Reminiscências – Cinema Condes


Inaugurado a 4 de Fevereiro de 1916 no edifício transformado onde funcionou o provisório Teatro Nacional (Teatro da Rua dos Condes), fechou em 1996.

A 17 de Maio de 1947, quando ainda tinha uma distância da primeira fila para o écran de mais de 8 metros devido ao aproveitamento da profundidade de palco, estreia o filme “Capas Negras”, rampa de lançamento no cinema de Amália Rodrigues e que viria a ser um enorme êxito comercial e um dos maiores do cinema português, com 350 exibições, 6 meses em cartaz e cerca de 200 mil espectadores. Entre os anos 50 e 70, foi uma das mais populares salas de cinema de Lisboa, tendo começado a sua decadência sem que os vários aditivos usados conseguissem evitar o desgaste, com a proliferação dos complexos multisalas na década de 80.

Por lá tudo passou; o Conservatório Geral de Arte Dramática, o Club Makavenkos (para que conste, nada tinham de macambúzios, eram uma seita jantante) fundado por Francisco de Almeida Grandela e instalado na cave quando ainda era Teatro, a Rádio Condes lá esteve de 1933 a 1938, altura em que se fundiu com o Clube Radiofónico de Portugal e que (agora uma informação tipo prenda de Natal), foi responsável em Fevereiro de 1934 pela difusão da primeira revista radiofónica - a primeira de Rollim de Macedo. Como qualquer cidadão de bem, foi-se adaptando e evoluindo com o tempo devido às constantes inovações tecnológicas, como é o caso do Cinemascope, altura em que perde as galerias laterais, o fosso de músicos, o foyer da plateia e obriga à reconstrução dos 1º e 2º balcões e da cabina de projecção, para finalmente se vergar ao estrangulador conceito de Cinema-Estúdio.

Ficam muitas memórias para além das matinés que em puto lá papei, como esta que conta Baptista Bastos e que descobri aqui: “…Fiz toda a espécie de disparates por romantismo. Mas também fiz coisas belas, que hoje me arrepiam quando delas falo ou nelas penso. Um dia fui encarregado de lançar uns panfletos no cinema Condes, onde passava o filme ”E tudo o vento levou“. Fui para lá de gabardina, à Humphrey Bogart, escondendo os papéis. Eu estava no 2º Balcão, e havia outro camarada no 1º. Um do lado esquerdo, outro do direito. Lançámos os papéis, estabeleceu-se um burburinho na sala, as luzes acenderam-se, a polícia a apitar, um turbilhão de pessoas a descer pelas escadas, a escapar…”.

Com a compra do edifício pela Bragaparques chegou a temer-se mais um complexo de escritórios ou qualquer merda assim, naquele monumento histórico reconstruído após o terramoto de 1755, felizmente o destino não foi esse, é verdade, e desde o dia 12 de Junho de 2003 é um restaurante de nome internacional, “Hard Rock Café”, conhecido pelas suas peças de colecção (a famosa Memorabilia) onde, entre mais de 30, se destacam o espectacular Cadillac cor-de-rosa de 1959 que pertenceu ao antigo campeão de Indycar, Al Unser Snr e também uma guitarra eléctrica dos Rolling Stones.
A fachada foi restaurada com a traça original e, prestando tributo ao antigo Condes, lá dentro, recriando o ambiente de sala de cinema, estão as cortinas negras de cobertura de tela.
É este o presente concreto que está em cada um de nós.

13 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

e como tudo.ou quase.
o fim. ou nada.


a história. de uma idade. que o tempo arrasa.



beijo enorme meu amigo.


sem tempo.

Unknown disse...

Gosto demais dessas reminiscências
:)

Como as coisas eram diferentes, e tantas e tantas para melhor.

Quanta coisa se perde só para tentar melhorar...
Esse ainda tem um pouco de vida, afinal “Hard Rock Café” chama os olhos pra si...

Abraços e ótima semana amigo.

[s]s

Gi disse...

Caramba, quando olho para as datas e em ponho a lembrar do que aqui escreves sinto-me velha :). A minha avó trabalhava no Paláci Foz , antigo SNI (não, não era nada do que estás a pensar, ela estava na parte do Turismo) dei os primeiros passos no Café Palladium, o Condes, o Eden o Tivoli e o S. Jorge eram cantos conhecidos tanto mais que os bilhetes de borla para a minha avó chegavam em profusão! Não me alem da Música no Coração que eu amarinho paredes, de tantas vezes que a vi (no Tivoli) , do Condes lembro-me de um que não me deixaram entrar. Elsa? Helga? Não me lembro,sobre educação sexual , o resto passou neste caudal imenso do rio da memória e foi parar ao mar do esuqecimento ... é triste mas é verdade, só quando falam vou avivando as recordações. Possivelmente porque era gaiata e nada me tocou especialmente.

Umbeijinho

isabel mendes ferreira disse...

obrigada...



beijo.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Ah quanta saudade eu tenho do cinema Condes e de outros cinemas de Lisboa onde fui muito feliz. Naqueles tempos não se comiam pipocas e ir ao cinema era um acto de dignidade.

desculpeqqc disse...

Esta tua rubrica dos cinemas está um espectáculo!

Anónimo disse...

muito sem tempo =/

sem falar na falta de criatividade para escrever xD

Alberto Vale disse...

Vim "espreitar" este blog que descobri por um apontador para o Links Interessantes (http://linksinteressantes.blogspot.com).

Gostei de ler, em especial pelos posts das reminiscências. Cmo estão eram os nossos cinemas! Alguma nostalgia e melancolia misturada :-)

Espero voltar ao Espreitador, que já é para mim um blog interessante!

Cumprimentos,
Alberto Vale

Madalena disse...

Entrou-me a memória de tanta coisa vivida com amigos através da tua narrativa do Condes!

Foi bom.

Bj

Anónimo disse...

Amigo Pires...
Como o tempo passa e as palavras vão ficando esquecidas em gavetas fechadas.

Um Abraço.

JOY disse...

É uma pena que aos poucos esses autênticos centros de cultura vão desaparecendo,muitas vezes foi ao Condes primeiro com os meus pais e depois sózinho,era na realidade um cinema lindissimo do qual tenho saudades.

Um abraço
JOY

Norah disse...

Deixo aqui desejos de Boas Festas,

Feliz Ano Novo

Cps

N.

Anónimo disse...

Pelo que contas é uma pena já não haver esse cinemas antigos, que tanto deliciaram a geração dos meus pais. É triste saber que na minha geração se perdeu algo e tão valioso e caracteristico na cidade de Lisboa, mas ainda há esperança de um dia, um desses grandes pontos de prazer da sétima arte, renasça!

Gostei,