Que me quereis,
se me não dais
o que é tão meu?

(Eugénio de Andrade)






No Outro Lado!





Era noite cerrada quando se decidiu! Não lhe apetecia estar em casa, e achou que era uma hora como outra qualquer para sair e dar uma volta. Não contara com a chuva, que o apanhou já longe e obrigou a procurar abrigo num vão de escada, daquela viela escura.
Acendeu um cigarro e encostou-se de forma a não se visto por quem passasse. Aquele, não era um lugar agradável, principalmente, numa noite escura e chuvosa como esta.

Foi, ao acender o segundo cigarro, que reparou em algo estranho que até aí lhe passara despercebido; a porta, lá ao fundo do seu lado direito estava entreaberta, o que lhe aguçou a curiosidade. Enquanto se movimentava silenciosamente na sua direcção, pensou, que provavelmente não encontraria ninguém, quanto muito, algum janado, que teria ali encontrado refúgio para a ressaca.

Entreabriu a porta, com mil cuidados para que não rangesse, espreitou, e viu uma sala pequena e nua com quatro portas de diferentes cores. Certificou-se não existir nada nem ninguém na sala, e entrou para um pequeno e exíguo espaço. Ficou admirado, quando uma das quatro portas, a amarela, se abriu num convite. Com a curiosidade a empurrá-lo, aproximou-se. Já na soleira, tentou perscrutar o interior dando um passo em frente para ver melhor, quando, a porta de súbito se fechou e num segundo a sala ficou inundada de luz dourada, tão forte que o obrigou instintivamente a cerrar os olhos.

Incrédulo, notou que já não estava na saleta... Estava agora, bem no meio de um campo dourado de trigo, extenso, até onde a vista alcançava.
Percorreu-o, em vão, durante o que lhe pareceram horas, à procura de uma saída, mas a porta por onde entrara desaparecera sem rasto, e a paisagem tinha começado a mudar, já cansado, aproveitou para beber daquele braço de água que serpenteava a paisagem. Saciada a sede, sentou-se na convidativa sombra de um imenso cipreste que casava com a margem do ribeiro, adormecendo profundamente.

Acordou, com o frio da água que lhe molhava a cara, e em pânico verificou que o ribeiro tinha coberto toda a paisagem e o arrastava para longe. O cipreste, onde tinha descansado, já se não vislumbrava, tudo à sua volta era um mar imenso.
Sentiu que a água ganhava uma consistência viscosa e se enrolava ao seu corpo como uma serpente, lutou para nadar dali para fora, porém, não via como, a paisagem era toda mar e as suas cores mudavam a cada minuto, sentiu-se terrivelmente desconfortável quando a água se avermelhou e lhe pintou os olhos, tentou limpá-los, mas os braços não obedeceram. Fez um derradeiro esforço, cerrando-os furiosamente para os abrir num repente, e foi, quando, viu uma parede branca junto a si.
Bem ao longe alguém chamava o seu nome, redobrou então, a vontade de alcançar a parede branca na esperança de se agarrar, e ouviu de novo, agora mais perto: Bernardo! Bernardo... Era o seu nome proferido com evidentes sinais de ansiedade. Pareceu-lhe a voz de Luciana. Tentou erguer a cabeça acima da água viscosa que o abraçava, quando a ouviu com nitidez dizer: Não te mexas Bernardo, os paramédicos já te estão a meter na ambulância.
Só então, Bernardo se lembrou daquela curva que a sua mota não fez.

Espreitador

Um conto de fadas...

Era uma vez um rapaz que perguntou a uma rapariga: Queres casar comigo? Ela respondeu: NÂO! E o rapaz viveu feliz para sempre, caçou, foi à pesca, teve sempre tempo para ver os jogos na Sport TV, bebeu a cerveja que aguentou, curtiu com N gajas e voltou para casa sempre à hora que lhe apeteceu.

FIM

Conto de autor desconhecido.

Hoje é dia de Maplismo. Viva o Exercício!

E cá estamos, dia 26, frente à TV, vendo o desenrolar das notícias, e entre algumas coisas importantes também algumas pérolas, que já vimos, e se repetem todos os anos.

O graduado de Natal da GNR, com a velha conversa dos malefícios do copito a mais, mas este ano com uma excelente inovação no nome da operação: “Natal/Ano Novo”.
Muitos neurónios devem ter sido queimados neste baptismo.

Em repetição, revemos o acordeonista lá do Minho dizer, que só é acordeonista por causa das gajas.
“… Antes, ia para as festas com o meu fatinho, relóginho de bolso, anel no dedo, calcinha vincada, sapato ilustrado, (não, não é erro, é mesmo ilustrado) mas as raparigas nem para mim olhavam, depois, com o acordeão, até faziam fila”.
Aqui está um bom substituto, para os litros de cerveja com que os mais novos iludem a falta de jeito.

A alegada “missão de libertação do Iraque” não é desejada pelos iraquianos.
Esta foi a conclusão brilhante a que agora chegou, o responsável das tropas norte-americanas no Iraque, general Peter Pace.

Missão cumprida!

É sempre com grande alegria que se prepara o Natal e com alívio que vemos os últimos familiares irem embora.

Final do dia, presentes distribuídos, barrigas cheias, conversas em dia, mas a gajada da família acha que não chega e parecem querer ficar para o dia seguinte. Alguém sugere uma canjinha para assentar o estômago, mas acaba por se contentar, com restos do almoço e uns salgadinhos feitos na hora.
Finalmente, com os estômagos mais uma vez aconchegados para a viagem, e sem ser necessário empurrá-los porta fora, lá se vão os últimos não residentes dos dezanove convivas.
Prá semana há mais, o Ano Novo também é cá em casa, desta vez com menos gente, que os jovens têem mais que fazer.

O Maneirinho.



Dircelina, lembrava-se bem daquele dia, tinha chegado com a maleta de mão, e por companhia trazia a sua cor negra, a pouca escolaridade e o estigma de um país em guerra. Vinha para trabalhar, neste, que era visto por lá, como a árvore das patacas, e por via disso, a esperança tinha-lhe feito companhia durante toda a viagem, e já antes, nos preparativos que antecederam a partida a aconchegara, lhe soprara quente no peito e lhe dissera em surdina: vais conseguir.
Para trás ficava a família; mãe, duas filhas pequenas e quatro irmãos, um deles estropiado e que era tudo o que a guerra não tinha levado, mas nisso não quis pensar, aquela, era a altura das grandes tarefas o momento que ambicionou e não tinha receio de confrontar, para isso, contava com outra grande amiga: a vontade inabalável de vencer.

Aquele emprego, que um antigo amigo do seu pai lhe arranjara, não era o que pensava, esteve para o recusar, não o fez por causa da fome miserável que já há dez dias e dez noites a acompanhava, mas hoje, dez anos passados, sabia que tinha ganho a grande prova. A tristeza do primeiro dia em que se deitou com um cliente e depois todos os outros que seguiram, eram passado, assim como as lágrimas que abriram sulcos nas suas faces de ébano. O desejo dos homens, pelo seu corpo esguio e musculado do trabalho na sanzala, tinha-lhe garantido uma posição privilegiada entre as escravas do Maneirinho, e desde muito cedo traçara o seu plano.

