Leio Dostoievski, no livro "Noites Brancas", e sublinho de passagem o sublime simples como recado a alguém: "Nunca esquecerei a história duma linda e pequena casa cor-de-rosa claro. Era uma casinha de pedra, olhava-me com um ar tão afável e mirava tão orgulhosamente as suas frias vizinhas, que o meu coração se alegrava sempre que passava diante dela."
E, relendo “As grades” de Sophia, sinto que a poesia existe, tanto na forma como se sente o que se lê, como vendo o rosto belo da mulher de primavera que Boticelli cristalizou na sua plenitude e abstraio-me do verão, subverto-o até o conseguir pressentir, e escrevo na memória um conto sobre o contador de histórias que declama a rosa descosida das sombras das suas pobres vestes, e não me surpreendo por o silêncio se demorar nas minhas mãos quando concordo com Caeiro:
E, relendo “As grades” de Sophia, sinto que a poesia existe, tanto na forma como se sente o que se lê, como vendo o rosto belo da mulher de primavera que Boticelli cristalizou na sua plenitude e abstraio-me do verão, subverto-o até o conseguir pressentir, e escrevo na memória um conto sobre o contador de histórias que declama a rosa descosida das sombras das suas pobres vestes, e não me surpreendo por o silêncio se demorar nas minhas mãos quando concordo com Caeiro:
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando a janela abre.