As vinhas da ira. (desafio sobre... leituras)

Não sou adepto da cegarrega das correntes, em parte, se necessária a justificação para não me tornar ridículo, devido ao ruído que transportam. Porém, não me posso esquivar a esta, por dois, quanto a mim e salvo melhor opinião, importantes motivos: primeiro, foi a amiga Kaotica que me desafiou em altura de boa disposição (caso contrário, corria o risco de ver o seu carro riscado na manhã seguinte) e, depois, mas não menos importante, divulgar livros será sempre um motivo maior para quem gosta de ler, independentemente de gostos ou freudeanismos que, na verdade, devendo ser tidos em consideração, não devem ser levados em desmesurada conta, já que, o acto de ler, é um jogo de caminhos que exige maior ou menor elasticidade e inteligência do leitor que, diga-se em abono da verdade, no meu caso é tão limitada que até chateia.

Na pratica, nada mais farei do que dar continuidade ao que já aqui fiz algumas vezes quando sugeri leituras para férias, ou divulguei alguns autores que, em dado momento, me deram momentos de prazer, alguns, inolvidáveis, mas isso, não quer dizer que, outro leitor os tenha na mesma proporção, é o raio do gosto e a concepção de cada um sobre o que é boa e má literatura, e eu, tenho a minha, evidentemente, que já me levou a criticar autores aplaudidos simplesmente porque não gosto, e este não gostar, não é uma posição explicita, ética, moral ou filosófica, nem alberga qualquer tipo de despeito, é assim como um descontentamento por vezes palpável e latente, embora indefinido por falta de outro fundamento que não seja o gosto e, reconheça-se, este tem pouco apoio devido à sua subjectividade, ou então, é o meu fraco entendimento nestas e noutras coisas que não permite enxergar mais além.

Em consciência direi que, existem livros que me ferem e nos quais não consigo mergulhar e outros que me embalam num doce e suave chapinhar, os que me despertam, interrogam e exigem braçada forte para a sua travessia e os que, esporadicamente, me fazem companhia e me emprestam ideias ou memórias, os que repousam nas prateleiras como mosaicos de influência e os que, embora se insinuem, sabem que nunca comerão na minha mão, sendo por isso impossível, qualquer promiscuidade.

Mas falemos de um que me deu a honra de nele poder mergulhar: As vinhas da ira (1939) de John Steinbeck.

Um título altamente simbólico, para uma obra épica, poética e de insofismável cunho sociopolítico, em que, as vinhas, são o verdejante vale da Califórnia que personifica a fartura, o alimento, o trabalho e o bem-estar e, a ira, que conota uma busca frustada, onde a exploração do homem pelo homem alcança picos de terrível injustiça social, moral e física que, tomando o lugar da esperança, transforma-se em desespero, culminando na luta silenciosa das greves, não por melhores salários, mas, acima de tudo, pelo básico, o próprio alimento.
O tema do romance, ao enfatizar que há ainda muito por fazer: “A busca não acaba nunca” nas palavras do próprio autor, procura reforçar e ampliar a consciência de luta social e a necessidade de continuar essa luta: “Nós não vamos morrer. A gente vai em frente - mudando um pouco talvez - mas indo em frente”.

Boa leitura.

Sunday Bloody Sunday



Sem dúvida, Bono Vox líder dos U2, a mais famosa banda Irlandesa de todos os tempos, é um dos mais mediáticos e mais activo defensor dos direitos humanos.
Sunday Bloody Sunday, é o nome da canção que os U2 compuseram em 1983 em memória da tragédia que se abateu sobre os irlandeses no dia 30 de Janeiro de 1972 quando, durante uma marcha de protesto pelos direitos civis da Northerm Ireland Civil Rights association, após a publicação de um decreto do Governo Britânico que permitia a prisão de elementos suspeitos de terrorismo sem julgamento.


Às 14:50, 10.000 católicos reúnem-se no bairro de Creggan com o objectivo de prosseguirem em protesto até à praça de Guildhall. O 1º Batalhão do Regimento de Pára-quedistas do exército Inglês destacado em Derry, na Irlanda do Norte, recebe ordens para avançar sobre os manifestantes, prender o maior número de desordeiros e dispersar os restantes.
A partir daqui as versões divergem; o exército afirma que foi recebido a tiro disparando em legitima defesa. Os católicos, que foram os Pára-quedistas que iniciaram os disparos indiscriminadamente.

