Um dia quando o céu já era azul e o orvalho da noite ainda se notava, o menino de forma audível e convicção inabalável, disse à mãe que não a amava.
A mãe tropeçando no ar sério do menino, sentiu aquelas palavras como pedras nas mãos de fadas caprichosas e a partir desse dia chorou, chorou, chorou…
Já cansado de tanto a ver chorar e intuindo a sua fraqueza, foi com olhar faiscante e uma vibração quase imperceptível, que o menino disse que não gostava mais dela.
E a mãe julgando-se de parcos méritos; chorou, chorou, chorou ainda mais, muito mais e de forma que parecia torrencial.
Outro dia, o menino surdo à sua dor, disse-lhe estar muito zangado por ela não parar de chorar.
A partir desse dia e em silêncio, tanto mais embaraçoso quanto mais se prolongava, a mãe chorou, chorou e chorou para si, para dentro e no silêncio das facas.
Finalmente, o menino, com trejeitos corporais de gente enfastiada, disse em tom de impune ameaça, que por ela andar sempre tão triste a odiava.
A mãe do menino olhou-o, olhou-se dentro de si e sentiu a inquietação e o receio… e de forma plena, quase sublime, com a mão puxada da alma ébria de lucidez, deu-lhe uma enorme bofetada. Tão grande, tão grande, mas tão grande, que o menino ficou com a face toda inchada.
A partir desse dia a mãe do menino nunca mais chorou, e o menino descobriu que para além de um enorme carinho, a amava desveladamente, em cada dia de céu azul, em cada noite de orvalho.
27 comentários:
....em cada momento de in.lucidez. em cada minuto de pranto vivo e de lágrimas uterinas...em cada momento orvalhado de inquietação e de pavor de nunca se saber o momento certo de chorar a vida que se levanta todos os dias....
como pedra como lava ou apenas como destino caprichoso.
beijo.
(gene de contador de histórias)
Que menino, algum dia, já não disse isso à sua mãe. Meus dois já me disseram. Mas... como um dia já fui "moleque" entendo bem os caminhos. Não precisou nem a bofetada, só os limites.
Saudades de você!
Boa tarde PiresF.
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Caro PiresF
Um excelente conto. :)
Nada como pôr o gene destrutivo no seu devido lugar.
Um abraço e uma boa tarde para si
A tua desconstrução é perfeita.
incomentável!
para reler e reler. qua afinal a vida não é ficção.
um abraço grande.
As lágrimas não param a quase crueldade das crianças... Um belíssimo texto que nos inquieta e nos comove.
Um beijo, primo.
Gotei muito , vou voltar mais vezes.
boa continuação
Bom dia PiresF
que bom voltar ao cognitivo da palavra.
e do fundo da exaustão do amor
uma réstea lúcida que lavra o gesto.
amar tem que ser, mais que um destino de lágrimas.
e deixo-lhe desveladamente
um beijo
Carissimo
o teu texto não deve ser distribuído nas escolas por razões que me parecem óbvias
mas é imprescindível ser amplamente divulgado aos jovens casais
Eu já não vou a tempo
nem para dar nem para apanhar
mas ainda tentamos
Abraço amigo
adorei;)
eu venho, leio, revenho, releio...
e espanto-me com uma verdade tão evidente, assim contada.
beijo, querido PiresF
Caro PiresF
Tenho andado a "namorar" este texto. Fabuloso.
A forma como anuncia definitivamente o génio e a matéria dos grandes educadores, é brilhante.
Como sempre, um desfecho surpreendente.
Diria minha avó:
"... só se perderam as que cairam no chão".
Deixo-lhe um beijo e o desejo de um bom fim-de-semana.
Portuga querido!
Lindo texto!
Beijokas estaladas da prima Brazuca!!
...nada como uma boa bofetada para lavar a alma e acordar pra vida.
e
de pequenino é que se torce o pepino
:)
já te tinha lido...excelente conto.
deixo-te um beijo
enorme e muito amigo
Isto sim, é a arte de bem escrever, bem contar. às vezes necessitamos da bofetada para acordar.
Excelente conto, que nos revela algumas lições e com uma grande sensibilidade na forma como é exposto.
Abraço
Um conto diferente, que flerta com o surreal e pisca para o nonsense. Porém, nonsense com certa ordem, alíás, análoga àquela apregoada pelos quânticos.
Por falar em analogia, prezado Pires F, não seria, também, a volta da palmatória na escola, um impulso à melhoria da qualidade do ensino? No meu tempo de menino, pairava uma sentença no ar: "ou estuda, ou leva pau". :)
Um abraço e bom Domingo!
Lindo e verdadeiro!
Depois, depois mãe embala mas deve também educar o sentir...mesmo cm tabefe.
O tempo não corrige, apaga. Mãe corrige e nunca apaga o amor.
Bj.
No fundo no fundo
é mais um pequeno conto para reflectirmos o essencial na educação, onde a moral de cada conto é o que mais interessa.
Deste, levo a questão permanente "será que estou a fazer o que é certo"? Esta pergunta nunca se apagará do meu pensamento. Mas atenuou-se aqui.
Um beijo
P
Bom texto!
Parabéns pelo blogue
Abraço
pergunto:
por onde anda a pena do escritor?
enfim.
aguardemos.
beijo com beijo.
Antes de qualquer coisa, estou muito agradecido com a rapidez e presteza de sua resposta. Em relação ao seu antigo blogue, a variedade e a qualidade do material lá postado me fez crer que era um desses sítios que contém a colaboração de vários escritores. Agora dando uma passada por aqui e vendo o que você andou escrevendo, só reforça o quanto vocês, irmãos de língua, têm lirismo até o fundo da alma.
Parabéns.
olha....reapareceu o PiresF!!!!!
em "utilissima hora!"
desejo Sucessosssssssss!!!!
Amigo PiresF
como já tive oportunidade de conversar consigo sobre os contos que escreve, de como os considero utilíssimos, descobri recentemente referências em Rilke e em outros autores, relatando e classificando contos semelhantes como "philo-fables" - "filofábulas" como traduziu Laurinda Alves num artigo do Jornal i.
São assim, filofábulas por nos transmitirem noções essenciais sobre os vários sentimentos, valores, justiça e por aí a diante.
Então, aqui está, caso aceite, a classificação mais correcta para os seus contos, são "filofábulas", por nos fazerem reflectir filosoficamente a partir de pequenas fábulas ou contos.
Guardei o recorte deste artigo. Hei-de fazê-lo chegar às suas preciosas mãos.
Beijo
Querida Maresias.
Quem lê, tem a palavra. Fico a aguardar o artigo que desde já agradeço.
Beijo.
Estou conhecendo hoje esse blog e devo dizer que os contos me agradaram muito! É bom poder encontrar um lugar onde podemos refinar nossa sensibilidade e reflexão.
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