Por um SIM claro, no dia 11

E cá estamos de novo fazendo uma pausa neste retiro sabático com um tema fracturante; o binómio Sim/Não, que neste momento divide a sociedade portuguesa.

A manipulação linguística, as figuras de estilo de acentuado cariz paternalista, os desabafos taciturnos de má relação com a morte que as sociedades cultivam devido à limitada concepção que fazem da vida terrena (aqui, a minha incompreensão quanto à posição de alguns sacerdotes da igreja católica), a irrazoabilidade da propaganda de carácter claramente acintoso, procuram encontrar argumentos para rebater o óbvio: Existe aborto clandestino. E existe porque o ordenamento jurídico-penal a isso obriga e, a coisa, é tão simples e directa como isto não tendo forma ou engenho de se contornar.

Compreendendo isso, os movimentos do Não traçaram nos últimos dias um novo azimute porque o douto professor Marcelo Rebelo de Sousa se lembrou de fazer uso da medula e dizer umas quantas parvoíces, porque estapafúrdias que, bem mereceram ser ridicularizadas pelo RAP num brilhante sketch dos Gatos Fedorentos.
A partir desse inexplicável momento do prof sabe-tudo-tudo-tudo, começou a formar-se uma sub corrente no Não (com Paulo Portas, Marques Mendes e Ribeiro e Castro na linha da frente) que defende a manutenção da lei com o seu incumprimento através de um artificio jurídico (!?) ora, isto não faz obviamente sentido nenhum, porque se o direito à vida deve ser protegido mas quem o viola não pode ser punido, é no mínimo um direito que deixa de existir e, portanto, um contra-senso inconstitucional e ilegal obrigando o Primeiro-ministro a deixar a demagogia que lhe é tão cara, para dizer algo acertadíssimo contra este Nim: “se o Não ganhar, o aborto não será despenalizado”.

Já agora:

Diz o Pedro Mexia, pessoa por quem tenho apreço intelectual mesmo estando no lado errado, tentando centrar o problema no campo da ética o seguinte: "o aborto é sempre um mal, que no entanto admitimos em certas condições para evitar um mal que consideramos maior".

Pois... é isso mesmo que nós dizemos com uma diferença, é que o problema não é ético, centrando-se sim, no campo do direito e da política e essa é a posição de quem vota Sim, logo, se o Pedro Mexia recentrar a questão como deve, terá de votar Sim, já que, as razões éticas não devem permitir excepções (acho que o Aristóteles explica esta coisa), mas supondo que mesmo assim a dúvida o apoquente dir-lhe-ei que, e segundo o “Electroencephalography: Basic Principles, Clinical Applications, and Related Fields”, a actividade cerebral só se manifesta a partir dos 120 dias e aquilo que o córtex emite às 10 semanas é actividade eléctrica, a mesma que qualquer planta emite, coisa que de forma alguma representa consciência como entenderá.

Mas vamos ao que interessa.

Os defensores do Não, fazendo uso dos pressupostos da propriedade jurídica, defendem que o zigoto (ovo) e a blástula (um embrião com 64 células) são seres humanos de pleno direito. Para estes, interessa tão-somente, preserva-lo e defende-lo.
Não interessa se é ou não biologicamente dependente da progenitora e indissociável desta, se é desejado como um projecto de investimento afectivo e, não interessando também, que a mulher possa decidir ser ou não, hospedeira de uma interacção celular, visto a reprodução de organismos vivos ser implacável e biológica ao contrário do acto “fortuito” que o provoca.
O que interessa ao Não é que este não pode ser removido, queira a mãe muito, pouco, ou assim-assim. O que interessa ao Não é que esta seja obrigada pela força da lei, a amar desde logo o zigoto, a bem ou a mal e a usar de beneplácito.

Ora, sendo assim, e estou convencido que é, é-me licito questionar a legitimidade de tal pretensão e interrogar se, a interrupção de uma gravidez não desejada profundamente não poderá ser um acto legitimo, e, prossegui-la, num apego desmedido à vida, um erro egoísta e grosseiro.

