salta aos olhos: o país está a arder porque alguém quer que ele arda. Ou melhor, porque muita gente quer que ele arda. Há uma verdadeira indústria dos incêndios em Portugal. Há muita gente a beneficiar, directa ou indirectamente, da terra queimada.




Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas.

Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:

1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?

Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?

Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?

Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?

Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?

2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...

3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.

4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.

5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.

Há cerca de um ano e meio, o então ministro da Agricultura quis fazer um acordo com as direcções das três televisões generalistas em Portugal, no sentido de ser evitada a transmissão de muitas imagens de incêndios durante o Verão. O argumento era que, quanto mais fogo viam no ecrã, mais os incendiários se sentiam motivados a praticar o crime...

Participei nessa reunião. Claro que o acordo não foi aceite, mas pessoalmente senti-me indignado. Como era possível que houvesse tantos cidadãos deste país a perder o rendimento da floresta - e até as habitações - e o poder político estivesse preocupado apenas com um aspecto perfeitamente marginal?

Estranhamente, voltamos a ser confrontados com sugestões de responsáveis da administração pública no sentido de se evitar a exibição de imagens de todos os incêndios que assolam o país.

Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime.

Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:

1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.

2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).

3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores

4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.

5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.

6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.

Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.

José Gomes Ferreira
Sub-director de Informação
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A Praça do Marquês - Maio de 1926


Os meus agradecimentos ao A Rodrigues pelo envio da foto, que, por vir datada provocou o post que segue:
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A 28 de Maio de 1926, o general Gomes da Costa comanda a sublevação da 8ª divisão de Braga e faz chegar a todas as divisões uma proclamação de revolta que terminava com as seguintes palavras: “[…]venham ter comigo com as armas na mão, se quiserem comigo vencer ou morrer! Ás armas, Portugal! Portugal ás armas pela liberdade e pela honra da Nação! Ás armas Portugal!”. Gomes da Costa contava então com apoio em algumas unidades, ele é a cara e a chefia do movimento denominado como Junta Militar Revolucionária de Braga, sendo em Lisboa, o comandante Mendes Cabeçadas, o chefe do movimento.

A 29 de Maio, o Diário de Lisboa faz saber que tinha rebentado em Braga um movimento revolucionário e que não era só a 8ª Divisão de Braga, mas também que, as divisões de Tomar, Vila Real e Évora estavam revoltadas. O Diário de Noticias informa que a ordem pública foi alterada mas que em Lisboa e Porto o sossego é absoluto. Complementam os dois jornais as notícias, informando que já seguem para o Norte alguns contingentes de tropas.

A 30 de Maio o Diário de Noticias na sua primeira página e a toda a largura, noticiava que o Movimento Revolucionário tinha triunfado inteiramente em todo o País, que o General Gomes da Costa chegava essa tarde a Lisboa e que o comandante Mendes Cabeçadas, presidente do Ministério e Ministro da Marinha, assumia a gerência de outras pastas.

O governo de António Maria da Silva, demite-se por não ter apoio das unidades militares de Lisboa e o presidente da República, Bernardino Machado, resigna e entrega o poder ao comandante Mendes Cabeçadas.

A Seara Nova, no mesmo dia faz publicar uma nota oficiosa com as seguintes questões:

1.º Será uma ditadura militar, como aquela que parece ter preconizado o general Gomes da Costa, o sistema governativo que mais convém aos sentimentos liberais do povo português?

2.º Terão os indivíduos apontados para assumir a direcção do governo os requisitos indispensáveis para o bom desempenho desse papel? Isto é: terá o general Gomes da Costa – justiça feita ás suas qualidades de cabo de guerra – manifestado a suficiente ponderação para ser chefe de um governo excepcional e terá o comandante Cabeçadas – justiça feita à sua honorabilidade – aqueles requisitos indispensáveis e a possibilidade de se libertar firmemente de todas as influências de partido ou de facção?

Terminando com uma afirmação de princípios que dizia: "apoiar um governo excepcional e com liberdade de acção composto de competências, o qual tenha por objecto realizar as reformas essenciais, estabelecer a moralidade administrativa e fazer uma obra de educação cívica, mas também que reprovará um governo com tendência a firmar um regime antiliberal e o predomínio de classe e a não respeitar a liberdade de consciência sob todas as suas formas".