A vinda da família, acontecera já depois de ter conseguido casar-se com o Maneirinho, a seguir, foi um passo, até o convencer a investir o dinheiro ganho com a escravatura e outros expedientes, num restaurante que ela e a mãe passaram a gerir, por fim, ele começou a gostar daquele chá que com receita da sua avó a mão lhe ensinou a fazer, e que provocava no Maneirinho o estado esfusiante de alucinada embriaguez, e foi nesse estado que o convenceu ser ele capaz com a força do querer, parar o rápido Lisboa-Sintra.
Ainda lhe notou a incerteza no olhar, quando no meio da linha viu o comboio aproximar-se, mas ela, postada no apeadeiro, deu-lhe a força que faltava, gritando-lhe, és capaz meu querido, tu és capaz de tudo.

Equívocos!


Aquele era um bar diferente, apreciou com agrado as ânforas espalhadas pelos cantos, reparou nos quadros que decoravam as paredes, verificando, que estes emolduravam folhas com profecias, revelações e até conselhos. Olhou para Isabel, sua companheira de há cinco anos, e viu nos seus olhos imediata aprovação pela escolha. Mentalmente, agradeceu à Clara sua colega, a informação. Tinha recorrido a ela, solicitando-lhe um sítio engraçado para levar Isabel. Tinham perdido o hábito de sair e porque as suas vidas atravessavam uma fase difícil, sentiu necessidade de um ambiente diferente para desanuviar da tensão, que teimava à demasiado tempo permanecer entre os dois.

Junto ao balcão, ajudou Isabel a subir para um tripó forrado a couro negro e acomodou-se noutro a seu lado, com os olhos, procurou o empregado para pedir as bebidas, e deu de chapa com uns olhos negros que o fitavam. Reparou que era uma mulher belíssima que não soube precisar a idade, andaria entre os trinta e os quarenta. Influenciado pelo ambiente da decoração, o olhar penetrante da mulher lembrava-lhe as pitonisas que costumavam ler oráculos, ela sentava-se no topo direito do balcão, os cabelos tão negros como os olhos davam-lhe um ar misterioso e ao mesmo tempo belo, e ele, enquanto tentava captar a atenção do empregado, reparou que esta continuava a olhá-lo.
Sentiu-se um pouco incomodado, e o receio que Isabel percebesse surgiu, ele não conseguia desviar os olhos daquela mulher.

Isto tinha logo de lhe acontecer quando estava com a Isabel, já era azar. O olhar da mulher não se desviava e pareceu-lhe vê-la sorrir. Nessa altura, ficou definitivamente incomodado pela presença da Isabel, e a situação piorou quando a viu pedir uma caneta com que escreveu num cartão. Olhando na sua direcção, entregou-o ao empregado enquanto lhe segredava qualquer coisa. Era para si pensou, e em pânico tentou manter a postura, e esperar para ver como o empregado lho entregaria sem que Isabel percebesse. Reparou que o copo de Isabel estava praticamente vazio, despejou o seu num gole rápido com o objectivo de renovar as bebidas e proporcionar ao empregado a entrega disfarçada do cartão, assim fez, e seguindo os movimentos daquele, reparou que colocava o cartão, de forma habilidosa por baixo de um dos copos, viu-o aproximar-se e enganar-se, tinha posto o do cartão à frente da Isabel, olhou instintivamente para o topo do balcão, e viu que a pitonisa dos olhos negros lhe sorria, não devia ter reparado que o empregado tinha trocado os copos e que agora o cartão estava bem debaixo do copo da Isabel.

Por uns momentos sentiu-se perdido, até que, Isabel lhe disse: Querido, vou à casa de banho. Ficou aliviado, estava ali o momento oportuno para retirar o cartão e quem sabe combinar alguma coisa. Enquanto seguia com o olhar Isabel que se afastava, viu que aquela mulher belíssima de olhos negros se levantava, aproveitando a oportunidade para se acercar dele, mas, contrariado reparou que não o fez, em vez disso, sorriu-lhe, e seguiu na mesma direcção da Isabel.
Aproveitando o momento, retirou o cartão de debaixo do copo e leu-o, acto contínuo, sentiu uma tontura, leu novamente sem acreditar no que lia, o cartão, em duas linhas dizia:
Quero-te agora. Casa de banho.

Alegre Vs. Soares Vs. Cavaco.

Não, não vou falar do debate, se bem que o título o sugira.
Hoje, em conversa com um amigo falávamos exactamente da mediocridade destes debates, como poderíamos falar do nosso desalento por serem estes os contendores perfilados. Começámos a tergiversar sobre algumas das coisas que têem sido ditas e elegemos duas situações, que, pela sua qualidade caricata, mereceram atenção e até alguma reflexão.

A primeira foi em resposta à pergunta de um jornalista, que após o debate de Soares com Cavaco, queria saber a opinião de Alegre:
“Não sei, não posso comentar porque não vi tudo, deu-me o sono e fui dormir”.
Esta não resposta, respondida com esta agudeza, mereceu o nosso sorriso cúmplice como se de um knock-out ao primeiro assalto se tratasse, ganhou logo, o prémio do dizer sem dizer, quando muitos nem conseguem dizer, dizendo.

Seguiu-se uma outra, que a uma diatribe de Soares, Alegre, responde assim:
“Se lê-se como antes lia, com certeza perceberia, que era uma metáfora”.
Reparem bem, no propósito do verbo no passado e digam se não merece de facto um primeiro prémio qualquer, fosse lá do que fosse. Alguém dizer a Soares, que enverga a capa da cultura como se de uma segunda pele se tratasse, que ele, agora, está lá bem junto de uma massa anónima de leitores que lê sem ler, porque lê a metro ou ao quilo, sugere duas reflexões.

A primeira: Coragem para o desafio de peito aberto, os pontos nos iii do recado, como só um homem de pensamento agudo poderia fazer.
A segunda: A aristocracia das palavras e a classe intelectual do conhecimento.

Não só por isto, mas porque também, este homem, poeta de setenta anos, e arejado, tem para já o meu voto.

PS: É claro que falámos de Cavaco, e até relembrámos a sua “brilhante” tirada, frente ao Jerónimo: “Olhe que não, olhe que não”. Que os jornalistas querem fazer crer, que o homem com isto até tem espírito e não é tão cinzento como o pintam.
Mas a piada, de tão estafada, nem ao Herman nos seus piores dias lembraria.


Não entres assim comigo nesta água escura, estamos na Foz do Arelho e isto não é um verso traduzido do irlandês, menos ainda um título de romance, sequer uma paráfrase, é o mar da Foz, o Atlântico em estado puro, o mar mais bravo e mais íntimo que conhecemos, o nosso mar, há ondas de dois ou três metros, aquele corveiro está com certeza cheio de robalos, não entres assim comigo nesta água escura.

