Aqui a atrasado no lançamento do livro de um amigo, muito se disse e muitas interpretações se ouviram a quem se pronunciou. No final, o autor, em roda de amigos confidenciava: não supunha ter escrito o livro de que falaram.
Não o fez em tom de zombaria, antes o contrário, confirmando que uma obra não se esgota quando o seu autor a termina.
Não o fez em tom de zombaria, antes o contrário, confirmando que uma obra não se esgota quando o seu autor a termina.
Reflectindo sobre as palavras que uma amiga em tempos escreveu, concluí que uma obra, qualquer obra, nunca está completa; passa a ter outras histórias que são as interpretações que cada um lhe faz, e isto justifica-se essencialmente porque o ponto de partida não é o mesmo da chegada. Ou seja: um artista comunica com os outros por uma linguagem diferente, seja a do discurso escrito, das tintas, da pedra... e fá-lo por sentir a urgência de “dizer” algo que de outra forma não é capaz, por sentir a insuficiência das palavras procura imagens ou texturas ou sons... criada a obra, ela passa a ter vida própria e uma lógica própria, ultrapassa o criador retendo deste a assinatura e o desejo de algo. Tentar dizer algo “sobre”, seria quase o mesmo que calar um filho, considerá-lo mudo e incapaz de falar de si e do mundo.
A obra, qualquer obra, tem vida própria, ganha essa vida ainda antes de acabada, quando “diz” como quer ser... um quadro pede cores e traços, um texto foge ao traçado inicial quando as palavras se impõem como uma força que escapa ao controle. O raciocínio a que o autor pretende obedecer escapa-lhe desde logo, nunca lhe tomou as rédeas, antes foi tomado por elas e é preciso ouvir a obra falar, escutar o que tem para dizer.
O autor a falar da sua obra... a obra a falar do seu autor... um diálogo de surdos porque o cruzamento das vozes é enorme e, no entanto, fazemos silêncio para ouvir e tentar perceber.
O autor a falar da sua obra... a obra a falar do seu autor... um diálogo de surdos porque o cruzamento das vozes é enorme e, no entanto, fazemos silêncio para ouvir e tentar perceber.
Claro que nem sempre isto acontece, e então o “leitor” descobre-se no autor e algumas vezes o inverso é também verdadeiro, porque a arte tem vida própria e abre mundos não sonhados, para quem a cria e para quem a recebe.
27 comentários:
A obra se torna substancia viva, um Ser longe do dono, criando idéias os outros a interagindo em outros mundos, a está a magia, arte com sua vida própria e sempre em mutação...
abraço amigo
[s]s
Bonjour,
gostei muito do post porque me me fez logo apontar para o que nos escapa, e ainda bem.
O trabalho que fazem as palavras, ou a construçao de um quadro, um obecto, uma instalaçao, uma dança...deve-nos escapar,
que outras coisas se revelem através leituras e sensaçoes provocadas por palavras, formas, gestos...jetés au monde sans que pour autant on est fermé quoi que ce soit.
On ouvre avec l'oeuvre, on doit l'envoyer se décontroler au monde,
para descontrolar e nao o contràrio, et qu'lle y pose des questions, toutes celles qui vont continuer de se poser à chaque fois que l'on voudra serrer le livre et ses voix.
Desculpe, foi em francês...abraço .
LM
....AFINAL O DITO AUTOR NADA MAIS É QUE O DESVENDAR DO ÍNTIMO DO LEITOR...simbiosa única perigosa e aliciante onde o critério é primeiro da alma e depois do cérebro....(dizia o Damásio quando se "apaixonou" pela inteligência dos sentidos").
tudo o que nos toca faz-nos pre.sentir o princípio da inteligência. Depois é roer a lógica e lamber o discurso. re.criar a pessoalíssima cor da individualidade.
______________________.
enfim...digo eu...desdizendo-me em contrapontos lúcidos e lúdicos.
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Post(al) bem pensado. O seu.
beijo.