A verdade é que, após 25 minutos de intenso tiroteio, 26 activistas, todos desarmados, tinham sido alvejados. 13 católicos (6 dos quais menores) estavam mortos, tendo 5 deles sido alvejados pelas costas e um 14º viria a falecer posteriormente na sequência dos ferimentos.
O inquérito instaurado após o massacre e que, ficaria conhecido como “Sunday Bloody Sunday”, determinou que o exército agira com “alguma irresponsabilidade”, mas aceitou a alegação de legitima defesa e o caso foi rapidamente encerrado.

A partir deste dia que ficou gravado para sempre na memória de todos aqueles que se manifestam contra a opressão e que lutam pelos direitos humanos, e que, foi crucial na história contemporânea do problema político Irlandês, a violência na Irlanda do Norte aumentou exponencialmente e a questão “Sunday Bloody Sunday” permaneceria como uma ferida aberta durante mais de duas décadas, com os católicos a exigirem um segundo inquérito.




A letra:

I can't believe the news today
I can't close my eyes and make it go away

How long
How long must we sing this song?
How long, how long?
Tonight we can be as one
Tonight

Broken bottles under children's feet
And bodies strewn across a dead end street
But I won't heed the battle call
It puts my back up against the wall

Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday

And the battle's just begun
There's many lost
But tell me who has won?
The trenches dug within our hearts
And mothers, children, brothers, sisters torn apart
Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday

Tonight
Tonight
Tonight
Tonight

Wipe your tears away
Wipe your tears away
Wipe your bloodshot eyes

Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday

And it's true we are immune
When fact is fiction and TV is reality
And today the millions cry
We eat and drink while tomorrow they die
The real battle just begun
To claim the victory Jesus won
On a sunday, bloody sunday
Sunday, bloody sunday


Glaciar



Palmas para o espectáculo, se não pensarmos no porquê e respectivas consequências.

E foi um happening.

A história conta-se em poucas palavras e decorre lá por volta de 1971: com o Coliseu dos Recreios a abarrotar, José Manuel Osório canta o Romance de Pedro Soldado (poema de Manuel Alegre publicado originalmente em 1965, que nos fala da guerra e da morte por via da guerra colonial que se iniciara em 1961) nisto, alguém interrompe o espectáculo e proíbe-o de cantar.
Era o odiado e tristemente célebre capitão Maltês que, capitaneava nesses malfadados tempos, violentas cargas da Policia de Choque em Lisboa e não só.
Ary dos Santos salta para o palco e grita: “Se estão proibidas as intervenções políticas cantadas eu vou fazer uma intervenção política rimada”. Dito e feito; o poema que antes fora proibido a José Manuel Osório cantar, foi ali declamado.

Nota: O capitão Maltês devia estar informado que, os discos de José Manuel Osório eram passados por Manuel Alegre na Rádio Voz da Liberdade da Argélia, quanto a Ary dos Santos, não devia ter instruções e não era pago para pensar.


Romance de Pedro soldado

Já lá vai Pedro Soldado
num barco da nossa armada
e leva o nome bordado
num saco cheio de nada.

Triste vai Pedro Soldado.

Branda rola não faz ninho
nas agulhas do pinheiro
nem é Pedro marinheiro
nem no mar é seu caminho.

Nem anda a branca gaivota
pescando peixes em terra
nem é de Pedro essa rota
dos barcos que vão à guerra.

Nem anda Pedro pescando
nem ao mar deitou a rede
no mar não anda lavrando
soldado a mão se despede
do campo que se faz verde
onde não anda ceifando
Pedro no mar navegando.

Onde não anda ceifando
já o campo se faz verde
e em cada hora se perde
cada hora que demora
Pedro no mar navegando.

E já Setembro é chegado
já o Verão vai passando.
Não é Pedro pescador
nem no mar vindimador
nem soldado vindimando
verde vinha vindimada.

Triste vai Pedro Soldado.
E leva o nome bordado
num saco cheio de nada.

Soldado número tal
só a morte é que foi dele.
Jaz morto. Ponto final.
O nome morreu com ele.

Deixou um saco bordado
e era Pedro Soldado.

A superlativa Maria Callas

Se existem árias que ficam para toda a vida, esta incrível Casta Diva, da Norma de Vincenzo Bellini, supera tudo o que é possível imaginar.