Cão Como Nós, Manuel Alegre da Planeta DeAgostini p.61.

António Lobo Antunes

(Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)


Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas,. creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisanas e pão de Ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

Cortesia do amigo Anibal.

Malandro não estrilha, muda de esquina! (Final)



Vera medindo bem a situação e depois de pensar um pouco, disse que sim, que lhes lançava as cartas, mas que seria a última vez que o fazia, é que, tinha começado a ficar assustada com a sua capacidade para interpretar tudo o que as cartas lhe diziam, por isso, queria pôr de parte aquela actividade, esta seria portanto a ultima vez e só o fazia em consideração ao Leonardo, mas agradecia que este nunca mais lhe pedisse o mesmo. Dito isto, pediu-lhes para entrarem na salinha privada que ficava no fundo do bar, que ela já lá iria com o Tarot.

Leonardo e Sérgio, acomodaram-se na sala, e enquanto esperavam por Vera, Leonardo foi-lhe dizendo, se ele agora tinha percebido a razão de tantos homens visitarem a casa de Vera, este, consternado, dizia que sim, que pensara ser outra coisa, que nunca imaginara uma coisa daquelas e por aí adiante, até Vera chegar com as cartas.
Contou-as e verificou que estavam as 78 necessárias, baralhou-as, e perguntou qual queria ser o primeiro. Leonardo prontificou-se de imediato, começariam com ele. Vera, mostrou então o que sabia fazer e Sérgio bebia as palavras com que Vera acompanhava o ritual, como se, de um ser divino e omnipotente se tratasse, até chegar a sua vez.

Depois de baralhadas as cartas, Vera disse-lhe em tom muito sério e de olhos nos olhos: Tome atenção, eu não sei muito bem como isto funciona, mas funciona, agora, o mais importante é que acredite em tudo o que lhe vou dizer através das cartas, depois é consigo, que eu lavo daí as minhas mãos. Sérgio assentiu de imediato com um abanar de cabeça, só queria que Vera começasse logo, e ouviu com sofreguidão todas as banalidades que ela lhe dizia, até ao momento em que parou e se mostrou muito pensativa. Leonardo perguntou em tom preocupado: Não é aquilo que eu estou a pensar, pois não? Vera continuou calada, voltou a mexer nas cartas, baralhou de novo e voltou a lançá-las, voltando a ficar calada com os olhos fixos na mesa. Leonardo perguntou com voz assustada: É a torre que te preocupa? Vera olhou para ele com as mãos a tremer e disse: A Torre e a Caveira, eu sabia que nunca mais deveria mexer-lhes, e agora? Nesta altura, Sérgio, que ora olhava para um, ora olhava para outro, quis saber o que é que se passava, o que é que as cartas tinham de tão mau? Vera mostrava-se relutante, Sérgio insistia, queria saber, fosse lá o que fosse, tinha o direito de saber já que era com ele.

Leonardo, tomando o comando da conversa disse: deixe Verinha, eu digo-lhe, a culpa é minha que o meti e a si nesta encrenca, a Verinha não se preocupe, só fez o que sabe fazer, não tem culpa das coisas serem o que são, a Verinha é simplesmente o saber interpretativo das cartas, um veículo, nada mais. Virando-se então para Sérgio, com cara de pesar e depois de alguns segundos a pensar como lhe daria a noticia, disse-lhe: A Torre com a Caveira, representam a morte à pergunta que a Vera lhes fez, e a ti, saiu-te duas vezes, não há que enganar.
Sérgio estarrecido balbuciou: E agora, o que é que eu faço? Deve haver uma maneira, ela que faça a pergunta de outra forma? Não há nada a fazer, respondeu Leonardo, não há como fugir. O meu conselho é que tenhas cuidado com tudo, até a atravessares a rua para não seres atropelado. Dito isto, baixou a cabeça e elevou as mãos que se enterraram nos cabelos.

Sérgio levantou-se em estado de choque, branco como a cal, balbuciou qualquer coisa imperceptível e saiu.
Passados uns minutos e depois de terem a certeza que ele tinha desaparecido, desataram numa gargalhada pegada, recordando os tempos em que se divertiam a pregar estas partidas, aos bicéfalos anácronos dos seus colegas de liceu. Mas isso, era quando a Verinha ainda se chamava Rafael, tinha sido antes da operação de mudança de sexo que ela fizera na Holanda, mas também ninguém sabia, ela só mudara para o seu prédio depois disso acontecer e o Jacinto nunca o diria a ninguém. Ainda recordaram como ela se tinha livrado dele, quando decidiu deixar a prostituição. A ideia de lhe dizer que tinha Sida devido à vida que levava, tinha sido sua.
Por volta das cinco da madrugada, Leonardo despediu-se de Vera e saiu. Enquanto percorria os dois quarteirões que o separavam de casa, olhou para a janela do Sérgio que ficava logo no primeiro, constatando com um sorriso sacana, que a luz ainda estava acesa.

Fim.

Malandro não estrilha, muda de esquina!


Leonardo raramente saía, e quando o fazia preferia a companhia dos amigos, decididamente, não tinha o hábito nem gostava de sair sozinho pela noite.
Hoje, tinha-se aventurado a entrar naquele bar que abrira a semana passada a dois quarteirões da sua casa. Inicialmente, a ideia era ver o aspecto com que ficara, comer qualquer coisa e regressar a casa ainda a horas de acabar aquele trabalho que tinha de ser entregue amanhã sem falta na reunião das nove.

Mas o inesperado aparece quando menos se espera e as coisas não aconteceram assim. Mal entrou, e ainda os seus olhos tentavam absorver a decoração do lugar, ouviu o seu nome gritado de uma mesa no fundo da sala. Olhou, e viu a mão levantada do Sérgio, seu vizinho de rua que o convidava a aproximar.

Sentou-se e logo o Sérgio se debruçou sobre a pequena mesa que os separava para lhe dizer algo sem que os clientes mais próximos ouvissem.
Sabes de quem é esta merda? Sei! E então que me dizes? Sem o deixar responder continuou: já viste o dinheirão que a puta fez à conta dos papalvos que recebia lá em casa, enquanto o Jacinto ia trabalhar?
Estás a querer dizer que ela, a Verinha... Sim pá, a puta andava nas lides enquanto o Jacinto ia trabalhar, tanto assim, que quando o gajo soube pirou-se que nunca mais ninguém o viu. Vendo que ele não reagira continuou: agora olha, o resultado está à vista, vê bem o dinheirame que a puta fez!
Calma Sérgio, tens a certeza do que estás a dizer? Estás a medir bem o que dizes? Então pá, estás a fazer-te de parvo ou quê, ela morava no teu prédio, com certeza também lá foste e agora estás a ver para onde foi a massa, mas é mesmo assim, esquece essa merda que a gaja vem aí.

