Existem questões, que indubitavelmente me preocupam e preocupam todos os que seguem com alguma atenção a vida política e partidária em Portugal. Merecem por isso, e a espaços, uma reflexão mais cuidada. Refiro-me, e para situar a questão, ao desinteresse "aparente" dos portugueses pelos partidos políticos, e pergunto-me, se isso será um mal dos portugueses ou é hoje uma preocupação generalizada do mundo?
Se tivermos em conta, o acontecimento mais mediático com que estamos a ser bombardeados pelos media e que serve de exemplo, o mal é geral.
Refiro-me à eleição nas urnas do Hamas e ao porquê de isso ter acontecido, quando até para eles foi uma surpresa.
Sabemos que a Fatah estava corroída pela corrupção e a designada Autoridade Palestiniana, não ia muito além, de servir de polícia em proveito de Israel e da gerência dos fundos de assistência em proveito dos seus dirigentes. Isto, e a morte de Arafat, foram a gota de água num copo em efervescência. O Hamas, bombista e fundamentalista, arranca a sua vitória essencialmente nas localidades mais pobres, onde, trouxeram restrições às mulheres mas também a comida, a água, a electricidade e essencialmente a esperança que derrotou a corrupção dos dirigentes da Fatah.
Tendo em conta este exemplo, pelo que de mau tem, e passando à sociedade portuguesa, ressaltam duas questões:
1 - Porque ganha Cavaco Silva as eleições presidenciais.
2 - Porque fica Manuel Alegre em segundo com mais de um milhão de votos.
No primeiro caso, Cavaco distancia-se dos partidos, tentando assim tornar a sua candidatura apartidária e creio que com dois motivos de peso:
a) A necessidade de ganhar votos à esquerda sem o que não seria possível a sua eleição.
b) Demarcar-se da imagem maculada de compadrios e corrupção que os partidos lhe poderiam trazer.
Isto, com uma estratégia montada pelo seu staff para o fazer parecer um Icon de honestidade, competência e firmeza, apelando ao subconsciente sebastianista dos portugueses, resultou numa vitória à primeira volta.
No segundo caso, a estratégia da candidatura de Alegre, diferente em muito da estratégia de Cavaco, é no entanto similar, devido à sua não vinculação a qualquer partido e até entendido por alguns, entre os quais me incluo, que concordando serem os partidos essenciais ao funcionamento da democracia, ter no entanto, chegado a altura de gritar um sonante basta a esta encruzilhada entre partidos e cidadãos.
Poderiam alguns pensar, que o voto no Alegre seria um voto contra o Sócrates, mas a evidência da cotação de popularidade de Sócrates, se manter após as eleições, arruma de vez com esta linha de raciocínio.
Então, e tendo em conta que a indefinição politica do movimento Alegrista, sobre o que fazer com um milhão de votos de mudança, terminou na criação de um movimento cívico de cidadãos, podemos concluir, que estes foram de facto um aviso sério aos partidos.
Se tivermos em conta, a diversidade das sociedades no momento actual, em que, nenhum partido pode almejar ter os votos dos seus fiéis como se fora um clube de futebol, isto porque, as pessoas não se identificam com os partidos em todos os momentos, concluiremos, serem os partidos os únicos causadores da sua desgraça, até porque, não foram os cidadãos que se desinteressaram da politica, mas sim a actividade politica que perdeu o interesse nos cidadãos.
Hoje, a politica, aponta todas as suas baterias, para as grandes e faraónicas obras, para os grandes grupos económicos e para o economicismo, chegando, não poucas vezes a parecer, que o vulgar cidadão, o Zé contribuinte, só cá está a atrapalhar.
Sendo os partidos o garante da democracia, devem estes, tudo fazer para que a administração governe, e bem, no interesse dos cidadãos e o que vimos, é na maioria das vezes o contrário, ou se governam a eles ou para eles ou para grupos restritos da sociedade.
Chegou a hora da decisão, os partidos têem pela frente três anos sem eleições, que diga-se, é um período de tempo razoável para o estudo da questão, e para a interiorização das mudanças necessárias.
É urgente que o façam, e que tenham em consideração a última sondagem Eurobarómetro, que é demonstrativa da confiança dos portugueses. É que, segundo aquela sondagem, só lhes restam 20% dos portugueses, o que abre caminho ao impensável. E por isso o exemplo das eleições palestinianas.
