O lançamento do livro de Pedro Ventura, é hoje pelas 15:30hs na Livraria Pretexto, situada na Rua dos Andrades, 55 em Viseu.
Quem estiver por perto não falte. Para além de ter a oportunidade de adquirir uma obra magnifica, pode ainda, conhecer e trazer como bónus o autógrafo do autor.
Excerto - Resistência Condra enfrenta as hostes darmenérias.
"As horas que se seguiram pareceram breves instantes para uns e uma eternidade para outros. Olhares perdiam-se numa imensidão desconhecida, talvez recordando as suas vidas, as suas famílias, as suas alegrias e tristezas... Na primeira linha da vanguarda condra, um rapaz tremia agarrado à sua lança. Tudo acontecia demasiado depressa para que tivesse uma clara noção do que estava prestes a acontecer, mas o medo esse era bem real... Por um lado apetecia-lhe correr e fugir dali, mas por outro, sentia-se incapaz de se movimentar, como se estivesse hipnotizado por um olhar negro, frio e impiedoso. Tinha tanto para fazer, tanto para viver... Recordou a imagem da sua mãe e uma lágrima escorregou pelo seu alvo rosto... A seu lado um homem corpulento, que tinha sido padeiro numa pequena cidade a norte, olhava as suas mãos, não podendo deixar de pensar em como estas se haviam transformado. Outrora faziam o pão que alimentava e trazia alegria às mesas, agora, essas mesmas mãos seguravam um instrumento destinado a levar a morte a outros homens, homens iguais a tantos que ele outrora alimentara, de quem ele até poderia ser amigo, não fosse estarem sob um estandarte diferente e por isso agora lhes ter um ódio tão profundo... Já não era novo e todos lhe diziam que o seu único amor seria o seu trabalho mas, alguns meses antes do ataque darmenério, enamorou-se de uma mulher, que o correspondia com igual intensidade... Pela primeira vez sentiu-se amado... Ela era bela, demasiado bela para os soldados darmenérios não terem reparado nela... Levaram-na e nunca mais a viu... Ainda tentou procurá-la, mas tudo o que conseguiu foi ser brutalmente espancado por um bando de guerreiros darmenérios embriagados. Nem um beijo lhe chegara a dar... (...)
O exército condra tinha-se esticado em demasia e agora toda a vanguarda estava presa numa sangrenta armadilha. A retaguarda, que não se tinha ainda embrenhado completamente no vale, era assolada pelas flechas dos arqueiros e desmembrava-se rapidamente. Homens corriam assustados em todas as direcções, enquanto outros ficavam imóveis, esperando o seu fim... Mas não se pense que não houve quem tivesse lutado com coragem e ferocidade. Pelo contrário, muitos viram o seu rei a tombar e conseguiram transformar a sua tristeza em força e determinação. Muitos juraram a si próprios vingança, até que sentissem a terra condra debaixo dos seus corpos...
O anónimo padeiro foi um desses homens. Um após outro derrubou os cavaleiros darmenérios que se atravessavam no seu caminho. Nesse momento não pensava, não conseguia sentir nada a não ser uma imensa raiva, que nunca conseguira soltar. Uma flecha cravou-se na sua perna, outra no seu ombro e, mesmo assim, manteve-se de pé, até ser assolado pelo gume de muitas espadas. As suas mãos abriram-se e a lança caiu por terra. Os seus joelhos cederam e tombaram sobre a terra. Nesse momento todos os sons da batalha desapareceram e viu à sua frente o seu forno, a sua bancada, o pão já amassado... Uma nova flecha cravou-se nas suas costas, mas ele nem a sentiu... Caminhava na sua padaria e o Sol da alvorada entrava pela janela. Olhou para as suas mãos abertas e viu-as cobertas de farinha... Sorriu. E sorriu ainda mais quando viu a sua amada entrar pela porta, sorrindo-lhe também.
— Riana... — murmurou.
Então os seus olhos fecharam-se e o seu corpo caiu pesadamente sobre o solo condra...