Olá Leonardo, afinal sempre veio ver o meu barzinho! Claro Verinha, o tempo não é muito e eu não costumo sair à noite, só a minha querida me faria quebrar os hábitos, mas olhe, já estou arrependido. Não me diga isso Leonardo, e fazendo um gesto que abarcava toda a casa perguntou: está assim tão mau? Leonardo então, olhando de frente o Sérgio respondeu: Não Verinha, o bar até está melhor do que alguma vez pensei, agora a Verinha é que merecia outra sorte com os clientes.

Nesse momento já ela acompanhava o seu olhar na direcção do Sérgio, este, sentindo-se incomodado mostrou intenção de se levantar, mas Leonardo agarrando-lhe o braço obrigou-o a permanecer, e olhando para Vera continuou: Diga-me aqui só para nós que muito a estimamos, como é que as cartas lhe renderam tanto dinheiro? Vera, compreendeu de imediato as intenções de Leonardo e decidiu entrar no jogo.

Que isto não saia daqui, só vos conto a vocês porque são pessoas honestas e acredito que saibam guardar um segredo, bem, o Leonardo está mais ou menos a par, mas o Sr. não sabe e eu vou-lhe contar em atenção a ele: aquela clientela que eu tinha era tudo gente abastada como sabe o Leonardo, homens de negócios que nada faziam sem eu lhes deitar as cartas, depois, como eu os orientava nas aplicações que faziam na bolsa, foram passando a palavra aos amigos mais chegados, estes a outros e sabem como são estas coisas, até que, me apareceu lá em casa um industrial do norte, o merceeiro como lhe chamo, e o coitadinho estava desesperado porque os negócios lá por Espanha estavam a ir de mal a pior, eu deitei-lhe as cartas e dei-lhe alguns conselhos que o levaram a ter de novo êxito, ele como retribuição, deu-me um chorudo cheque com que abri aqui o barzinho, e foi assim.
Leonardo olhou então para o Sérgio, que a essa altura já parecia um tomate e disse: A Verinha seria uma grande amiga se deitasse as cartas para nós, que também somos filhos de gente e precisamos de alguma sorte, isto se o Sérgio concordar como é evidente. Sérgio, que até aí permanecera calado e com os olhos enfiados no copo de cerveja, ainda tentou perguntar se o tal merceeiro era aquele gajo dono da..., mas Leonardo fazendo-lhe sinal para se calar, assentiu de imediato com um gesto de concordância, dizendo: esse mesmo em que estás a pensar.

(continua).

Desencontros (Parte II e última)


Quando Fabrício entrou, já Marta sentada à mesa da cozinha terminava o pequeno-almoço. Fabrício viu-a e ficou contente ao pensar que teria a sua companhia. Cumprimentou-a, fazendo um esforço para que não parecesse seco nem ansioso, a primeira preocupação foi tentar não demonstrar sentimentos que a levassem a sair dali.

Marta olhou-o, e pareceu-lhe que tinha dormido mal, estava com um ar cansado, lembrou-se que também ela deveria estar assim, ficara na sala depois de ele se recolher até altas horas, não tinha sono e apeteceu-lhe ouvir aquele CD que tinha comprado na semana anterior, numa das suas saídas sem destino e com o único propósito de não ficar em casa ao pé dele, era o último disco do seu cantor romântico preferido, o Dear Heather do Cohen, e aos primeiros acordes de Go no more, pensou, no quanto a sua vida se tinha transformado, o que antes lhe parecia uma vida normal e estável, estava agora a revelar-se exactamente o contrário, começava a acreditar que gostava dele, ainda que tudo fizesse para combater os sentimentos que teimavam em assaltá-la, a voz de Cohen enchia o espaço à sua volta e ao som de Because of finalmente as lágrimas soltaram-se.

Cohen, já há muito se tinha calado quando ela percebeu o silêncio que reinava, tinha mergulhado em mil pensamentos e nem dera por isso, lembrava-se da curiosidade que sentiu em saber o que ele estaria a fazer sozinho no quarto, e como tentara espreitá-lo em vão, visto ele ter fechado a porta, ainda sentiu a tentação de bater, mas conteve-se.

Absorvida por estes pensamentos ouviu a sua voz: - Marta! Marta, que se passa? Estás bem? - Estou sim, respondeu. Desculpa, estava imersa em pensamentos parvos. – Alguma coisa em que possa ajudar, perguntou Fabrício. – Não meu querido, não podes. Deu-se conta nesse instante de como o havia tratado, mas agora nada havia a fazer, estava dito.
Fabrício tinha recebido aquele meu querido directo no coração, ela nunca tinha usado aquela palavra com ele, se bem que a usasse com alguns amigos mais chegados, mas com ele tinha imenso cuidado de não proferir qualquer tipo de intimidade ou carinho. Atrapalhado, começou a tratar do café virando-lhe as costas, e os pensamentos da noite anterior começavam agora a martelar-lhe o cérebro. Recordava-se porque se tinha retirado mais cedo dando a desculpa, do Lobo Antunes lhe dar sono, uma mentira inocente que se ela o conhecesse teria logo detectado, ele adorava Lobo Antunes, jamais se imaginaria a adormecer lendo-o, e isso provava que ela nem sabia minimamente do que ele gostava. Quando chegou ao quarto não se conteve, chorou como uma criança infeliz, tal a desilusão que sentia com o rumo da sua vida, lembrava-se de lhe parecer ouvi-la junto à sua porta, mas imaginou-se a enlouquecer, o quarto dela ficava na ala oposta do seu, só poderia estar com alucinações.

O zumbido da chaleira da água para o café, trouxe-o de novo à realidade e com um olhar de soslaio verificou se ela ainda lá estava. Estava. Não se tinha mexido e sentiu-se contente por isso, talvez ela ficasse enquanto tomava o pequeno-almoço.

Enquanto se sentava, ela perguntou-lhe: - Desde quando é que o Lobo Antunes te dá sono? Ele não esperava aquela pergunta e nem tinha jeito para mentiras, decidiu no momento dizer a verdade: - Foi uma desculpa para me retirar, estava a custar-me estar ali contigo e não invadir o teu espaço, o Lobo Antunes é que pagou, mas não sabia que tinhas conhecimento do meu gosto por ele? – Mas tenho Fabrício, assim como de outros gostos teus, não devias ter-te retirado, ontem apetecia-me companhia.

Fabrício atónito, recebeu aquelas palavras como terra para um náufrago, sentiu uma leve esperança invadir-lhe o coração, mas logo recordou as palavras e ela não tinha dito que lhe apetecia a companhia dele, mas sim companhia, isso era plural, só lhe apetecia companhia e não devia estar com disposição de sair, ou então, nenhuma das amigas estava livre para a acompanhar.
- Fabrício! Ouviste o que eu disse? – Desculpa Marta, disseste que ontem te apetecia companhia, eu ouvi. – Mas era a tua, não era a de mais ninguém. – A minha? – Sim a tua, ontem apetecia-me a tua companhia.