"legente".
mais longe: será que o autor controla realmente alguma coisa?
O autor escreve o que quer e é muitas vezes interpretado como não quer. E é essa a beleza da arte e da escrita, em particular. Depois há sempre aqueles que são escritores mas não artistas e que fazem a coisa de forma tão previsível que dali se torna impossível de pensar seja o que for (a não ser, SOCORRO estava assim tão drogue quando comprei isto?)
Beijo *
Sempre achei que a obra é tão mais valiosa quanto o leitor se revê nela.
Grande abraço
errata tardia.
não é simbiosa claro mas simbiose....
sorry.
imf.
Um livro ou uma obra após serem concluídos passm a a pertencer a todos e tudo mais fica fora do controle do autor.
Tio, o que é isso?
http://jorsoubrito.multiply.com/journal/item/188
bjuxxx.
(L)
Foi só pra te avisar mesmo.
Achei que vc tinha que ser informado.
Beijos.
Mas qual reposição??? O gajo está a clonar o blogue da Nova Águia TODO!!!
http://jorsoubrito.multiply.com/journal
Pires, o que o gajo lá faz é gravíssimo!!
Achei que coisa boa não era, por isso avisei aos dois.
Pior que atirei no que vi e acreti no que não vi: quis saber quem era esse Louçã e logo me deparei com isso.
Olá!
Estava passando e não pude deixar a comentar o seu texto,a obra tem vida própria, assim como as pessoas , ela nasce de um único homem, mais é vista por todos de maneiras diferentes, o autor que a realiza tem a sua própria visão dela , mais o que não quer dizer que essa seja a visão das outras pessoas...
Concordo com tudo no texto...e adooorei a forma como escreve!
Bjusssss
Então tá certo, se o tio Pires disse, está dito!
Beijos.
Caro PiresF:
sei quem é esse senhor em questão, é o Reitor da Universidade Piaget de Cabo Verde!
Veja:
http://reitordaunipiagetcv.blogspot.com/
http://transcv.blogspot.com/
http://www.blogger.com/profile/14973733571933326156
Irei já postar um comentário igual ao Klatuu.
Abraço!
o texto diz tudo. "fecha" o espaço do comentário. de facto, assim é...
a obra de arte faz o seu caminho. não é pertença do autor. mas de quem a cada momento a desfruta...
Tioooooo:
Passando mesmo só pra te mandar um beijo.
"algo sempre se acrescenta"....quem cria quem recebe quem sonha quem avança...
.
bom dia.
.
beijo.
___________________.
cruzados os silêncios.
:
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A obra não se esgota quando o autor a termina porque ela pode ser reescrita por cada pessoa que a lê consoante a interpretação dos seus olhos.
Abraço
Ah, o Samba do Approach é uma crítica aos estrangeirismos incoporados à nossa língua.
Hoje postei um poema feito na época em que estourou o escandalo do mensalão aqui no Brasil.
Lembra? Marcos Valério, Roberto Jeferson. Dolares na cueca. Crise no PT,partido que governa até hoje...então, o poema de hoje foi uma crítica àquele momento, embora continue super atual, já que a roubalheira não deixA DE EXISTIR.
BJUXX, TIO!
AVISO: O endereço do meu blog mudou para: http://antessodoquemalacompanhada.blogspot.com
este texto vem de encontro a algumas das minhas mais recentes descobertas, devido a algumas questões que o meu livro suscitou a certos leitores, perguntas que a mim me surpreenderam deveras. um grande beijinho, piresf.
e assim voam os dias....colados à ilharga da obra....sempre imperfeita..sempre a querer ser.
beijo.
de
y.
O chamado "autor" apenas inicia a obra de arte. Seja lá qual for a estética, diante de uma obra de arte, já imaginei conteúdos que, por certo jamais passaram pela mente do dito "autor".
Fez uma diagnóstico preciso desta velha questão.
Um abraço!
Isto cheira-me a António Lobo Antunes.... A forma dele falar da sua obra é maravilhosa!
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