Acordo, e ainda em torpor, com delicada cadência leio no número dois da “Ler e Depois” do passado Janeiro, uma entrevista a João do Nascimento que editou na Portugália o “escrever enquanto todos dormem”, prefaciado por Valter Hugo Mãe que nos chama desde logo a atenção para a perplexidade de não encontrarmos neste livro as maiúsculas da praxe e que, iremos também encontrar uns hífens metidos-entre-palavras onde nunca os viramos antes. Até aqui nada de anormal e nenhuma compulsão na assunção de opinião me ataca e estou até disposto a concordar com esta ordem de pensamento mesmo não sendo a minha. Mas já estranho que (coisa para me dar motivos para rir não fosse o torpor instalado), logo no inicio da entrevista, à pergunta sobre o atrevimento de ignorar as regras da pontuação escrevendo em minúsculas e utilizando o hífen para ligar palavras onde ele não existe, responda o João do Nascimento, que: “…advém da evolução natural e, simultaneamente, trabalhada, de um estilo que ambiciono próprio…”.
Ora, com a devida respeitabilidade e seriedade que o portuguesinho gosta, uma coisa é certa; o João do Nascimento que deve ser pessoa de vários enlevos e que adora o seu universo, a continuar nessa linha de raciocínio nunca irá encontrar o tal estilo próprio que ambiciona, aliás, o Valter Hugo Mãe bem lho podia ter dito já que, em prefácio num outro livro que agora não recordo o titulo e me falta a paciência para procurar, fala da originalidade do ponto e da escrita em minúsculas, que usa, e de ele próprio ter sido também vitima dessa estranheza, pois, assim, escusava o João do Nascimento de incorrer no desagrado de pretender ter o que nunca foi dado para adopção, embora ande por aí nas mãos de bons e maus escritores e, nalguns casos, de forma tão desajustada que mais parece uma espécie de alquimia da montagem ou um quadro de tensão doméstica.
Para um entendimento saudável, embora amargo do que acabo de dizer, e porque nomear valoriza, universaliza e cria um espelho onde outros se podem mirar, importa dizer que, este “estilo”, que adquiriu uma particularidade vagamente nómada que está na génese e no desenvolvimento de algumas discussões e que já passou pelas casas de Al Berto, Herberto Helder, Gabriela Llansol, etc, aparece em 1981 (hélas, a coisa é contrariada pelos factos. (e pela física dos materiais.)), em conjunto com o travessão entre palavras e no fim de frases (que mais tarde se viria a estender), no primeiro livro de poesia da mesma autora do ecléctico e expositivo livro de contos, “a mais loura de lisboa” editado pela Difel (vá, respirar fundo, um, dois, três, expirar devagar…), e, sobre o assunto dizia então em 1984, David Mourão Ferreira depois de se referir à riqueza imaginística e à variedade de ritmos da autora:
“…importa igualmente sublinhar como essas virtudes se vêem aqui «servidas» pelo próprio processo de pontuação adoptado pela autora – processo que não constitui, de modo algum, como por vezes acontece em outros escritores novos, um simples tique de expressão ou um mero maneirismo gráfico, antes o modo muito adequado de sugerir, na teia criada pela «corrente da consciência» a partir de certos instantes, que o ponto final representa apenas uma pausa provisória e que a minúscula que se lhe segue mais não faz que retomar o fluxo daquela corrente…”.
Ora, perante tal categorizada opinião, restará talvez aos escritores serem eles próprios na sua inteireza e não meros re.fazedores do "inédito" já feito, pois, nada mais fazem que tactear na escuridão.
Nota final para os impolutos avessos à critica e que reduzem quem a faz a um tipo predefinido de indivíduos:
E Jesus disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura.
Quem crer e for baptizado será salvo; mas quem não crer será condenado.
Marcos, 15-16.
A Alá pertencem Oriente e Ocidente.
Alcorão, A Vaca, 19.