Factos – O país vivia um clima de revolução permanente, as greves eram constantes, só entre 1917 e 1925 tinham ocorrido 200, o custo de vida tinha atingido os 200%, a moeda tinha desvalorizado a um ritmo galopante e o País asfixiava.


Segundo o Anuário Estatístico de Portugal as receitas do País para o orçamento 1925-1926 eram de 1241 milhares de contos e as despesas de 1685 milhares de contos, levando a um saldo negativo de 444 milhares de contos.

De um saldo positivo no ano 1923-1924, de 9 milhares de contos, tínhamos passado ao estado actual das finanças.

Estavam portanto criadas as condições para a ditadura, esta, infelizmente viria a durar 48 anos.

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Discovery já aterrou

Foto - NASA TV
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Discovery landed safely at Edwards Air Force Base in the first shuttle re-entry since Columbia's tragic return.
Continue a ler aqui.

A Imagem


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Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
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Fernando Pessoa

Aqui vai uma mãozinha

Aqui está um editorial do DN, que não subscrevo de forma alguma.

Razão e coração

Invocar a amizade entre 'camaradas' na questão da recandidatura de Soares é aceitar que o coração se pode sobrepor à razão em questões políticas. E não pode. Ou não deve. Alguma esquerda resiste a perceber o óbvio.


PEDRO ROLO DUARTE

Parece que o DN, pela mão do Pedro Rolo Duarte, começou a dar uma ajuda ao Soares, começando por combater as vozes discordantes dentro do PS.
Aí vamos nós! ...cambada.

Hiroxima 60 anos


Faz hoje 60 anos que o Enola Gay largou a Litte Boy sobre o centro de Hiroxima.

Assim se chamava a bomba de urânio, de quatro toneladas e meia, equivalente a treze mil e quinhentas toneladas de TNT.

Eram precisamente oito e treze da manhã, quando o coronel Paul Tibbets (ainda vivo) comandante do bombardeiro norte-americano B-29, o famigerado Enola Gay ( nome da mãe do piloto Paul Tibbets), recebeu a ordem. As consequências são de todos conhecidas, Hiroxima ficou arrasada em poucos segundos, setenta por cento das construções foram varridas pela onda de choque, calcula-se que no primeiro instante terá feito cento e trinta mil mortos e oitenta mil feridos, sendo reconhecido hoje um total de duzentos e vinte e um mil e oitocentos e noventa e três mortos.
A bomba arrasou a cidade num raio de onze quilómetros quadrados, a temperatura chegou aos cinco milhões e meio de graus centígrados.

O presidente norte-americano, Harry S. Truman e o primeiro-ministro britânico Winston Churchil foram os congeminadores deste atentado macabro, que, não tendo ficado satisfeitos pois daí não adveio a rendição do imperador Hirohito, voltaram à carga três dias depois a 9 de Agosto em Nagasaki, desta vez com um outro bombardeiro B-29 baptizado de Grand Artist que levava no seu porão outra bomba ainda mais potente que a primeira, a que puseram o nome de Fat Man, eram precisamente onze horas e dois minutos quando a largaram.

O imperador Hirohito cedeu à evidência do massacre e assinou a rendição em Setembro.

Tudo começa com o presidente Roosevelt, quando em 1941 decide criar o projecto Manhattan, com um plano secreto para a construção de uma bomba atómica e chama Jullius Robert Oppenheimer (ficando conhecido como o pai da bomba) para coordenar o projecto em Los Alamos, no deserto do Novo México.
Truman haveria de convidá-lo mais tarde para desenvolver a bomba de Hidrogénio, que seria uma bomba ainda mais poderosa, mas este não aceitou e como retaliação seria acusado de traição, só lhe sendo retirada a acusação no mandato de Lyndon B. Johnson que o condecorou em 1963, morre em 1967 vítima de cancro, o mesmo mal com que ficaram duzentos e vinte mil japoneses em consequência dos bombardeamentos.

A bomba de Hiroxima deixa umas das lições mais importantes da humanidade: existe a possibilidade de sermos exterminados como espécie.


A rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
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Vinícius de Moraes

26 fogos em 12 distritos

Foto da Visão Online

A Brisa tem destas coisas, é sua responsabilidade terem piquetes para vigiarem as estradas e é também sua a responsabilidade da cobrança das portagens, além de outras que estamos habituados a não ver cumpridas, só que, e ao que parece só as portagens funcionam bem porque é aí que o Zé deixa o seu dinheirinho, senão vejamos:

Hoje na A1, no troço compreendido entre Condeixa e Leiria o fogo manifesta-se dos dois lados da estrada, com labaredas da altura dos postes, o trânsito quase parado e as pessoas dentro dos carros, diz quem lá esteve que estava tudo preto como se fosse noite e sentia o calor do fogo através dos vidros do carro, mas as portagens continuavam a funcionar sem ninguém mandar fechar aquela merda.

Faltou à Brisa colocar cartazes publicitários para que as pessoas soubessem que podiam assistir ao macabro espectáculo ao vivo em troca de umas moedas, assim, como nada estava anunciado, os automobilistas querendo ou não assistir, eram empurrados para o meio da acção, pela confiança que as portagens com o seu funcionamento normal transmitiam.

Mais tarde a policia parou o trânsito, mas em vez de o fazer nos acessos à A1, estava a fazê-lo depois das portagens o que criou congestionamentos perigosos.

O responsável da Protecção Civil diz que a situação é de emergência e o nosso Primeiro-Ministro continua a banhos.

E isto só pode ser um cartaz de Portugal no seu melhor.

A festa


Hoje, quando cheguei ao escritório fui surpreendido pela festa que os colegas tinham preparado, modesta como se constata pela foto, mas riquíssima em significado, com direito ao coro à capela da praxe, que me deixou sensibilizado e sem jeito.
Aqui fica um grande abraço para todos e também para os que pessoalmente ou por telefone não quiseram deixar de me cumprimentar neste dia.

Sporting vs. Sampdoria


Tivemos ontem o aperitivo da próxima quarta-feira, o Sporting jogando a primeira parte num 4x1x3x2 elástico, provocou vários momentos de perigo para as redes do Sampdoria e vimos então brilhar o Antonioli. Na segunda parte, Peseiro alterou o sistema para um 4x3x3 e aos 47 minutos Castellini rendido ao excelente cruzamento de Douala, resolveu dar uma ajuda introduzindo a bola na própria baliza, depois aos 56 o Sampdoria empatou por Borrielo, que tinha acabado de entrar e Liedson fixou o resultado aos 82 com a excelente marcação de uma grande penalidade.

Realce para a entrada quase no fim da partida, dos miúdos Varela e Nani, ou me engano muito, ou vamos ouvir falar neles por muitos anos.

Na próxima quarta-feira, lá estarei no meu lugar com o amigo Luís companheiro das grandes noites de futebol, para assistirmos ao início das hostilidades, os protagonistas são já do conhecimento geral e o jogo é de pré-eliminatória da Champions League.

Força Sporting! ...que o Udinese daqui só pode levar a derrota.

Heavymetal


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A Praça do Marquês

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Esta é a Praça do Marquês de Pombal por volta de 1930. O lago deve ser o da Estufa Fria.

Soares e Cavaco em Belém


Foto do Expresso online

Não me conformo com estas duas candidaturas, e que as hipóteses viáveis do votar-para-ganhar nas presidenciais se resumam a estes nomes, Mário Soares e Cavaco Silva.

Cavaco, como diz o meu amigo Aníbal, não o Cavaco mas o de Sousa “é um campónio, sem tacto político nem cultura e é praticamente desconhecido além-fronteiras”, além disso, ainda não me esqueci do que ele fez à Bolsa quando primeiro-ministro.
Depois, não gosto de gajos “que têem sempre razão e que raramente se enganam”.

Soares, como diz também o AS, “tem o perfil adequado de um monarca”, grande verdade com a qual não podia estar mais de acordo, logo, como sou republicano, ele é também uma carta-fora-do-baralho e depois nunca me esqueci de quando foi primeiro-ministro se ter rendido ás exigências do capitalismo, já para não falar do que fez agora ao Manuel Alegre, um amigo de tantos anos, é revelador da ânsia de poder deste homem, chega a ser ganancioso, e estes não têem o meu voto, aliás, Soares nunca o teve.

Vem a propósito, uma pequena história sobre Soares que o António Alçada Baptista conta no seu livro “A pesca à linha – Algumas memórias”da Editorial Presença p.167, com o sugestivo título “Como fiz um governo”.

