Se calhar não devia fazer isto, ou devia faze-lo de forma cândida e menos óbvia mas, o agricultor (?) que comentou os últimos posts suscitou-o, por andar distraído e não saber da inteireza, ou antes, a ponta de um corno da história dos dois clubes e muito menos o que é um adepto de clube que nunca esmorece, embora, às vezes, também ressaque.
Meu caro Zé da Quinta, esta modernice dos benfiquistas odiarem mais o Futebol Clube do Porto do que o Sporting, não está com nada, não me convence e deixa-me desconfiado da patologia e do irreversível quadro clinico lá para as bandas da cesta vermelha que até me aperta o peito e causa ansiedade.
No entanto, estou
tranquilamente convencido que devido à instalada mingua de resultados, olham de soslaio a constância do tempo e ressacam da amargura e remorso em que navegam, servindo-se para isso de drible tosco como crianças com medo do monstro das bolachas, por forma a apaziguar ódios conquistados durante anos. Anos esses, que minaram os alicerces fundamentais de um edifício que até podia ser atraente (!?) e de uma convivência saudável, inviabilizando assim,
in limine, qualquer possibilidade de diálogo e, embora eu admita deficiente entendimento destas coisas e nas sociedades modernas seja mais ou menos axiomático que, gostos e crenças dos outros devem ser tolerados com alguma candura, o provincianismo, o comportamento soprado e a liberdade de inconsciência com que disparam pseudotranscendentais opiniões, não deixa (abrimos aqui uma excepção para os menores de idade, bêbados e loucos) que se encontrem palavras capazes de substantivar alguma qualidade.
Meu caro Zé da Quinta, os adeptos sportinguistas, são bem diferentes de gajas ou gajos no estádio a gritar o redondo refrão obsessivo e psicopatológico "ninguém pára o Benfica”, embora, no primeiro caso (as gajas) exista o gosto por reinventar formas de estar, esquecem que é contemplando as ruínas que se alimentam as almas românticas. Mas, o futebol continua a ser uma área onde não se concede tréguas ao adversário nem se muda de rival qual maria-vai-com-as-outras, porque adepto que é adepto, tem o clube no coração como uma extensão de virilidade, uma coisa epidérmica que, por exemplo; se revela ao detectar um benfiquista a discursar sobre futebol como um protector band contra aves de rapina, desencadeando um principio activo do tipo deltametrina eficaz contra flebótomos e carraças, principalmente quando, os ouvimos falar dos milhões que são, esquecendo como a lenda nasceu, e é coisa que conto mais à frente com uma risadinha amarga e, no palato, um doce sabor a sangue.
A mim, enquanto adepto e sócio do Sporting não compete a ética, nem disfarçada com manjericão e cebolinho, isso é coisa para o meu excelso presidente. Como adepto, reajo qual “Charlie” emboscado no mato, festejando as vitórias do meu clube e as derrotas do arqui-rival como quem come um tornedó de bife Angus ou umas gambas de Madagáscar, e o meu breviário escorre quente e simples, expresso em tempo de acção e etapas concretas, ao contrário do adepto benfiquista que vivendo em permanente lobbying se situa num plano de realidade diferente onde, os mesmos nomes designam coisas diversas e os factos mudam de tamanho com a alternância das marés. Para além de tudo isso e talvez por ter o pensamento confinado à sala de triunfos passados, é nostálgico e vive em permanente crise de reconquista do poder.
Meu caro Zé da Quinta, depreendo das suas palavras que gostaria de se lastimar comigo ou então que ungíssemos o corpo e de mãos dadas, todos nus, nos fossemos manifestar contra o preço das mortalhas, acontece que, terá de o fazer sozinho, e já agora que acabou o “Fiel ou Infiel” faça também a oração da bunda.
Nota de sachola e risadinha amarga, ao cuidado do Zé da Quinta:
Um dia, o menino de oiro dos milhafres (nesse tempo vocês ainda não sabiam o que era uma águia, qualquer espécime avícola bastava), discutia com uns colegas quem tinha mais adeptos; se o Sporting, se o Benfica, e, passando à prática, perguntou a todos os que estavam ao seu redor o clube a que pertenciam, chegando à óbvia conclusão (e já vai perceber a razão do “óbvia”) que 60% eram benfiquistas. Rapidamente se fez a ponte para o espectro nacional nascendo assim a lenda dos seis milhões. Ora, este drible matemático em tão belos pés, teria porventura algum, embora fraquinho, resquício de credibilidade se a sondagem não tivesse sido feita no restaurante do Benfica, depois do treino da manhã e em dia de cozido à portuguesa bem regado com tinto, onde, o sapiencial Gaspar Ramos qual apóstolo da extinção da verdade e sem a necessária percepção ocular logo encontrou conceito explicativo, enterrando ali a natureza indomável das normas exactas e tornando obesos os bovinos, que é como quem diz; assim se engordou o gado.
E, já que estou com a mão na massa, aqui vai mais uma sem a excessiva saturação das justificações: como sabe, o seu presidente, pessoa que vive na ilusão que a televisão confere sabedoria, movendo substancialmente os músculos suprafaciais perante uma plateia de rolos de lã insegura e desinformada, expôs o estado deplorável dos seus conhecimentos expelindo a mirabolante bacorada de serem o primeiro clube do mundo a ter uma sinfonia.
Ora, chegou-me ao canal aditivo por boca de confiança, que os adeptos do Middlesbrough Football Club naquela manhã de verão ou tarde de inverno, sei lá, quando souberam deste estapafúrdio, ficaram de tal forma devastados que decidiram apanhar o Intercidades e vir até Lisboa prestar a sua homenagem.
Para os dear friends adeptos do Benfica, que se tenham sentido desagradados com este post, declaro que, nunca pretendi insultar a inteligência daquela ínfima minoria de benfarosas que tem uns gramas de ideias próprias .
I’m lovin’it.