Ela tinha sido clara, era à companhia dele que se referia, não de qualquer outra pessoa, agora o seu coração tinha disparado, e a custo disse: Ontem, quando estava no quarto ouvi música, estavas a ouvir o quê? – O novo CD do Cohen o Dear Heather que comprei a semana passada, respondeu. – Ah, esse romântico inveterado, não sabia que gostavas, é um disco que já saiu à algum tempo, talvez no início do ano, não é novo. – Sim, mas é o último e eu ainda não o tinha, como não me fizeste companhia, tive de recorrer a ele.

Fabrício pensava se as palavras que ouvia da boca da Marta seriam reais, não notava nenhum tom de brincadeira, seria esta uma estratégia para em seguida o meter no seu lugar? Não podia ser! Ela não o amava, isso era um facto, mas tinha sido sempre de uma educação extrema, estaria a falar verdade? Encheu o peito de ar e perguntou-lhe: Tens a certeza que era mesmo a minha companhia que ontem querias? – Era! – Desculpa a pergunta Marta, mas porquê? Ela ficou em silêncio enquanto o fitava nos olhos e ele ficou a olhar para ela à espera de uma resposta que não vinha, tinha uns olhos lindos, que muito raramente tinha oportunidade de ver tão perto e tão demoradamente, os seus olhares costumavam ser fugidios, mas agora, ela continuava a olhá-lo fixamente, sem demonstrar intenção de os desviar e ele pensou no quanto a amava, como lhe apetecia beijá-la. De repente, Marta mostrou intenção de se levantar, e ele pensou que devia ter desviado o olhar, ela devia ter pensado que ele a provocava e ia-se embora. Balbuciou uma desculpa, quando Marta se encaminhou na sua direcção que era a da porta da cozinha, ela, levou um dedo à boca em sinal de silêncio, chegada ao pé dele, parou, e perguntou-lhe olhos nos olhos e com a cara quase colada à sua: Ainda me amas Fabrício? Ele sentindo-se desfalecer murmurou: - Mais do que tudo na vida.
Marta, colocou as mão suavemente na sua cara, e ele sentiu o seu perfume inundá-lo quando ela o beijou.

Informação para os amigos.

Ainda esta noite, publicarei a continuação que será também o final, do conto “Desencontros”.
Não era minha intenção fazer a continuação deste conto, como também não era do anterior, no entanto, alguns amigos pediram a sua continuação.
Devido à aproximação do Natal, e estando já eu com espírito natalício, considerei que estava na altura de oferecer um romance lamechas aos que me visitam, ou seja, uma daquelas coisas que acabam bem e que todos gostam, até eu.
Está alinhavado e faltam agora os finalmentes.
Sem falta, ao rondar das vinte e quatro horas será publicado.

Roubo de Blog

We are sorry to inform the blogger comunity that this blog has been scheduled for erasing.
Due to the enourmous ammount of blogs created every day in our servers, we have to procced to a random pick of circa 500.000 blogs to delete. One of them is yous.

Continuar a ler aqui.

Assim começa a mensagem, com que hoje se deparou o blog “O Convento da Crítica”. Para além de ter o acesso vedado, também os comentários foram retirados.

Decidem assim, para que possam continuar a ser criados mais blogs, apagar 500.000 ao acaso.

Estou convencido que esta é uma manobra para que comecemos a inscrevermo-nos e a pagar? É que assim toda a gente fica preocupada, eles sabem que sim, e de certeza que vão facturar algum.
Além de tudo o mais é desonesto, considero-o mesmo um roubo, tal como o considera o seu autor.
Este tem um outro blog em parceria, que podem visitar
aqui.

O debate visto em reprise.

Finalmente algum sal nestes debates presidenciais.
Francisco Louçã, atacou Cavaco precisamente onde lhe é mais caro: A Economia, e desmontou o mito, coisa que não ousaram nem Soares, nem Alegre, que mais não fizeram que ajoelhar aos seus pés.
O homem, ás-duas-por-tres, e ainda na primeira parte, sai-se com uma proposta para a Segurança Social, pediu até a palavra para dizer esta coisa muito séria: É necessário fazerem-se novos estudos sobre a situação da Segurança Social, porque a coisa pode já não ser como no passado (foi mais-ou-menos assim). Foi ver o Louçã de dedo no ar, a pedir a vez para dizer ao Sr. Professor que os estudos foram apresentados a semana passada na Assembleia, e isto depois do homem ter dito que já lê jornais, deve ser como a sua mandatária para a juventude que diz estar a fazer uma especialidade em oftalmologia no Egas Moniz, mas é desmentida pelo director clínico Pedro Abecassis.
Agora de rir, foi quando o “Sr. Economia” usou a expressão biliões, fiquei à espera de ver o Louçã trucida-lo, dizendo-lhe que isso era expressão das Américas e que por cá, mil milhões eram mil milhões, não havia cá essa história dos biliões e que fica mal a um Presidente da República dizer essas coisas e etecetera. Mas ele, parece que não quis achincalhá-lo com coisas mesquinhas, porque afinal de contas, toda a gente em Portugal lê ou leu, banda desenhada feita no Brasil e sabe perfeitamente o que são os biliões do Patinhas ou do Gates.
Enfim, uma vitória do Louçã, depois da derrota do meu Sporting.
Eu até nem sou pelo Louçã, mas sou decididamente contra o Cavaco, logo, esta vitória, também é um bocadinho minha.

Desencontros.




Fabrício sabia que Marta não o amava, já o sabia antes de casarem e por isso aceitava o seu mutismo aos serões. Para ele tê-la ali parecia ser o suficiente, mas o desgosto de não ser correspondido minava-lhe os pensamentos. A cada dia que passava mais a amava, começava a tornar-se uma doença esta adoração sem retorno.
Lembrava-se bem do dia em que começara a ter ciúmes, e desde esse momento que vivia num inferno do qual não sabia sair nem parecia querer.

Marta não se dava conta do inferno em que ele vivia, tinha-o avisado que não o amava, tinha usado de toda a sinceridade antes de casarem e ele sabia que só casavam porque precisava da estabilidade que lhe podia proporcionar, não encontrava portanto a razão ou qualquer motivo para ele ter mudado tanto. Começara por querer saber tudo o que ela fazia, com quem saía, onde ia, a que horas regressava, e mostrava uma grande impaciência sempre que ela lhe dava respostas evasivas, só por não lhe apetecer estar sempre a explicar tudo, ou por não poder dizer o que lhe ia na alma.

Hoje, olhava para ele sentado no sofá junto à lareira, tinha desistido de sair, antevendo o rol de perguntas a que seria submetida e decidira ficar sossegada em casa, mas agora olhava-o com o lume reflectido na cara, parecia-lhe outro homem, aquele casaco de lareira que lhe comprara, ficava-lhe muito bem, dava-lhe um ar aconchegante, másculo e ela não resistia a olhá-lo.
Estava naquilo, fazia talvez uns bons dez minutos quando ele reparou e a olhou, ela desviou os olhos para o lume e ele pensou no que ela estaria a pensar, talvez a engendrar alguma mentira para lhe dizer que precisava de sair naquela hora, ou então a pensar como o detestava e como estava presa ao seu dinheiro. Devia odiá-lo por ser tão dependente, mas ela tinha aceite as condições, sabia que ele a amava e que estava disposto a tudo para a ter junto a si, por isso, o mínimo que lhe pedia era que estivesse em casa quando ele estava, nada mais.

