A verdade em defesa da mentira, num “post”, aparentemente, longuíssimo

Na vida é assim; cônscios, reflectimos sobre o real ou imaginário, tentamos iluminar o caminho de outros com vetustez e austeridade automatizada e temos sempre no camarote donde assistimos o diagnóstico das ressacas, por vezes, com laçarote até, quando, certeiro, seria sacarmos de soluções, quais resistentes entrincheirados no optimismo, para combater o depósito de valores basilares no museu da evolução humana. Mas é a educação de TV, da balbúrdia dos artefactos e até, caso em apreciação, do suborno para que a verdade, a mais dura e inconveniente, seja dita mesmo que resmungue ou grite à felicidade e destroce a própria família.
Diz o RAP, na “Visão” 811: “o que o Momento da Verdade vem demonstrar, e de forma fulgurante, é que, mesmo a troco de dinheiro, dizer a verdade nunca é boa ideia.”. Ora, se substituirmos a compreensível hipérbole do adverbio de negação “nunca”, por um conservador e ponderado “nem sempre”, concluiremos estar este carregado de razão e, com alguma liberdade poética, podemos sublinhar “que a verdade é um bem precioso, demasiadamente precioso para se partilhar com toda a gente”.
Entrando no domínio da polémica propriamente dita, o assunto dá vontade de falar porque é anedótico discutir a anedota que é este “reality show”, os jornalistas destacam-no e exploram-no, é tema de conversa nos cafés e em blogues e o que não falta é gente a contemporizar com esta mediocridade (sem nuances, porque não vale a pena aguçar o engenho). Tudo isto é triste, incluindo este “post” que aponta o dedinho qual policia dos valores morais dos outros, mas nada inocente se atentarmos na exploração básica a que se prestam estes emoticons tontos ávidos de dinheiro (corruptos?), que regridem a idade mental e engrossam a fileira das falsas virtudes colectivas.
Ou seja, correndo o risco de desenterrar alguns pruridos e passar a ser um traste em quem não se deve confiar: a mentira piedosa, bondosa, elegante, educada (como queiram), tem mais virtude que a verdade besta, imbecil e anti-social, a verdade e a mentira são complementares num aparato linguistico que, tenha uma existência que vá além daquilo que uma pessoa diz a outra numa dada ocasião.

Isto pedia mais alguns argumentos que desmontassem alguma possibilidade de polémica, mas seria ridículo dispensar mais meia dúzia de linhas a este assunto.

19 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

é verdade.

é mentira.


a verdade da mentira é sempre um dardo em tiro ao alvo na quadratura da verdade aparente.

volto mais tarde. quando tiver mais verdades para dizer àcerca da mentira.

:))))
o tema é basto aliciante. verdade que é.


____________________.bjjo.

mac disse...

A verdade dói, e por mais que não queiramos acabamos sempre por contornar a verdade, e disfarçá-la com umas florzinhas. Se fossemos sempre verdadeiros, as relações sociais não sobreviveriam...Já se imaginou dizer àquele colega chato o que verdadeiramente pensamos dele? Ou pior ainda: dizer ao nosso chefe que o achamos incompetente e o detestamos...Seria lindo...

isabel mendes ferreira disse...

" A vida pode ser sentida como uma náusea no estômago, a existência da própria alma como um incómodo dos músculos. A desolação do espírito, quando agudamente sentida, faz marés, de longe, no corpo, e dói por delegação....."

Bernardo Soares....na "des.montagem" da mentira existencial....muro da verdade a ser consciência....


digo eu...

bom dia!!!!!


_________________.

Anónimo disse...

Caro espreitador...

A minha opinião acerca deste tema é um pouco dura mas acho que a verdade é sempre a aposta mais acertada. Podemos magoar com a verdade mas com a mentira ferimos ainda mais profundamente tendo em conta que a verdade vem-se sempre a saber. Mas no caso de decidirmos mentir temos de pensar se a pessoa a quem vai ser dita essa mentira merece. E nunca se esqueça a verdade doi mas a mentira pode fazer uma ferida que irá de certeza custar a sarar... dias, meses,anos...
__________________________
Abraço

A.F.D

Anónimo disse...

