Para os que engolem antes de provar


Escreveram-me dois seres indignados; um orangotango e um babuíno, cujas respectivas orientações sexuais não tenho o prazer de conhecer e descarregaram a bílis; primeiro no meu e-mail e depois na caixa de comentários que felizmente está protegida contra ameaças à saúde pública.
No entanto, acredito, que por detrás de supostos estatutos morais, éticos, filosóficos, etc., produzidos pela medula destes caridosos seres despeitados e desnutridos de qualquer materialismo dialéctico, está um respeito sincero (razão da atenção dispensada à humildade de génio e superioridade magnânima do autor deste post) que considero ser necessário alimentar em vez de destruir.
Sei que, vivemos tempos moralmente dissolutos, tempos em que é urgente resgatar uma certa corrente filosófica que dá relevância primordial ao que, em cada sociedade ou civilização, se herdou do passado como hábitos e procedimentos razoáveis, e é nessa conformidade que todos merecem a oportunidade de se retractarem de forma a harmonizar na medida do possível os valores em causa.
Sabemos que há uma fracção da "população que se destingue" por carregar as malas dos outros, mas, estes seres, muito embora de sociologia simples, estão longe de se constituir como uma entidade sociologicamente coerente, são, antes, um grupo profundamente perdido numa fronteira inusitamente clara: como não são grandes máquinas na prudência e cálculo das consequências das suas acções, abocanham competências para que não estão preparados devido à sua herança genética, ou seja, a sua cultura é o reflexo de meia dúzia de idas ao café onde, entre bagaços, adquirem dotes para tudo o que é mesquinho e reles na lógica das velhacas traicõezinhas para abrilhantar o ego, próprias de quem não tem coluna vertebral.

Sei que ainda tinha em mente mais uma palavrinha ou outra para este grupo de seres que coça os testículos enquanto conversa com alguém, mas por agora só me recordo da dos filhos da puta, fica, pois, para outra ocasião.

Entrada posterior: A Alice Macedo Campos, voltou e está AQUI.

O primeiro é com mel de rosmaninho

Chove na minha rua, olho através dos pingos que escorrem na janela donde espreito o dia e hesito na intenção de me vestir e sair. Hoje a indulgência não anda por aqui, talvez por isso, de pensamento vagabundo e uma módica ponta de ironia, mando bugiar o tempo já que está tempo para isso… sem pormenores, sem banalidades, sem precisar fazer sair a fala não se vá esta espojar nas costumeiras expressões indelicadas onde só se atiram as frases.
Assim, de forma irrepreensivelmente irrepreensível, papo um, dois, três noticiários… ouço alguns democratas do champanhe e caviar ideológico, avessos a análises desapaixonadas e despartirizadas, proferirem nas suas brincadeiras opiniáticas tantos e absolutos imperativos categóricos que já não respondem às múltiplas situações dilemáticas que surgem, que me dão vontade de os correr a varapau… que corjazinha… que caquinha esta que nos tenta enfiar o garruço… que rico novo ano que não se abre à análise e avaliação de contextos… veio parecido com a modorra que tomou conta do país em tempo de self-fulfilling prophecies… mudam as moscas mas a dimensão da alma humana continua igual, nada de tolerância no edifício atraente que é livrinho dos pascácios…
Para quando a regeneração?… Para quando uma ética de responsabilidade solidária?…
Que filho-da-puta de tempo este o tempo de se tirar o chapéu aos taralhoucos irreverentes e malcriados e aos eruditos dos bons princípios e gorduras democráticas donos de muita asneira de porte considerável?
Que filho-da-puta de tempo este!?…que vá bugiar mais essa cambada de chupapiças pouco fiáveis! (ui, lá me saiu, mas como diria a minha amiga Maria, pessoa de esmerada educação, que se foda!)
Está tempo para ler os Simples do Junqueiro.