Marta, viu que ele tinha retomado a anterior posição e voltou a olhá-lo, pensou que se ele não fosse tão frio talvez ela até o pudesse amar, hoje era um desses dias, sentia-se bem a olhá-lo, senti-lo ali, calmo e sereno, era isso que com o passar dos dias a tinha atraído, a sua calma, o nunca elevar a voz, a inteligência, a educação, e o porte imponente do seu metro e oitenta, mas as coisas não tinham corrido nesse sentido e por isso muitas vezes saía para não ficar ali a desejá-lo, tinha alturas em que se sentia descontrolada, sabia que se ele a abraçasse ela se renderia aos seus braços, mas ele nunca o fizera.

Nisto ele fechou o livro que lia e perguntou-lhe: Vais sair? Ao que ela respondeu, com a voz mais natural e suave que conseguiu: Não, hoje apetece-me ficar em casa.
Bem, nesse caso vou deitar-me, este livro do Lobo Antunes está a dar-me sono, até amanhã. Até amanhã respondeu Marta, sabendo que só o veria na manhã seguinte, já que sempre tinham dormido em quartos separados.

Enquanto se dirigia para o quarto, pensava em como só lhe apetecia agarrá-la e obrigá-la a fazer amor ali junto à lareira, esse desejo tornara-se tão forte que decidira sair de ao pé dela, não fosse Marta perceber o desejo que o invadira.

O Debate.

Talvez o melhor do debate entre o Mário Soares e o Jerónimo de Sousa, que terminou agora, tenha sido a manifestação que a comissão de apoio à candidatura de Garcia Pereira promoveu à porta da RTP.
No início, quando os vi de volta do carro que transportava Soares, aos gritos e de mão em riste, até pensei que queriam linchar o homem.
Bom seria que Garcia Pereira lhes dissesse para respeitarem os velhinhos.
1º Lugar pela positiva.

Segundo a Lusa, Portugal é o país da União em que mais se aprecia a sétima arte, cada residente vai em média 10 vezes por ano ao cinema.
E esta!? Contavam com ela? Eu não!


A pedinchice do costume.

Os habituais já por aí andam, os do lixo e os bombeiros, todos querem um complemento do décimo terceiro que recebem.
Como sou novo na zona e é o primeiro Natal que aqui passo, vamos ver quantos "pedintes" aparecem.


Politica.

Rita Guerra, depois de cantar os parabéns a Mário Soares, fez questão de informar estar o seu nome na Comissão de Honra de Cavaco Silva, evidentemente sem a sua autorização, já que, ninguém com ela falou.
Já não bastavam as mentiras de Kátia Guerreiro, para agora ainda surgir a dúvida de quantos terão sido contactados.

Condoleeza Rice veio à Europa dizer que terrorismo internacional é condenável e deve ser castigado, e que a CIA nunca transportou presos com a intenção de os torturar, e que nunca violaram a soberania dos países europeus e…, e a gente ainda acredita no Pai Natal.


Serviço Público.

Chamo a atenção para um autêntico serviço público da nossa televisão, já que, a RTP2 ás 23:30 transmitirá a série “The Blues”documentário produzido por Martin Scorcese, e que podemos ver hoje o primeiro episódio “Feels like going home”.
A não perder.

Florbela Espanca




Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Ser poeta!

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Assim nos enganam.

Um professor, da Faculdade de Direito de Lisboa, perguntou a um dos seus alunos:
- Laurentino, se você quiser dar uma laranja a uma pessoa chamada Sebastião, o que deverá dizer?
O estudante respondeu:
- Aqui está, Sebastião, uma laranja para si.
O professor gritou, furioso:
- Não! Não! Pense como um Profissional de Direito!

O estudante pensou um pouco e então respondeu:

- Está bem, eu refaço o que diria: Eu, Laurentino Marcos Rosa Sentado, Advogado, por meio desta dou e concedo a você, Sebastião Lingrinhas, BI 6543254, NIF50829092, morador na Rua do Alecrim, 32, A, do concelho de Vila Nova de Gaia, casado, com dois filhos e um enteado, e somente a você, a propriedade plena e exclusiva, inclusive benefícios futuros, direitos, reivindicações e outros títulos, obrigações e vantagens no que concerne à fruta denominada laranja, juntamente com sua casca, sumo, polpa e sementes transferindo-lhe todos os direitos e vantagens necessários para espremer, morder, cortar, congelar, triturar ou descascar com a utilização de quaisquer objectos ou de outra forma comer, tomar ou ingerir a referida laranja, ou cedê-la com ou sem casca, sumo, polpa ou sementes, e qualquer decisão contrária, passada ou futura, em qualquer petição, ou petições, ou em instrumentos de qualquer outra natureza ou tipo, fiscal ou comercial, fica assim sem nenhum efeito no mundo cítrico e jurídico, valendo este acto entre as partes, seus herdeiros e sucessores, com carácter irrevogável, declarando Sebastião Lingrinhas que o aceita em todos os seus termos e condições conhecendo perfeitamente o sabor da laranja, não se aplicando, neste caso, o disposto no Código do Consumidor, cláusula 28, alínea b, com a modificação dada pelo DL 342/08 de 1979.

E o professor então comenta:

- MELHOROU BASTANTE, MAS NÃO SEJA TÃO SUCINTO.


Cortesia do AJA.

A Janela do Pensamento! (Parte III)


Segurou-lhe o rosto com ambas as mãos aproximando os lábios dos dela, viu-a fechar os olhos num sinal de abandono à sua vontade enquanto entreabria os lábios para o receber. Beijou-lhe suavemente os olhos, demorando-se o suficiente para que ela percebesse o carinho que já lhe tinha, ouviu-lhe um suspiro de prazer e juntou os lábios aos dela, primeiro, num beijo suave quase amigo, seguido do desejo de lhe sentir a língua na sua, saboreou o momento e a frescura da sua boca quando as línguas se entrelaçaram no rodopiar da descoberta.

Finalmente, as suas mãos soltaram-lhe o rosto, e desceram pelos seus braços até à delicada cintura que abraçou, puxou-a num gesto suave mas firme e sentiu-lhe o peito esmagar-se no seu, enquanto lhe ouvia novo suspiro e sentia o seu corpo abraçá-lo numa entrega e querer convidativos
.
Desabotoou-lhe a camisa com gestos lentos mas decididos. Acariciou-lhe os peitos em movimentos exploratórios sentindo-os oferecerem-se soltos e sem amarras. Lentamente, deitou-a no sofá da sala, e viu-a desenvencilhar-se rapidamente da saia.
Os seus beijos eram agora mais sôfregos e as mãos tinham derrubado as fronteiras que a timidez no início impunha, ele correspondeu e explorou com as suas cada milímetro de pele até se deter finalmente no sexo, primeiro, com suavidade, acariciou-o até o sentir húmido de prazer, depois, os movimentos tornaram-se tendencialmente circulares em volta do seu clítoris, até a ouvir num sussurro dizer: - Vem, quero ser tua agora.

