Os Novos Cruzados e os Crucifixos!


Foi com relutância que me propus escrever sobre o tema, não gosto de discutir sobre religião. Sempre achei que a Fé é íntima e a sua discussão diz respeito aos que a professam, se daí não advier mal ao mundo, o que acredito ser o caso. No entanto, faz algum tempo que certos blogueiros começaram uma cruzada contra a Igreja Católica. Não sei o que os move, mas presumo pela insistência com que postam sobre o assunto, um radicalismo exacerbado que chega a tocar as raias do fundamentalismo.
Como é normal, o assunto chegou aos jornais, que, como também é normal, viram nisso mais uma forma de encher papel, como acontece com todo o tipo de notícias irrelevantes e sem interesse que os nossos jornalistas infelizmente se apressam a acoitar de braços abertos.

Portugal debate-se com muitos e importantes problemas derivados da globalização, debate-se com muitos e importantes problemas na educação, mas agora o cavalo de batalha são os crucifixos nas escolas, como se daí viesse algum mal ao mundo. Já não bastavam os franceses com a história das burkhas, agora são estes senhores com a história dos crucifixos, o que só prova que são tão burros como aqueles e por isso gostam de os seguir. Eu que ainda não me decidi sobre a legitimidade da laicidade, contesto-os, mesmo sabendo que o actual panorama intelectual em Portugal, não nos dá outras alternativas para além da democracia laica.

A multiculturalidade que defendo para Portugal, é abrangente, e tolerante com todos, o que inclui os seus credos e religiões, mas parece que há quem assim não pense, e alguns, inclusive que deveriam pensar de outra forma, serem mais tolerantes e os primeiros defensores do conceito de uma mesa para todos, são ao que parece, os principais instigadores, deram em entreter-se constantemente a lançar postas de pescada com bastos sinais de arruaça à religião de outros.
Provavelmente, estará nas suas intenções substituir os símbolos cristãos, por outros, mais consentâneos com as suas religiões, ou então nada querem, são simples incendiários que agridem constantemente os milhares de católicos portugueses, chegando ao desplante de fazerem críticas achincalhantes ás manifestações públicas dos católicos devido ás suas tradicionais procissões, quando ninguém os impede, de expressar a sua fé, se a tiverem, e se quiserem, de igual modo, pois o tempo é de construção de um império universal de tolerância e não o contrário, mas este conceito só é entendido pelos que têm noção do universalismo.

Estes senhores que de incultos nada têm, lêem até muitos livros e costumam fazer bastas referências e interpretações bíblicas, como se os católicos se importassem com as interpretações que eles fazem ou deixam de fazer, não entenderam ainda que o que faz andar o burro não é a albarda, como aos católicos é a sua fé, seja lá ela qual for, que tanto pode ser a Nossa Senhora de Fátima, como o Santo António de Lisboa.

Agora são os crucifixos, amanhã, serão com certeza os desenhos alusivos ao Natal que as crianças tradicionalmente fazem e costumam exibir nas paredes das salas de aula, depois virão os feriados religiosos, as férias da Páscoa e do Natal e chegará o dia em que todo aquele que use um crucifixo pendurado no pescoço será posto em causa.

Tenham juízo, a humanidade é só uma e os seres humanos são todos iguais em dignidade, a não ser que as intenções sejam outras e se procurem fabricar guerras onde não existem. Este povo do fado e dos brandos costumes, tem mais com que se preocupar e coisas mais importantes para fazer do que retirar os crucifixos das paredes de algumas das suas escolas, onde, nem sequer os pais das crianças se preocupam com isso.
O futuro está na coexistência das diferenças. Esta é uma discussão acessória que como tal merece ser relativizada de forma a reforçar como absoluto, o essencial.

Como dizia Sá de Miranda, M´espanto às vezes, outras m´avergonho.


21 comentários:

AJBA disse...

Por mim desde que não obriguem as crianças a rezar um terço antes de começar as aulas...o crucifixo pode bem ficar onde está.
No meu tempo de garoto além de termos que rezar um Pai Nosso e uma Avé Maria antes eramos obrigados a cantar o Hino Nacional com a mão esticada.
Quanto ao efeito que isso surtiu em mim: Não gosto de ir muito à missa e o Hino gosto de ouvi-lo cantado pelos outros.

José Pires F. disse...

