A circunstancia que leva alguém a escrever um post como este, é passar-se dos carretos.

Na zona dos chapéus de sol, enquanto sem razão e sentido, a música ambiente, por entre o vozear dos crescidos e os gritos das crianças se fazia ouvir, mastigava eu uma munique da Pans que súbita fome tinha requisitado.
Reparei então que, numa das mesas e com inexplicável tranquilidade, um casal absorvia os ensinamentos de uns livrecos técnicos, não sendo minimamente afectados com a psicose grupal daquela seitinha de adolescentes numa das mesas próximas. Numa outra, com expressão apreensiva liam-se os jornais, enquanto, por detrás, um casal de namorados desafiando uma inexistente timidez, incorria em pecado socialmente intolerável das duas que já tinham sido novas e os olhavam com ar policial e tribunalício e, mais afastada, na zona que não tinha direito a chapéus de sol e onde a intensidade dos raios solares era idêntica, uma mulher, conectada, imperturbável com o obsessivo choro dos gémeos e a audível autoridade da mãe em reparos de matéria de divergência social, aparentemente trabalhava no seu Toshiba.
Embora não estivéssemos ameaçados pelos cabos de alta tensão da REN, ou pelo Al-Zawahiri que faz os franceses retirar da Argélia, e o perigo imediato pudesse vir de uma tenda próxima onde decorriam eliminatórias de um campeonato nacional de Sudoku, fugimos deste quadro psicótico, desconexo e do domínio do imaginário que, só não é estranho, deslocado da expectativa e acompanhando de grandes doses de incompreensão, porque acontece num Centro Comercial, onde a obstinação, vencendo a percepção da realidade, me levou nesta tarde de domingo.
Azar o meu, eu sei.

12 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

....e sorte a nossa (dos seus leitores) que assim se "passeiam" por este imaginário de centro comercial...:)


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psicótico quadro. mas dos nossos dias...

__________________.
in.ssossegados.

beijo.

Anónimo disse...

Concordo plenamente com a Isa (=

Muita, mais muita sorte nossa que passamos por aqui, assim saboreamos suas palavras, escritas da forma que só tu sabe né.
Estas cada dia mais matreiro amigo (=
E eu viajei e cada detalhe, fascinante.

Abraços e ótima semana.

[s]s

ps: obrigado pela nota no FP, não tinha me atentado aos erros, agradeço, muito.

mac disse...

Centro Comercial ao Domingo? É mesmo para deixar os nervos em franja...

isabel mendes ferreira disse...

não...não vale mesmo a pena...:) sério. sou eu às voltas e reviravoltas com uma coisa que me pediram à mt e que a preguiça me adia...:)

hoje deu-me "práKilo"...tentar uma eventual "ordem"...
mas não perca tempo...Beijos. beijos.

Madalena disse...

:)

Azar pois e sorte minha por ter lido.(tenho andado tão arredia das lides dos blogs...) :)Mas centros comercias só frequento por obrigação e... olha lá.

(Já agora Pires F e os contos, os outros, os da rua?).

Bj

Gi disse...

Fujo deles.
Prefiro o silêncio e a qualidade de uma leitura como esta. :). O retrato de uma sociedade em declínio. Nem dgo de qu~e. Adivinha-se.

beijinho

isabel mendes ferreira disse...

venço a percepção. da realidade.


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abraço.

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Pires

_________Centros Comercias____ao domingo!!! nem mesmo no imaginário:))

Gostei do texto:))

Beijinhos com carinho

Archeogamer disse...

Uma reunião de blogers teria sido mais interessante pires :)

Era uma vez um Girassol disse...

Domingo? Centro Comercial????
Só pode ser coisa...de quem se passou dos carretos mesmo!!!!
Meu amigo Pires, adoro a tua escrita, sempre bem humorada e contundente!
Regressei de férias(curtas), com vontade de me pôr a cavar outravez...
Não sei, mas estou seriamente a pensar sair desta nau apenas com 75% do vencimento durante 5 anos e depois...reforma!
Chega...já não aguento mais esta era socratina!
Bjs

Anónimo disse...

Um quadro surrealista da nossa realidade, tão adorada por uns, tão destesta por outros. Talvez uma minoria, mas uma boa minoria.

Abraço!

Anónimo disse...

Errata: detestada em vez de detesta.

PS: a minoria dos que detestam,claro!