Julgar os discursos dos homens através dos efeitos que produzem equivale frequentemente a apreciá-los mal. Tais efeitos, para além de nem sempre serem sensíveis e fáceis de conhecer, variam infinitamente, tal como as circunstâncias em que esses discursos são proferidos.
A intenção daquele que os profere, porém, é a única que permite apreciá-los e que determina o seu grau de malícia ou de bondade. Proferir afirmações falsas só é mentir quando existe intenção de enganar, e mesmo essa intenção, longe de se aliar sempre à de prejudicar, tem por vezes um objectivo oposto. Todavia, para tornar inocente uma mentira, não basta que a intenção de prejudicar não seja expressa, é necessário também ter a certeza de que o erro em que se induz aqueles a quem se fala não poderá prejudicá-los a eles nem a ninguém, seja de que maneira for. É raro e difícil ter-se essa certeza e, por isso, é difícil e raro que uma mentira seja perfeitamente inocente.

Jean-Jacques Rousseau, in 'Os Devaneios do Caminhante Solitário'

A.F.D

isabel mendes ferreira disse...

obrigada.

pelo comemt. Imerecido.

(O Pinharanda só não me mata por ser um Elegante)
:)~



bjo.

Manuel Veiga disse...

prefiro a "efabulação" da mentira!

à verdade, oponho a autenticidade!...

abraço

tb disse...

se todos fossemos transparentes e inocentes como as crianças, como seria o mundo?!
Jogos que os adultos inventam, jogam, consentem para se sentirem importantes no universo.
Mas o universo... esse gira completamente indiferente.
Um grande abraço com muita amizade

Mar Arável disse...

Sinceramente

porque todas as verdades são relativas

prefiro as minhas convicções

isabel mendes ferreira disse...

grata pela "tecla" mas como sabe o mérito é todo da TB.

.



beijo.

isabel mendes ferreira disse...

grata pela "tecla" mas como sabe o mérito é todo da TB.

.



beijo.

Isabel Victor disse...

Sobre "verdades" tenho pouco a dizer e sobre "A VERDADE" não sei mesmo nada !


O que sei é que há instantes felizes ... e ideias luminosas.

Encontrei este site de entreajuda que me parece um bom exemplo (o prazer imenso de fazer sonhar ... de tornar viáveis ideias que funcionam ). Espreita ...



Deixo-te um beijo

Obrigada pela visita e pelo sorriso ...



iv*

Isabel Victor disse...

E com toda esta lenga.lenga não deixei o tal site :))

_______ !


http://www.kiva.org/

Anónimo disse...

A verdade e os verdadeiros motivos de as termos...
Por vezes penso como Nietzsche "A verdadeira pergunta é: o quanto da verdade você é capaz de suportar?" Muitas pessoas pedem a verdade mais não sabem o peso das mesmas, mas ao ler aqui “que a verdade é um bem precioso, demasiadamente precioso para se partilhar com toda a gente”, e quantas vezes ela fica ali enroscada no canto da boca, no olhar furtivo e no riso seco...
Que seja verdade e verdade que se é...

Abraço amigo e uma ótima semana.

(...)
Em especial não minta a si mesmo. Quem mente a si mesmo e escuta a própria mentira acaba por não discernir a verdade, e perde o respeito por si e pelos outros.
(...)
{Os Irmãos Karamazov, F.Dostoievsky}

intruso disse...

A verdade da mentira... e as "mentiras" que cabem na verdade.

Já li algures que "mentira e verdade são gémeas..."
[...ou realidade e reflexo, num espelho distorçido]
(talvez...)

obrigado pela visita
abraço

p.s.
vou linkar o espreitador por lá.

Anónimo disse...

E Pinharanda Gomes diria que nem sempre a verdade é.Tão pouco a mentira. Ou o fingimento. Artes da mesmmíssima face nocturna onde o desafio existencial obriga à abstracção da liberdade.
Enfim.
A filosofia ainda é.


Bom dia. Por aqui. Espera-se o desenrolar da trama "besta, imbecil e anti-social", para o citar, Pires F.

Anónimo disse...

olhe ilustre PiresF, entre a mentira e a verdade há tanta coisa.....:( quiça (de onde me veio isto?) uma estrada de sujeições.
de toda a maneira vale o seu post como reflexão.


vou reflectir.

casa de passe disse...

Com tantas verdades/mentiras, com tantas opiniões abalizadas, só nos resta pedir-lhe que,
venha descansar das suas filosofias
no nosso ombro ...
(hoje o joão anda por lá mas, como tb está numa de filosofices, o nosso ninho é um sofá mais seguro. Ora venha cá sr. espreitador!)

(Loulou + Nini sem o safado do João)

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

e que feio o mundo seria sem a poesia que não é senão uma fantasia-verdade tão bem mentida!