Meus caros Raes e Multimeida!
Eu coloco a questão, porque isto está a ser para alguns uma autêntica cruzada.
Se me perguntarem, se naquela escola que não tem crucifixo, deverá lá ser colocado um? Serei o primeiro a dizer não.
O que acontece é que há escolas que há dezenas de anos têm lá o crucifixo, até já ninguém repara, nuns casos estes estarão nas salas de aula e noutros até estão nos refeitórios, mas agora deu a fobia de os querer retirar.
Existem muitas escolas no interior, com populações profundamente religiosas, até de católicos praticantes, para quem isso é uma afronta.
Os citadinos gostam de medir tudo pela sua bitola, e achar que a razão, a esperteza e o saber é sua propriedade e esquecem que existem outros saberes, e outras razões diferentes das suas, que não têm necessariamente de estar erradas.
Estou de acordo, que não se coloquem símbolos religiosos, nem em escolas nem em nenhum lugar público excepto os apropriados, mas estou em desacordo que nos lugares em que já existem e sempre existiram queiram agora retirá-los afrontando as populações nas suas crenças.

Rui Martins disse...

Amigo Pires... Quanto a esta questão penso sumariamente o seguinte:

Se a escola é púiblica, representa o público que a paga e a quem serve. Colocar uma escola público o símbolo de UMA religião é insultar todas as demais que não constam ao lado desse símbolo e que merecem idêntico respeito.

Como a escola pública tb não é forum religioso (se não acabamos como os EUA onde o ensino da Evolução começa a ser proibido) os símbolos religiosos devem ser retirados desses locais.

Quem quiser praticar a sua religião pode sempre recorrer aos seus locais privados ou aos templos que são - uns e outros - os foruns privilegiados para a actividade religiosa.

Anónimo disse...

Caro Pires,
Há até casos em que eu até concordo com esta medida.
Está a ver aquelas escolas de algumas aldeias perdidas por este país da União Europeia?
Aquelas, em que nem sequer há aquecimento, a não ser um calorífero que a Senhora Professora fez o favor de levar da sua própria casa?
Pois,é nesses casos.
Juntava-se umas pinhas ao crucifixozinho e fazia-se uma fogueira!
É que às vezes o menos importante é aquecer a alma!
Cumprimentos

José Pires F. disse...

Rui e Lucília!

Eu respeito as vossas convicções e respeito a vossa inteligência, por isso permito-me um simples exemplo elucidativo:
No interior, por exemplo em Trás-os-Montes, praticamente todas aquelas aldeias que são milhares têm a sua capela ou igreja, construída com o dinheiro dos seus habitantes, muitas das escolas foram construídas em terrenos doados pelos mesmos habitantes e muitas vezes eles contribuíram com o seu esforço para que as paredes se erguessem, nunca ninguém quis saber daquela gente, excepto pela apreciação da paisagem nas suas excursões veraneantes.
Esse povo, que hoje na sua maioria são velhos, e que recebem a sua reforma da Casa do Povo que foi para onde descontaram, são católicos e praticantes convictos, pagam do seu bolso as missas que domingo a domingo são rezadas nas suas capelas, consideram que as escolas são deles, as crianças que as frequentam são deles, e essas mesmas crianças vão à missa com os pais e os avós desde que se conhecem e aprendem o catecismo, nunca sequer pensaram que o crucifixo na parede da escola pudesse ter algum problema, e agora, aparece lá um oficio do Ministério da Educação a dizer para retirarem o crucifixo que é contra a constituição e que o mais provável foi este ter sido também pago por eles, e querem que as pessoas achem bem, quando estão a léguas que se cumpram nas suas aldeias muito do que a constituição diz serem os seus direitos inalienáveis, e que aceitem de bom grado que, os que professam outras religiões cá para o Sul, têm o direito de lhes retirar os símbolos religiosos.
Tenham dó por favor.

Em relação ao Rui, eu sei que a sua visão em relação aos católicos é desastrosa, pois ele desconhece a imensa Fé das pessoas do interior, tem de se lá ir para conhecer e falar.

Em relação à Lucília, compreendo perfeitamente o que diz e concordo excepto com a parte do crucifixo que não daria um grande lume e seria portanto escusado queimar o que por vezes até pode ser uma obra de arte sacra, por dois minutos de lume.

Volto a repetir, concordo que não devam ser colocados mais crucifixos, mas discordo que se retirem aqueles que lá estão. O crucifixo não morde e para muita gente a alma é o mais importante.
No mínimo, o que poderia ser feito, era que a comunidade da escola, os pais e os professores decidissem pela sua retirada ou não, o contrário, ou seja, o retirar pela força da lei, não augura nada de bom e parece-me que é essa guerra que está em construção.

Anónimo disse...

Pires,
É claro que um crucifixo e umas pinhazitas não dão grande lume.
A ideia era hierarquizar preocupações:era capaz de ser mais sensato colocar aquecimento nas escolas onde ele ainda não existe que retirar um crucifixo da parede.
Eu conheço bem essa realidade rural de que fala mas também sei que o Pires entendeu o que eu quis dizer.
Com amizade

José Pires F. disse...