Sei que era um segunda-feira e que, na sexta-feira anterior, tinha caído o primeiro Governo contitucional. Era de manhã e eu seguia pacatamente pela Rua Alexandre Herculano, quando parou um grande carro preto ao meu lado. Era Mário Soares:
- Ó Alçada, onde é que vai?
- Vou ali à Buchholz...
- Então venha que preciso de falar consigo.
Meti-me no carro e fui para São Bento, para o seu gabinete.
- Você é que podia falar aos seus amigos do CDS para formarmos Governo juntos...
- Se quiser eu falo.
Telefonei para casa do Diogo Freitas do Amaral e ele estava.
- Estou aqui no Gabinete do Primeiro-Ministro e tenho um recado para si. Posso ir aí?
Fui já no carro do Estado, em missão.
Tive sorte porque estava lá reunida a cúpula do CDS para analisar a crise: o Adelino Amaro da Costa, o Victor Sá Machado, o Basílio Horta, pelo menos. Disse-lhes que o Mário Soares queria fazer Governo com eles.
Mostraram-me um jornal onde, na primeira página vinha uma frase do Mário Soares, num comício do Alentejo: «O fascismo avança sob a capa da democracia.» E diziam-me:
- Mas isto é para nós...
E eu:
- Não, está-se mesmo a ver que é para o Kaúlza...Olhem: ele disse-me isto: Se vocês quiserem ao menos conversar ponham-se em contacto com ele.
Assim se fez o segundo Governo constitucional.
Passado tempo, não sei se li num jornal se me disseram que aquele Governo tinha sido feito em Paris por acordo entre a Maçonaria e o Opus Dei...

Os Líquenes

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Naquele dia levava-a pela mão ao parque, quando, ao passar pelo jardim que fica no caminho, ela me interrogou e respondeu de imediato.
- Pai, sabes o que é aquilo verde na árvore? São Líquenes! *
- São? E que são então esses Líquenes?
- São organismos que nos informam sobre a poluição, se as arvores os tiverem é porque aqui há pouca poluição e a qualidade do ambiente é boa.
- Onde é que leste isso?
- Foi a minha professora que nos ensinou e ela diz que os Líquenes são muito importantes...
- ...pai, como é ao pé da nossa casa, isso quer dizer que aqui a qualidade do ar é boa...
- ...gosto muito de termos vindo viver para aqui.
- Eu também filha, eu também. Respondi escondendo a minha ignorância sobre o assunto.

A conversa sobre os Líquenes não continuou, ela sabia mais de Líquenes que eu, aliás, ela com os seus 10 anitos, é a ambientalista lá de casa, é ela que nos diz para por o papel, o vidro e os plásticos nos respectivos recipientes, que nós ainda não criámos o hábito de o fazer automaticamente.

Hoje sei mais de Líquenes que então, e sei que são usados como bioindicadores de poluição atmosférica, são organismos vivos e que existem mais de 13.000 espécies diferentes, podem ser encontrados nas árvores, nas rochas, nos telhados das casas etc. E o que é interessante e que só se descobriu há cerca de 130 anos, é que um Líquen é uma associação de dois seres vivos, uma alga e um fungo que vivem em estreita cooperação e é devido à sua sensibilidade aos poluentes atmosféricos que servem para determinar a qualidade do ar.

Nós damos-lhes a mão, mas ás vezes são eles que nos puxam.



*A palavra Líquen tem a sua etimologia no grego e significa “musgo das árvores”

Manuel Alegre


Última Página

Vou deixar este livro. Adeus.
Aqui morei nas ruas infinitas.
Adeus meu bairro página branca
onde morri onde nasci algumas vezes.

Adeus palavras comboios
adeus navio. De ti povo
não me despeço. Vou contigo.
Adeus meu bairro versos ventos.

Não voltarei a Nambuangongo
onde tu meu amor não viste nada. Adeus
camaradas dos campos de batalha.
Parto sem ti Pedro Soldado.

Tu Rapariga do País de Abril
tu vens comigo. Não te esqueças
da primavera. Vamos soltar
a primavera no País de Abril.

Livro: meu suor meu sangue
aqui te deixo no cimo da pátria
Meto a viola debaixo do braço
e viro a página. Adeus.