Porque falham, os tais filhos de pais ricos…

Em comentário no post anterior, o caro amigo, O Pensador, coloca a seguinte questão: -“Fala-se muito da queda de valores, que ”somos filhos de pais ricos e pais de filhos pobres“ mas existe uma verdade cristalina que parece querer passar ao lado de quem defende tal pensamento: - Este país, tal como está, foi construído por nós... os tais filhos de pais ricos!”.

Embora, no caso, e porque não existe criminalidade eu me refira ao episódio onto-gadget, criticando os exageros de exemplaridades dissuasórias e tente, já na caixa de comentários, devido à extraordinária participação dos comentadores, debruçar-me sobre “instituições de programas”, onde se tenta ensinar, e “indústrias de programas”, onde claramente se desensina, não sou avesso a debruçar-me em fronteiras consentâneas com o passado e o presente, já que, a vida em sociedade, é hoje de conflito devido ao papel desregulador do Estado, e comparável a um vulcão em actividade devido ao carácter especial do ser humano, donde não se pode dissociar o sentimento de impunidade, minador das regras orientadoras e dos alicerces morais da sociedade, que alastra na convicção de que tudo é permitido.
Indo directo à questão, nós os filhos de pais ricos (esses pais que nos passaram valores de Ordem: cumprimento das regras estabelecidas, competência de quem dirige, autoridade de quem tem o poder num sistema policompetente onde o laxismo e a libertinagem eram devidamente medidos nas suas valências com preocupações de valores, costumes e virtudes), em nome do progresso, com esforços diversos e frequentemente conflituosos, combatemos alguns valores de então. Valores esses, que funcionavam como instrumentos nefandos de que o medo é excelente exemplo: o medo do professor, do pai, do marido, do policia, do bufo… mas não soubemos passar aos nossos filhos as referências históricas: raízes e modelos, como meio de poderem atingir o equilíbrio interior e poderem contribuir para o bem-estar da sociedade, insistindo no idealismo de soluções miríficas que tomam as pessoas sempre como boas. Ora, foi esta nova mentalidade, onde se questionou se o autoritarismo podia conviver com o ideal democrático do respeito pela ideia alheia, que feriu com gravidade, primordiais e vetustos valores, agravada pelo facto de não termos dado a devida importância àquilo a que se acordou chamar “espaço público”, esquecendo-nos, ou então usando de resistência passiva numa estratégia de inteligência de sobrevivência, da existência de uma máquina de desensino e de deformação que tudo toca com tranquila impunidade: os novos vendilhões: publicitários, argumentistas, produtores, políticos, etc., que vestem de roupagem atraente toda a merda que querem vender e tudo fazem para nos tornar irresponsáveis e obedientes patrocinadores do marketing de salsicharia que, tendo nos media os seus maiores aliados, ocuparam o espaço que deveria ser público.

22 comentários:

José Pires F. disse...

“Quando um jovem se revolta está talvez a vingar-se, mas também a querer inscrever a sua revolta num mundo que lhe nega o espaço”.
José Gil, “Visão”, 10-04-2008

tb disse...

Há tanto tempo que não passo aqui, amigo Pires. Tanto para ver e ler. Tanto para reflectir. Virei com tempo ler tudo.
Para já, e porque tenho que ir,deixo abraço apertado e saudoso.

Anónimo disse...

"Pouco conhecimento faz que as criaturas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe". Leonardo Da Vinci

Caro Piresf, gostei muito de receber a sua visita. Muito obrigada pelas suas palavras. Confesso que estava preocupada com a sua ausência. Deixo-lhe esta citação que parece adequada ao que aqui escreve e que gostei muito de ler. Um grande beijinho. Bem haja.

hora tardia disse...

..........................................
muito.

prolongado.

obrigada.

Mirian Martin disse...

Obrigada por não só "espreitar" a minha novela, mas ter a paciência de ler todos os 8 posts!!! :) Mas acredito que estarei mudando de "casa" tão logo tiver tempo para poder dar mais espaço aos comentários.