Claro Lucília, e talvez um leite pela manhã e um transporte para as crianças que caminha à chuva e por vezes no meio da neve, e um telhado decente para os suburbanos dos guetos que conhecemos.
Tantos problemas importantes e essenciais para resolver, e a grande preocupação é o crucifixo.

José Pires F. disse...

Não foi só agora Raes, a liberdade de credo e religião, há muito que está na constituição e fica implícito que não pode haver uma só religião beneficiada, e eu entendo e concordo.
Discordo é da forma como querem fazer as coisas. Sempre que se interfere com a Fé das pessoas, deve-se ter muito cuidado e usar de bom senso, não se podem fazer revoluções por causa de crucifixos pacíficos.

José Pires F. disse...

Salvieta!

Em 1910 quando se proclamou a República Portuguesa o estado era Católico Apostólico Romano e tolerava as outras religiões estrangeiras. Rezava assim a carta constitucional de 1826:
«A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Reino. Todas as outras Religiões serão permitidas aos Estrangeiros com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de Templo».

Em 1911 com a aprovação da constituição o estado português torna-se laico e assim continuou até hoje, ou seja, supostamente neutro, sem bem que saibamos que nem sempre o foi.

Agora o que querem é tornar a laicidade numa religião oficial, enveredando por um caminho dirigista, ideólogo e centralista, enquanto se devia defender que a gestão das escolas deve ser inserida na comunidade como forma de se ligarem aos cidadãos e dirigidas por entidades representativas dos pais, professores e alunos e que sejam eles em cada caso a decidir o melhor para a escola, não, apregoa-se que as escolas são de todos e de ninguém em particular, tudo bem, dou de barato, não concordando, mas logo também dizem que os sinistros crucifixos devem ser retirados.

Eu, por tudo o que já disse no post e em resposta aos outros comentários, não concordo.

Cristina disse...

Piresf

os crucifixos já saíram das paredes há nuito tempo...é só um formalismo :)


mas gabo a pachorra a esta gente, as coisas com que se preocupam ;)

beijos, de fugida.

Anónimo disse...

Vamos os pontos, quando se trata de religião todos estão quase certos.
Eu já penso, os crucifixos pularam no pescoço de alguém ? Alguém chegou na escola de manhã olho para o crucifixos no alto da parede e disse: Isso não está certo que o ofendia?
A escola a publica feita para o povo, ok, porque tirar os crucifixos e não acrescentar os símbolos de outras religiões? Porque causa mais polemica? Porque mais gente fala sobre isso e esquece do resto dos problemas?
Crucifixos podem não ter valor pra muita gente, podem ter esquecido dele ali, mais para muitoooosss outros ainda representa algo, algo maior que a religião, não se trata de paus pendurados na parede, é algo mais, cada um vê o que quer, acho essa historia todo arbitraria, concordo com Pires.

[s]s

Anónimo disse...

Piresf,

Já por aqui passei várias vezes (blog muito interessante) e hoje é o dia para o meu primeiro comentário.

Em termos gerais concordo com a tua (espero que não leves a mal tratamento na 1ª pessoa) abordagem.
A minha liberdade e tolerância começa com a aceitação da diferença. A questão religiosa está directamente relacionada com questões culturais, que ultimamente muito boa gente quer recusar....
Quando vou a Marrocos (como podia ser à China) tento respeitar e integrar-me nessas sociedades, nos seus usos e costumes.
O direito de sermos diferentes não me incomoda. Incomoda-me sim é a falta de tolerância que poucos pretendem chamar liberdade.

Abraço
Parrot

Anónimo disse...

Salvietta,

Isto tudo é muito bonito. Na vizinha Espanha também se começou assim. Agora existem escolas em que nas cantinas não se podem dar certo tipo de comida...por motivos religiosos...
Aqui também não existe laicidade?
Continuo a dizer....respeito pelas diferenças.

Sinseramente...um crucifixo ofende?

Parrot

Anónimo disse...

Desculpem o erro (de palmatória) ortográfico.

Sinceramente...um crucifixo ofende?

Parrot

José Pires F. disse...

Ontem no final da noite, decidi que os comentários ao post deveriam continuar sem os rebater, o objectivo era proporcionar aos visitantes desta caixa a maior liberdade possível para contestar ou apoiar as ideias expressas, agora, e no final de mais um dia, agradeço a todos os que quiseram deixar a sua opinião, que compreenderão, segui com a maior das atenções, concordando com umas e não tanto com outras.
Permito-me no entanto acrescentar ao que já disse o seguinte:

1 – A Fé das pessoas, como é evidente não se abala pela retirada dos crucifixos, mas em determinadas comunidades pode ser tomada como uma afronta gratuita.