Ora, com a devida respeitabilidade e seriedade que o portuguesinho gosta, uma coisa é certa; o João do Nascimento que deve ser pessoa de vários enlevos e que adora o seu universo, a continuar nessa linha de raciocínio nunca irá encontrar o tal estilo próprio que ambiciona, aliás, o Valter Hugo Mãe bem lho podia ter dito já que, em prefácio num outro livro que agora não recordo o titulo e me falta a paciência para procurar, fala da originalidade do ponto e da escrita em minúsculas, que usa, e de ele próprio ter sido também vitima dessa estranheza, pois, assim, escusava o João do Nascimento de incorrer no desagrado de pretender ter o que nunca foi dado para adopção, embora ande por aí nas mãos de bons e maus escritores e, nalguns casos, de forma tão desajustada que mais parece uma espécie de alquimia da montagem ou um quadro de tensão doméstica.
Para um entendimento saudável, embora amargo do que acabo de dizer, e porque nomear valoriza, universaliza e cria um espelho onde outros se podem mirar, importa dizer que, este “estilo”, que adquiriu uma particularidade vagamente nómada que está na génese e no desenvolvimento de algumas discussões e que já passou pelas casas de Al Berto, Herberto Helder, Gabriela Llansol, etc, aparece em 1981 (hélas, a coisa é contrariada pelos factos. (e pela física dos materiais.)), em conjunto com o travessão entre palavras e no fim de frases (que mais tarde se viria a estender), no primeiro livro de poesia da mesma autora do ecléctico e expositivo livro de contos, “a mais loura de lisboa” editado pela Difel (vá, respirar fundo, um, dois, três, expirar devagar…), e, sobre o assunto dizia então em 1984, David Mourão Ferreira depois de se referir à riqueza imaginística e à variedade de ritmos da autora:
“…importa igualmente sublinhar como essas virtudes se vêem aqui «servidas» pelo próprio processo de pontuação adoptado pela autora – processo que não constitui, de modo algum, como por vezes acontece em outros escritores novos, um simples tique de expressão ou um mero maneirismo gráfico, antes o modo muito adequado de sugerir, na teia criada pela «corrente da consciência» a partir de certos instantes, que o ponto final representa apenas uma pausa provisória e que a minúscula que se lhe segue mais não faz que retomar o fluxo daquela corrente…”.
Ora, perante tal categorizada opinião, restará talvez aos escritores serem eles próprios na sua inteireza e não meros re.fazedores do "inédito" já feito, pois, nada mais fazem que tactear na escuridão.
Nota final para os impolutos avessos à critica e que reduzem quem a faz a um tipo predefinido de indivíduos:
E Jesus disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura.
Quem crer e for baptizado será salvo; mas quem não crer será condenado.
Marcos, 15-16.
A Alá pertencem Oriente e Ocidente.
Alcorão, A Vaca, 19.
25 comentários:
:))))))))))))))))))))))))))))
e que bem que tu pregas!!!
se a ignorância continua a grassar por aí não serás tu nunca o responsável. sou testemunha.
isto é aquilo a que eu chamo um texto claro e limpo e rigorosamente sem metáforas.
e mai nada!
abraço do norte. com cinza (sem ambiguidade)
:) aplausos! uma crónica que só um homem de bem e de princípios poderia ter escrito, sobretudo a avaliar pelas duas citações finais, quem até aí estava distraído, foi logo clarividenciado.
"inédito" é fazer isto num blog!
beijinhos,
alice
lololollllada
Mais esclarecedor é impossível.
...creram e viram a Luz. Selah!
Como referes e bem, Pamuk - Só os idiotas são verdadeiramente inocentes.
off topic:
Foi precisamente naquele endereço que descobri a Águia digitalizada. Obrigada pela tua atenção e dica, bem como todas as dicas que tenho recebido via E-mail.
Um beijo
grande
fica bem
Assim nunca vou aprender a escrever.
:)
Trata-se duma interessante reflexão sobre um assunto, por vezes polémico, muitas vezes idiota.
Um abraço
...porém a inocência nem sempre é idiota.
às vezes é só mesmo a abençoada ignorância. a mesm que nos faz querer saber.
beijo de bom dia sobre os dias.
Por aqui dizem que para bom entendedor, meia palavra basta, mas palavra inteira com as tuas até vibram...
E olha só... detalhes que saltam aos olhos de quem nem mesmo queira ver... 1981 / 84 e David Mourão Ferreira... claro que isso nem se faz necessário, já que de letra em letra a alma só vibra ao som de teclas.