Tinham sido as primeiras palavras desde que entraram em casa. Ele, colocando a mão no interior das suas pernas fez uma leve pressão para que ela as abrisse, ao que ela acedeu prontamente encontrando uma posição confortável para o receber. Olhou bem nos seus olhos no preciso momento em que o guiou na penetração.

Era quase manhã quando ela acordou, ele estava ali não era um sonho, ainda dormia e ela pensou em como tudo tinha acontecido, o encontro na Gulbenkian durante a exposição, o convite para um café, o descuido dele quando lhe agarrou a mão fingindo um desequilíbrio para não mais a largar, a boleia para casa já que eram vizinhos, o tempo saboroso que estiveram à conversa no carro antes de ele a convidar para uma bebida e depois aquela noite, mas que noite, uma noite de sonho, e que homem, melhor que todos os sonhos que tivesse tido até aí e que sempre eram interrompidos pelo seu gato… GATO!!! - Sim amor! – Não é contigo, esqueci-me de dar comida ao filho-da-puta do gato, deve estar uma fera, adeus e não te esqueças que moro ali em frente.

Enquanto fechava a porta ouviu-o ainda dizer: Eu sei, vi-te com essas bochechas esborrachadas na janela.


Nota Final: - Este conto que se pretende erótico, é uma oferta aos amigos, que de alguma forma manifestaram a sua desilusão, pela falta de condimentos nos contos anteriores.
Espero que gostem.

A modernidade do humor.


Triste de quem vive em casa

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer da asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição de raiz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
...

Fernando Pessoa

A Janela do Pensamento! (Parte II)


Mal refeita ainda, do susto que o seu lindo Persa lhe pregara, deu-se conta que apertava o peito de forma inusitada, o gesto tinha feito subir a camisola e agora evidenciava toda a nudez do seu corpo, tinha ficado encostada à janela tempo demais enquanto se recompunha, sentia o frio exterior através do vidro da janela trespassar-lhe as nádegas, quando se lembrou do médico que morava em frente. Num salto, refugiou-se atrás do reposteiro sentindo o sangue subir-lhe à face, e pensou se ele a teria visto, a vergonha da incerteza fez com que a sua cara ficasse ainda mais quente, devia estar completamente vermelha.
Sentindo-se afogueada, despiu num gesto brusco a camisola de lã, atirando-a para cima da cómoda vitoriana, sem se dar conta que tinha ficado completamente nua.

A curiosidade começava a apoderar-se dela e quando sentiu alguma coragem, num movimento rápido espreitou, tentando perceber se ele estaria lá.
Tinha sido rápida demais, assim não conseguiria ver nada, encheu-se novamente de coragem e então num gesto mais lento e medido voltou a espreitar, verificando com alívio que não estava ninguém.
Ainda bem, pensou! Saiu devagar detrás do reposteiro que lhe tapava a nudez e perscrutou as janelas do médico solteirão que vivia em frente, confirmando definitivamente que este não estava.

Ouviu então, o som de vidros a quebrarem-se que vinha da porta que dava para o jardim das estufas, e pensou que o seu irrequieto Persa teria feito mais alguma. Correu para lá, tentando perceber o que teria ele partido, na pressa, e esquecendo-se que estava descalça, escorregou indo embater na livreira que tapava toda a parede da sala francesa onde no verão recebia os seus amigos.

Recuperava os sentidos, quando sentiu que alguém a deitava com mil cuidados no sofá, sentiu inexplicavelmente medo de abrir os olhos e cerrou-os com força, ouvindo uma voz que enquanto a tapava com um agasalho quente lhe segredava: Já passou, agora está bem, só um pouco machucada no ombro direito, mas não é nada de importante.
Era a voz dele, do médico, que estaria ele a fazer ali, lembrando-se quase de imediato que estava nua e que tinha estado assim nos seus braços enquanto era transportada para o sofá.

Tentou controlar a respiração para que ele não percebesse que ela já tinha acordado, e pensou na situação em que estava. O que seria que ele iria fazer a seguir, e se a beijasse pensando-a inconsciente? Sentiu de novo o sangue subir-lhe á face e pensou que ele iria reparar, então, sentiu que ele lhe punha algo macio e quente em cima do rosto, que seria? De repente sentiu-se sufocar, e num último esforço ergueu-se, tendo ainda visto de relance o seu gato Persa que subia como um raio as escadas de caracol que levavam ao sótão.

Sentou-se finalmente e pensou… Ele há sonhos bem piores, até que o gajo não é nada de se deitar fora, pena o filha-da-puta do gato ter-me acordado logo nesta altura! Deixando então, escapar um longo suspiro, enquanto um sorriso lhe iluminava a cara ainda ensonada.

A Janela do Pensamento!


Chovia lá fora, ela, encostada à janela desenhava traços sem nexo naquele vidro pouco limpo, que recebia a sua respiração.
Enquanto isso, ele, escondido naquele canto tapado pela chaise-longue, observa-a sem se notar.
Naquele dia completava vinte e dois Invernos, estava sozinha, a serenidade encontrada era visível no rosado da sua face, os cabelos negros caídos sobre os ombros ainda cheiravam aos sais do banho de onde havia saído minutos atrás, enfiara aquela camisola masculina no seu corpo nu, como sempre fazia nestas alturas e como sempre acontecia era assaltada pelas recordações que esta lhe trazia.
Colocou a mão esquerda sobre o peito, e acariciou-o com gestos suaves e cadenciados.
Ele, pela primeira vez mexeu-se mudando para uma posição que lhe dava uma maior visibilidade.
Ela não reparou, continuava absorta nos seus pensamentos e os desenhos sem nexo continuavam a sair do seu indicador para o embaciado que se formara no interior da janela. Mexeu-se, mudando de posição e dando as costas ao seu observador.
Este, iniciou então um avanço lento e cuidado, sabendo que ela não o veria. Então, pela primeira vez ela reparou que o seu subconsciente forçara o indicador a escrever um nome. O seu rosto iluminou-se, e não resistindo leu-o quase gritando, RUDOLFO!
Ele, assustando-se com o grito inesperado, saltou para cima da livreira que ficava na parede fronteira à janela do quarto, reproduzindo durante o salto um enorme e aflito, MIAAAUUUU!!!!!!!
Ela, encostando-se repentinamente à janela, ainda com a mão esquerda sobre o peito, disse: Filho da puta do gato, um dia ainda acabas com o meu pobre coração.

Coisas boas da vida!

Rabanadas de Vinho do Porto borrifadas de Vintage.



