A verdade em defesa da mentira, num “post”, aparentemente, longuíssimo

Na vida é assim; cônscios, reflectimos sobre o real ou imaginário, tentamos iluminar o caminho de outros com vetustez e austeridade automatizada e temos sempre no camarote donde assistimos o diagnóstico das ressacas, por vezes, com laçarote até, quando, certeiro, seria sacarmos de soluções, quais resistentes entrincheirados no optimismo, para combater o depósito de valores basilares no museu da evolução humana. Mas é a educação de TV, da balbúrdia dos artefactos e até, caso em apreciação, do suborno para que a verdade, a mais dura e inconveniente, seja dita mesmo que resmungue ou grite à felicidade e destroce a própria família.
Diz o RAP, na “Visão” 811: “o que o Momento da Verdade vem demonstrar, e de forma fulgurante, é que, mesmo a troco de dinheiro, dizer a verdade nunca é boa ideia.”. Ora, se substituirmos a compreensível hipérbole do adverbio de negação “nunca”, por um conservador e ponderado “nem sempre”, concluiremos estar este carregado de razão e, com alguma liberdade poética, podemos sublinhar “que a verdade é um bem precioso, demasiadamente precioso para se partilhar com toda a gente”.
Entrando no domínio da polémica propriamente dita, o assunto dá vontade de falar porque é anedótico discutir a anedota que é este “reality show”, os jornalistas destacam-no e exploram-no, é tema de conversa nos cafés e em blogues e o que não falta é gente a contemporizar com esta mediocridade (sem nuances, porque não vale a pena aguçar o engenho). Tudo isto é triste, incluindo este “post” que aponta o dedinho qual policia dos valores morais dos outros, mas nada inocente se atentarmos na exploração básica a que se prestam estes emoticons tontos ávidos de dinheiro (corruptos?), que regridem a idade mental e engrossam a fileira das falsas virtudes colectivas.
Ou seja, correndo o risco de desenterrar alguns pruridos e passar a ser um traste em quem não se deve confiar: a mentira piedosa, bondosa, elegante, educada (como queiram), tem mais virtude que a verdade besta, imbecil e anti-social, a verdade e a mentira são complementares num aparato linguistico que, tenha uma existência que vá além daquilo que uma pessoa diz a outra numa dada ocasião.

Isto pedia mais alguns argumentos que desmontassem alguma possibilidade de polémica, mas seria ridículo dispensar mais meia dúzia de linhas a este assunto.

Canalha Miúda (breve episódio das férias)

A cena decorre no Sul do País, numa esplanada como já há poucas (perdoem-me o saudosismo), completamente ensombrada por grandes arvores.
Os personagens são o empregado e dois familiares meus e, a protagonista, é uma rasteirinha doce de quatro anos. O ritmo é o de férias, suave, como deve.

O empregado, solícito, espera a finalização do pedido.

A mãe, virando-se para a rasteirinha doce de quatro anos, pergunta:
- Queres um “Ice Tea” de manga?
- Sim!
Olhando o empregado, a mãe termina o pedido:
- É também um “Ice Tea” de manga!
Nisto, a rasteirinha criatura de quatro anos, roda a carola loira, encara o empregado e subvertendo os princípios hierárquicos, qual “franco-atirador” (comas hesitantes), complementa:
- Comprida!

Após uma fracção de tempo necessário à assimilação do singular complemento, o solícito empregado, com manifesto senso de humor, perde a compostura e resgata lá dos confins uma gargalhada que os presentes acompanham.
Claro está, como “bloguiano”, pensei: Ah, tão giro!… este tema dava um “post”. Enfim…
Deixo-vos com um aforismo de Pamuk: “Só os idiotas são verdadeiramente inocentes”.