E por fim, tu e suas palavras, não por amizade nem por gentileza é que digo isso, mas tu sempre me deixa de boca aberta com seus post´s.
Abraço amigo.
Um excelente texto que li com toda a atenção. E subscrevo o David: "maneirismos gráficos"...
Um abraço.
Aí que se lixe, vou tratar-te por tu com todos os pontos. és demais.
O João do Nascimento não conhece a mais loura de Lisboa? ooohhh bolas!
A César o que é de César.
Beijo
Há desconhecimentos que se não entendem.
Um ensaio crítico com conta , peso e medida.
Adorei esta elegia à " Mais loura de Lisboa " !
Saio com uma vénia ...
(e tanto que eu gostava de ler este livro e não o consigo encontrar. Esgotadíssimo. Esgotadíssima de o procurar ! Será que alguém me pode emprestar tal raridade literária? Eu devolvo ... com gratidão)
parabéns, sempre oportuno e cheio de inspiração
deixo-te um beijo
iv
Descobri este blog quase por acaso, através de um comentário que deixou no Mar Arável do Eufrásio.
E não quis deixar de lhe dizer como gostei do que li.
E como estou de acordo consigo.
Aos re.fazedores do "inédito" aconselharia, tal como fez num outro postanterior a este, a leitura dos Simples de Junqueiro.
E para equilibrar,O Livro do Desassossego do Pessoa.
Entretanto, como diz gostar de contos,se me quiser visitar n'A Gaveta da Escrita em www.agavetadaescrita.blogspot.com, vai lá encontrar algumas coisas de leitura rápida. Será uma honra poder ter a sua opinião.
E pronto. Dito assim claramente, sem ambiguidades, confesso que surte mais efeito. Quis eu, em outro blog falecido, criticar o uso banalizado e oco de sinais de pontuação e outros, eventualmente desajustados, como sinal de fraco pretenciosismo e gerei inadvertidamente uma confusão dos diabos, tendo até havido quem encontrasse destinatários directos, que no entanto lá não estavam citados, coisa que faço por sistema: quando tenho um destinatário específico, nomeio-o.
Desculpa-me ter usado o teu espaço para esta referência pessoal, mas o que eu li remeteu-me inevitavelmente para este triste episódio.
Resumindo, SUBSCREVO, APLAUDO uma a uma de cada palavra que aqui dizes.
beijo
conheço essa Loira. e dou testemunho que é um traço________________ merecido! rsss
abraços
Muito obrigada pela visita à minha Gaveta e pelos comentários.
Um abraço
Claro, PiresF, como a água.
Pontos nos iiiiiiii's.
Que é como quem diz: instruam-se!
E depois, são todos uns inovadores, criativos, inventores... sei lá mais o kê. :))))))
Beijos (com SSSSSOOOOOOOOLLLLL - acabei de inventar! ;) )
oh.....que giro....:) as coisas que se aprendem por aqui....tb quero...ou seja....quero aprender a escrever na caixinha....
mas hoje não pode ser....estou muito muito (érrimo) cansada.
beijos.
Excelente como sempre
Um fazer com que se faça
E passo
para te deixar um beijo
que a respeito deste teu maravilhoso post
já foi tudo dito.
Bom fim de semana.
obrigada. muito. pelas palavras e pela convicção.:)
ainda vou acabar por me levar a sério...... como fotógrafa!...:)))
um abraço do norte. que é douro sul.
Uma boa reflexão, propícia a um entendimento saudável.
(peço-lhe desculpa, mas devo confessar que não faço nem fiz anos - essa ocasião é só mais lá para Outubro. O comentário que leu é uma piada antiga entre amigos, e que para "estranhos" ao assunto pode induzir em erro. :D)
forte abraço,
fvs
e bom dia....na santíssima inocência das manhãs de espreitar outro dia.
beijo. assim. simplesmente.
Factos, são factos.
Ponto final.
Gosto deste tipo de argumentação.
Já ouvi, por outro lado, que a pontuação foi inventada apenas para respirar...
Abraço.
ora muito bem. sem papas na língua. bravíssimo meu amigo!!
e tu, isabel, obrigada por abrires caminhos.
beijões
Tudo depende do fôlego ou da falta dele. :)))
Ora assim se fala em bom português.
abraço
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