Ingredientes – 1 cacete de rabanadas; 1 litro de água; ½ garrafa de Porto LBV; 200 gramas de açúcar; casca de laranja; 4 ovos batidos; 1 ananás dos Açores; 1 litro de óleo de noz; 3 decilitros de Vintage Porto para borrifar as rabanadas e marinar o ananás.

Preparação – Leve ao lume o vinho do Porto e a água, o açúcar e a casca de laranja, deixe ferver durante dois minutos, retire do lume e mergulhe as fatias de pão de cacete de rabanadas nesta calda. Escorra bem, deixe esfriar e passe de seguida por ovos batidos, frite em óleo de noz, escorra bem e coloque sobre folhas de papel absorvente. Passe por canela e açúcar granulado, deixe-as assim a descansar até ao momento de servir. Então no prato, coloque fatias finíssimas de ananás dos Açores, borrife com Vintage Porto ou LBV e por cima uma rabanada e, mais uma vez, dê uma borrifadela com Vintage Porto.

Feche os olhos e sinta os frutos vermelhos, a acidez macerada do ananás e as delícias do Vinho do Porto num cálice a acompanhar.

Receita do Chefe Hélio Loureiro.

TRIBUTO AO TEMPO

Dizem que a vida é curta, mas não é verdade.
A vida é longa para quem consegue viver pequenas felicidades.
E essa tal felicidade anda por aí, disfarçada, como uma criança brincando de esconde-esconde. Infelizmente, às vezes, não percebemos isso e passamos nossa existência colecionando nãos: a viagem que não fizemos, o presente que não demos, a festa à qual não fomos, o amor que não vivemos, o perfume que não sentimos...
A vida é mais emocionante quando se é actor e não espectador, quando se é piloto e não passageiro, pássaro e não paisagem, cavaleiro e não montaria!
E como ela é feita de instantes, não pode e nem deve ser medida em anos ou meses, mas em minutos e segundos.
Esta mensagem é um tributo ao tempo.
Tanto àquele tempo que você soube aproveitar no passado quanto àquele tempo que você não vai desperdiçar no futuro. Porque a vida é agora!
"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver."

Dalai Lama

Hoje, morreu uma Mulher!

Consta que se terá suicidado, no entanto, os factos ainda não estão apurados.

Esta Mulher de 41 anos tinha abdicado de ter filhos, e praticamente, de ter vida pessoal para se dedicar à carreira, que era de sucesso. Directora de uma média empresa multinacional, com um excelente salário e excelentes regalias sociais.

Há muito pouco tempo, por imposição de valores económicos empresariais, tinha despedido uma dezena de trabalhadores, entrou em stress e teve de fazer uma cura de sono, hoje, foi encontrada pela sua empregada já sem vida.

Tudo indica que não terá aguentado a pressão, quem a conhecia, sabia que a palavra falhar não fazia parte do seu vocabulário, e também sabia que não estaria de acordo, com decisões pelas quais tinha de dar a cara e que era obrigada a dar seguimento.
A sua substituição no importante cargo que exercia, já estava equacionada.

Eu conhecia esta Mulher e faço a inevitável pergunta: - Será que valeu a pena tanta entrega e tanto esforço?
Com certeza que não! Que descanse em paz e que algum exemplo seja retirado.


Sobre este caso, um outro post aqui no grunho.

Os Novos Cruzados e os Crucifixos!


Foi com relutância que me propus escrever sobre o tema, não gosto de discutir sobre religião. Sempre achei que a Fé é íntima e a sua discussão diz respeito aos que a professam, se daí não advier mal ao mundo, o que acredito ser o caso. No entanto, faz algum tempo que certos blogueiros começaram uma cruzada contra a Igreja Católica. Não sei o que os move, mas presumo pela insistência com que postam sobre o assunto, um radicalismo exacerbado que chega a tocar as raias do fundamentalismo.
Como é normal, o assunto chegou aos jornais, que, como também é normal, viram nisso mais uma forma de encher papel, como acontece com todo o tipo de notícias irrelevantes e sem interesse que os nossos jornalistas infelizmente se apressam a acoitar de braços abertos.

Portugal debate-se com muitos e importantes problemas derivados da globalização, debate-se com muitos e importantes problemas na educação, mas agora o cavalo de batalha são os crucifixos nas escolas, como se daí viesse algum mal ao mundo. Já não bastavam os franceses com a história das burkhas, agora são estes senhores com a história dos crucifixos, o que só prova que são tão burros como aqueles e por isso gostam de os seguir. Eu que ainda não me decidi sobre a legitimidade da laicidade, contesto-os, mesmo sabendo que o actual panorama intelectual em Portugal, não nos dá outras alternativas para além da democracia laica.

A multiculturalidade que defendo para Portugal, é abrangente, e tolerante com todos, o que inclui os seus credos e religiões, mas parece que há quem assim não pense, e alguns, inclusive que deveriam pensar de outra forma, serem mais tolerantes e os primeiros defensores do conceito de uma mesa para todos, são ao que parece, os principais instigadores, deram em entreter-se constantemente a lançar postas de pescada com bastos sinais de arruaça à religião de outros.
Provavelmente, estará nas suas intenções substituir os símbolos cristãos, por outros, mais consentâneos com as suas religiões, ou então nada querem, são simples incendiários que agridem constantemente os milhares de católicos portugueses, chegando ao desplante de fazerem críticas achincalhantes ás manifestações públicas dos católicos devido ás suas tradicionais procissões, quando ninguém os impede, de expressar a sua fé, se a tiverem, e se quiserem, de igual modo, pois o tempo é de construção de um império universal de tolerância e não o contrário, mas este conceito só é entendido pelos que têm noção do universalismo.

Estes senhores que de incultos nada têm, lêem até muitos livros e costumam fazer bastas referências e interpretações bíblicas, como se os católicos se importassem com as interpretações que eles fazem ou deixam de fazer, não entenderam ainda que o que faz andar o burro não é a albarda, como aos católicos é a sua fé, seja lá ela qual for, que tanto pode ser a Nossa Senhora de Fátima, como o Santo António de Lisboa.

Agora são os crucifixos, amanhã, serão com certeza os desenhos alusivos ao Natal que as crianças tradicionalmente fazem e costumam exibir nas paredes das salas de aula, depois virão os feriados religiosos, as férias da Páscoa e do Natal e chegará o dia em que todo aquele que use um crucifixo pendurado no pescoço será posto em causa.

Tenham juízo, a humanidade é só uma e os seres humanos são todos iguais em dignidade, a não ser que as intenções sejam outras e se procurem fabricar guerras onde não existem. Este povo do fado e dos brandos costumes, tem mais com que se preocupar e coisas mais importantes para fazer do que retirar os crucifixos das paredes de algumas das suas escolas, onde, nem sequer os pais das crianças se preocupam com isso.
O futuro está na coexistência das diferenças. Esta é uma discussão acessória que como tal merece ser relativizada de forma a reforçar como absoluto, o essencial.

Como dizia Sá de Miranda, M´espanto às vezes, outras m´avergonho.