Quanto ao seu texto... Eu tenho cá para mim que os "novos vendilhòes" sempre existiram, talvez sob a pele de outras ovelhas, mas hoje eles são nomeados. Admiro o trabalho que eles tem e fazem - não é para todos o trabalho de vasculhar a alma humana, decifrá-la e subjugá-la. Isto não quer dizer que eu aprovo o que fazem, é melhor eu deixar bem claro.
Por outro lado, estes próprios vendilhões são filhos de nosso tempo, viveram debaixo das mesmas regras morais e sociais e conseguiram enxergar acima delas, fugitivos, ou amorais, ou que enxergam além do que enxergamos estando presos ao "espaço público".
Qualquer das alternativas nos faz pensar que estamos criando um mundo em que os valores serão questionados, seja em proveito próprio ou para uma renovação dos modelos morais e sociais.
Com ou sem os vendilhões, nunca vamos escapar das regras sociais - quer sejam elas passadas por nossos pais, impregnando na nossa conduta e maneira de pensar, quer sejam elas ditadas por um novo momento, onde o consumo está no topo da cadeia (evidentemente descambando para o canibalismo...).

Bjs

Mirian
www.caldeirao-da-bruxa.myblog.com.br

isabel mendes ferreira disse...

....boa noite "pai"...
___________________.

responsável.

.


bjjO.

Manuel Veiga disse...

tens toda a razão - os "valores" são contigentes. historicamente contigentes...

e da minha perspectiva reflectem a ideologia dominante que "toda a merda" de "novos vendilhões" reproduzem e instigam na sociedade...

gostei muito do texto.
abraços

Manuel Veiga disse...

... acrescentar apenas - "pelo sonho,vamos!"...

Mikas disse...

Há que pensar bem nos dias de hoje se teremos a suficiente sanidade mental para criar um filho.

paper-life disse...

Importante pensar isto tudo.

DE há 30 anos a esta parte os pais tiveram complexos ao educar. A partir de agora vão ter "água pela barba" para o conseguir...

Boa semana

MS disse...

Concordo bastante com a tua 'comentarista' anterior!

... foi esta nova mentalidade, onde se questionou se o autoritarismo podia conviver com o ideal democrático do respeito pela ideia alheia, que feriu com gravidade, primordiais e vetustos valores, agravada pelo facto de não termos dado a devida importância àquilo a que se acordou chamar “espaço público”...' - uma análise coerente do que hoje somos levados a concluir com tristeza :(

afinal valores não colidem com democracia... bem pelo contrário, fá-la-iam mais 'rica' e não teriam lugar os 'vendilhões'...

Boa semana

Lyra disse...

Olá!
Obrigada pela simpática visita ao meu caos.

Voltarei em breve para ver o teu blog com todo o tempo que este merece!

Até breve

;O)

Anónimo disse...

Pois é meu caro Pires, mais do que tudo, o salazarismo foi uma doença que pôs de rastos o povo português. Doença do espírito e dos corpos e, enquanto tal, raramente tomada em consideração pelos historiadores e sociólogos da época. Hoje, celebra-se mesmo Salazar em biografias e fotobiografias de autores de “esquerda” .

Trinta anos depois do estabelecimento da democracia, como funciona o espaço público?

A constatação imediata é a de que não existe. Está por fazer a história do que, nesse plano, se abriu e quase se formou durante os anos “revolucionários” do pós-25 de Abril, para depois se fechar, desaparecer e ser substituído pelo espaço dos média que, em Portugal, não constitui um espaço público.

Como definir esse espaço aberto de expressão e de trocas, essencial para que a liberdade e a criação circulem num campo social?