Dizia Jorge Luís Borges, no seu livro El Informe de Brodie: “Creo que un dia mereceremos que no haya gobiernos”.
Talvez um dia, mas ainda não é este o tempo.
Se tivermos em conta, o acontecimento mais mediático com que estamos a ser bombardeados pelos media e que serve de exemplo, o mal é geral.
Refiro-me à eleição nas urnas do Hamas e ao porquê de isso ter acontecido, quando até para eles foi uma surpresa.
Sabemos que a Fatah estava corroída pela corrupção e a designada Autoridade Palestiniana, não ia muito além, de servir de polícia em proveito de Israel e da gerência dos fundos de assistência em proveito dos seus dirigentes. Isto, e a morte de Arafat, foram a gota de água num copo em efervescência. O Hamas, bombista e fundamentalista, arranca a sua vitória essencialmente nas localidades mais pobres, onde, trouxeram restrições às mulheres mas também a comida, a água, a electricidade e essencialmente a esperança que derrotou a corrupção dos dirigentes da Fatah.
Tendo em conta este exemplo, pelo que de mau tem, e passando à sociedade portuguesa, ressaltam duas questões:
1 - Porque ganha Cavaco Silva as eleições presidenciais.
2 - Porque fica Manuel Alegre em segundo com mais de um milhão de votos.
No primeiro caso, Cavaco distancia-se dos partidos, tentando assim tornar a sua candidatura apartidária e creio que com dois motivos de peso:
a) A necessidade de ganhar votos à esquerda sem o que não seria possível a sua eleição.
b) Demarcar-se da imagem maculada de compadrios e corrupção que os partidos lhe poderiam trazer.
Isto, com uma estratégia montada pelo seu staff para o fazer parecer um Icon de honestidade, competência e firmeza, apelando ao subconsciente sebastianista dos portugueses, resultou numa vitória à primeira volta.
No segundo caso, a estratégia da candidatura de Alegre, diferente em muito da estratégia de Cavaco, é no entanto similar, devido à sua não vinculação a qualquer partido e até entendido por alguns, entre os quais me incluo, que concordando serem os partidos essenciais ao funcionamento da democracia, ter no entanto, chegado a altura de gritar um sonante basta a esta encruzilhada entre partidos e cidadãos.
Poderiam alguns pensar, que o voto no Alegre seria um voto contra o Sócrates, mas a evidência da cotação de popularidade de Sócrates, se manter após as eleições, arruma de vez com esta linha de raciocínio.
Então, e tendo em conta que a indefinição politica do movimento Alegrista, sobre o que fazer com um milhão de votos de mudança, terminou na criação de um movimento cívico de cidadãos, podemos concluir, que estes foram de facto um aviso sério aos partidos.
Se tivermos em conta, a diversidade das sociedades no momento actual, em que, nenhum partido pode almejar ter os votos dos seus fiéis como se fora um clube de futebol, isto porque, as pessoas não se identificam com os partidos em todos os momentos, concluiremos, serem os partidos os únicos causadores da sua desgraça, até porque, não foram os cidadãos que se desinteressaram da politica, mas sim a actividade politica que perdeu o interesse nos cidadãos.
Hoje, a politica, aponta todas as suas baterias, para as grandes e faraónicas obras, para os grandes grupos económicos e para o economicismo, chegando, não poucas vezes a parecer, que o vulgar cidadão, o Zé contribuinte, só cá está a atrapalhar.
Sendo os partidos o garante da democracia, devem estes, tudo fazer para que a administração governe, e bem, no interesse dos cidadãos e o que vimos, é na maioria das vezes o contrário, ou se governam a eles ou para eles ou para grupos restritos da sociedade.
Chegou a hora da decisão, os partidos têem pela frente três anos sem eleições, que diga-se, é um período de tempo razoável para o estudo da questão, e para a interiorização das mudanças necessárias.
É urgente que o façam, e que tenham em consideração a última sondagem Eurobarómetro, que é demonstrativa da confiança dos portugueses. É que, segundo aquela sondagem, só lhes restam 20% dos portugueses, o que abre caminho ao impensável. E por isso o exemplo das eleições palestinianas.
Dizia Jorge Luís Borges, no seu livro El Informe de Brodie: “Creo que un dia mereceremos que no haya gobiernos”.
Talvez um dia, mas ainda não é este o tempo.