Motivado pela resposta do Aníbal de Sousa ao post com o titulo “
eleições presidenciais”, quando refere a crise de liderança e de valores no mundo contemporâneo e também a falta de coragem de ter ideias, assim como ao
zedtee pelos seus comentários ao post “
da economia dos afectos”, aqui estou de novo e pela segunda vez a falar do livro de José Gil “
Portugal, Hoje”, que agradeço ao
Rui o dia em que me chamou a atenção para ele.
Segundo este, (José Gil) somos o país por excelência da não-inscrição, que quer dizer, do nada acontece que marque o real, que o transforme e o abra.
Estando o filósofo entre os vinte melhores pensadores da actualidade, e sendo pertinentes as questões atrás enunciadas, nada melhor que dar voz ao mestre e ler as suas palavras:
[...] A leviandade suscitada pela não-inscrição permite que a lei não se cumpra ou que dela se escape, que os programas não se realizem, que não se pense nunca a longo prazo, que as fiscalizações não se façam, que a administração não se transforme realmente, que os projectos de reforma não se executem, que os governos não governem. Nada tem realmente existência. A não-inscrição induz um tempo social particular, só o presente pontual existe; à sua frente está o futuro que se fará sentir apenas com o surgimento-repetição do presente. O futuro, sobretudo o futuro longínquo, não existe, não tem consistência, não se prevê. Porquê? Porque nada há para se inscrever, nem uma ideia para o país, nem um destino individual.
(mais à frente e num outro capítulo)
[...] Por isso o país não se desenvolveu realmente, durante estes anos de riqueza que nos foi oferecida de bandeja (claro, com contrapartidas destrutivas, se nada fosse feito). Não operámos nem revoluções radicais na educação (condição primeira do desenvolvimento), nem criámos planos de reorganização da economia, da administração, de reforma fiscal, de investigação científica ou da saúde. Perdemos – estamos a perder – uma oportunidade única. E o nosso frágil tecido económico esboroa-se dia após dia. Portugal arrisca-se a desaparecer.