Não há debate político, nem sequer na televisão que cria um espaço artificial, com regras predeterminadas que limitam a espontaneidade das intervenções, o acaso, e a participação desse “fora” que faz toda a riqueza da expressão pública. Nos jornais e na rádio, os debates confinam-se a troca de opiniões e argumentos entre homens políticos, sempre de um partido, visto que no mundo da política não há lugar para independentes, ou entre comentadores, pretensos “opinion makers” que dialogam entre si, em círculo fechado. Muitos políticos são também comentadores, fazem o discurso e o metadiscurso, o que suscita um circuito abafador e redundante: sempre as mesmas vozes e a mesma escrita nos mesmos tons, com os mesmos argumentos, com o mesmo plano de sentido, como se as ideias políticas se reduzissem a um empirismo sociológico de estratégias partidárias.

Concluindo, não há espaço público porque este está nas mãos de umas quantas pessoas cujo discurso não faz mais do que alimentar a inércia e o fechamento sobre si próprios de estrutura das relações de força que elas representam. Os lugares, tempos, dispositivos mediáticos e pessoas formam um pequeno sistema estático que trabalha afanosamente para a sua manutenção.

Um abraço do Zacarias.

Anónimo disse...

E o que nos resta hoje é observar a avalanche, que passa por tudo sem reconhece os valores de nada.
Valores hoje são mudados em vantagem própria, sem peso na conciencia...

"insistindo no idealismo de soluções miríficas que tomam as pessoas sempre como boas."

Acho que nessa ilusão temos mais...

E o amanhã como será... Prefiro nem imaginar.

Abraço e boa semana amigo.

[s]s

José Pires F. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Pires F. disse...

Meu caro Zacarias, parabéns por tão brilhante análise que, a propósito, complementarei com as palavras do filósofo José Gil, que também deve conhecer.

“…A análise do espaço mediático exigiria, por si só, longos estudos. Como vimos, longe de criar uma zona de respiração e um fora, os média simplesmente amplificaram a comunicação social para novamente a fechar. A televisão e a imprensa estão em princípio abertas ao país e ao planeta inteiro; acontece que o que deles nos chega é filtrado pela auto-distorsão a que os seus meios se obrigam.
A função dos média consiste em abrir o espaço da «comunicação social» (que difere do «espaço público»); ora, nem mesmo a este nível se edificou um sistema que desse voz a «sujeitos colectivos de enunciação», sempre enquadrados em programas, fórmulas expressivas de representação, tempos de antena e limitações jornalísticas que pervertem radicalmente o que deveria ser um plano de comunicação, um fórum em que os cidadãos pudessem discutir problemas, levantar questões, pensar e agir sobre a sua sociedade.
A televisão portuguesa é como toda a gente sabe (e com raríssimas excepções, que toda a gente também conhece) uma pura miséria, uma máquina de fabricação e sedimentação de iliteracia. E a rádio e a imprensa (sempre com as excepções que há em tudo) fecham constantemente as aberturas mínimas, as fendas e brechas por onde algum ar fresco, alguma força livre pudessem passar ainda…”

Olinda disse...

Só falham porque nunca os ensinaram a falhar. :-)

Anónimo disse...

Caro Pires, vejo que fui apanhado. Não resisti a deixar aqui algumas considerações do filósofo José Gil acerca do assunto. Devia tê-lo feito denunciando a respectiva autoria e agora é tarde para dizer que era essa a intenção e que me esqueci.
Considere portanto o comentário como contributo para melhor se entender a temática ou apague-o, mas acredite que foi com a melhor das intenções.

Agradeço que mo tenha feito perceber desta forma, que para além de ser educada e elevada, revela o conhecimento que tem da obra do filósofo.

Com consideração,
Zacarias.

José Pires F. disse...

Meu caro Zacarias,
;)

hora tardia disse...

Sportingggggggggggggggggggg....


......................///.




ih ih ih....
até logo.


cestas e cestas deles.

Anónimo disse...

SPOOOOORTING!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Oliver Pickwick disse...

O jargão tem certa lógica. Aliás, muita lógica! Contudo, há uma sutileza de sofista por trás disso. O novo sempre vem, a natureza dá um jeito. Pelo menos enquanto aceitos os princípios da teoria de Darwin.
Um abraço!