2 – Ninguém fala em colocar crucifixos, não tenho conhecimento de que isso ainda se faça, a polémica instalada é pela sua retirada das escolas que ainda os ostentam.

3 – As atitudes intolerantes de alguns católicos, não devem ser tomadas pelo todo.
Existirão sempre pessoas que quando provocadas, reagem das formas mais diversas, como em tudo.

Soube hoje, já no final da tarde, que a Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, terá afirmado, que não irá haver nenhuma cruzada religiosa. E eu, espero que estes ameaços não tenham servido para lançar poeira, sobre os verdadeiros e importantes problemas da escola, e não se finja também que se fez alguma coisa.

Vespinha disse...

Olá!
Também acho que há coisas mais importantes,mas na verdade,se tiver um filho,não gostava de o ver numa sala com crucifixo escarrapachado na parede.

Cheira-me a velho e a outros tempos...

Bom fim de semana!!

Nina disse...

Nossa! Quanta polêmica! Percebe-se que o assunto é delicado tamanha a quantidade de comentários, respostas que ele gerou. Mais de um comentário por pessoa, e sempre com algo a dizer.
Minha opinião: Percebo que na Europa esse lance de liberdade de culto, respeito às religiões rola de uma maneira muito mais séria do que aqui no Brasil. Só que aqui a coisa vai se desenrolando de uma maneira natural, enquanto as escolas mais antigas mantém seus costumes fortemente influenciados pelo catolicismo, as escolas mais novas naturalmente se desvincularam disso.
Não sou a favor de uma certa "imposição" de conceitos da religião católica, como por exemplo orações que são feitas no início da aula (em uma escola que dou aula todo dia as crianças rezam:"Que seja mais esse dia todo em louvor à Virgem Maria.") Quem não compartilha dessa fé não é obrigado a aguentar isso.
Mas quanto aos cruxifixos, acho que eles lá no cantinho deles não atrapalha ninguém, pois significa algo apenas pra quem crê, não é uma ofensa a ninguém.
O que eu não concordo é com o radicalismo que imbeciliza ambos os lados de uma discussão.
(Escrevi demais, não? =P Foi mal!)
Abraços! =]

AJBA disse...

Mais que um comentário de cada um...mas realmente dá gosto vir ver todos estes post´s.
Ao Pires só resta agradecer por dar-nos este momentos de prazer e o seu espaço em Megas ou Teras...no futuro.

José Pires F. disse...

Vespinha!

Cada um com a sua opção, eu conheço gente que não é católica e têem os filhos nas Doroteias, que como sabe é um colégio católico e dirigido por freiras, mas com um ensino acima da média. Em tempos quando os inquiri acerca disso, disseram-me que aquilo que lhes interessava eram as condições que os filhos tinham para estudar, o resto não os incomodava. Como lá têem religião, voltei a inquiri-los, e a resposta que levei foi: Desde que ensinem valores de bondade com o próximo e paz entre as pessoas, para nós tudo bem.

……………………..

Nina!

Sabendo que és professora de crianças, aguardava a tua opinião sobre o assunto, e é claro que concordo inteiramente com o que dizes. O radicalismo de ambos os lados sobre a questão é imbecil.

Qual escreveste demais qual nada, disseste o que tinhas a dizer e se quisesses podias ter escrito o dobro.

Um abraço.

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Multimeida!

Vejo que te estás a tornar numa visita frequente, como deves calcular fico contente por isso.

Um abraço.

LdS disse...

Ontem ouvi um "príncipe" (príncipe?) da Igreja, numa entrevista radiofónica, qualificar de "estupidez" a posição de quem defende a ausência de crucifixos nas salas de aula das escolas laicas. Isso leva-me a não ficar calado evitando, para não ser igual em atitude, a devolução do "principesco" insulto. Fique claro que eu também sou dos que defende tal ausência nas escolas laicas, deste ou de qualquer outro símbolo religioso.

José Pires F. disse...

Lds!

Meu caro, eu também não fico nada contente quando oiço os representantes da igreja católica falarem assim, isso só serve para extrapolar os sentimentos das pessoas e alimenta esta “guerra”. Creio que o assunto por ser delicado merece um cuidado especial por parte da igreja nas referências que faz.
Mas sobre o assunto, se queremos ser radicais e retirar mesmo os crucifixos que parecem afectar tanta gente, por que não, acabar com todos os feriados católicos que se gozam neste país e que todos e de todas as religiões os gozam sem pestanejar? Isso sim, seria uma questão de coerência, ou a laicidade só se opõe aos crucifixos?