O Sim, defende a despenalização do aborto até às dez semanas por opção da mulher desde que, praticado em estabelecimento de saúde autorizado como em meu entender poderia bem ser às doze, mas foi este o tempo que, devido ao condicionalismo fisiológico da concepção o parlamento decidiu aprovar como o suficiente para reflexão dos possíveis futuros progenitores, e, é esta a alteração que se pretende das normas jurídicas em vigor, logo, o sofisma que o Não ergue bem alto, sobre a contradição da penalização daí em diante é uma grande e enormíssima parvoíce que não merece o meu tempo.

E para terminar:

Já diziam os defensores do Não há oito anos que esta lei era aceitável para resolver o problema do aborto clandestino, ora, segundo dados da Associação para o Planeamento da Família, só em 2006 foram feitos 18.000 o que, demonstra bem a sua eficácia, e mais; a mesma Associação revela que, 27% das mulheres que o praticaram, foram internadas para tratar complicações.

26 comentários:

Bernardo Kolbl disse...

EU VOTO NÃO.
Bom fim de semana.

Clarissa disse...

Por um inequívoco SIM no dia 11.
Beijocas padrinho :)

Beatriz disse...

Sento-me numa situação um tanto confortável quando penso que não irei votar, porque a idade não mo permite. E digo confortável porque me sinto pressionada como cidadã por ambas os lados (SIM e NAO), perante uma campanha e pre-campanha horrorosas, com intervenções devoradoras, sem qualquer tipo de tolerancia, com intervenientes muito senhores das suas convicções como se este fosse um tema fácil, que não deixa margem para duvidas nem para problemas de consciencia.
Entendo que a informação é o melhor meio para haver uma escolha correcta, e também para mobilizar os cidadãos votantes, mas não acho que a coisa se tenha processado de uma forma saudável. Principalmente com a artificialidade com que se propagandeou por aí usando de argumentos de autoridade, que nesta questão são tudo menos autoridades.
Acho que devem existir centenas de pessoas encurraladas entre o direito à vida (e uma imensa dúvida quanto ao exercicio pratico do aborto como pratica legal) e o direito a escolha (e à eventual necessidade de recorrer a uma interrupção de gravidez um dia).
Acrescento ainda que, mesmo que o Estado garanta o direito à escolha, a sociedade não vai simplesmente deixar de julgar e, depois de ser um possibilidade prevista na lei, vai passar a ser um problema ético que cada mulher vai ter de resolver consigo própria e com a soceidade que a vai condenar.

Outsider disse...

Olá amigo Pires! Ainda bem que resolveste interromper a licença sabática para nos brindares com este excelente post, que revela clarividência e consegue explanar exactamente o meu ponto de vista, neste assunto tão quente. Já tive grandes debates acerca deste assunto no meu blog e, sinceramente já estou farto de pregar para o deserto ao tentar degladiar os argumentos falaciosos, que pululam na defesa do não. Confesso que estou cansado desta questão. Apesar de pessoalmente ser contra o aborto, o meu voto é inequivocamente SIM!!
O importante agora é que toda a gente vá votar no Domingo, independentemente da sua opção, mostrando que os Portugueses estão interessados numa democracia participativa.
Um grande Abraço.

P.S.- Para quando um regresso em força às lides bloguísticas?

Kaos disse...

É bom ter-te de volta e logo ´com um belo post. Também eu vou votar SIM, porque considero que as mulheres merecem todo o meu respeito. Esperemos que este estado de coisas possa acabar brevemente.
abraço

teresa.com disse...

:)

esperemos por domingo!!bom fds!

Escorpiana Explosiva disse...

Passei aqui só par conhecer teu blog,e gostei muito bem interessante o assunto que aqui encontrei.Minha resposta é não,tenho meus mutivos mas prefiro não expor por que coloquei num blog meu ponto de vista e eu fui ofendita no meu próprio blog.Acho que as pessoas tem que aprender aceitar a opinião das outras.


Um abraço.

Anónimo disse...

sim . claramente por um sim que é um não à hipocrisia vigente neste país...


________________________



Obrigada.


(O Piano já tem quase dois anos...é-me casa e deserto e água e céu...neste momento está algures no lugar de uma memória.mt especial. se o tempo me deixar há de voltar a tocar...espero)


o beijo. aquele que resiste até às luas ciganas.

isabel.

mac disse...

Dia 11, SIM!

Kaotica disse...

Escrever sobre o quê, dizias tu. Escrever sobre tudo e sobretudo continuar a escrever.
Vens cheio de força pois o teu post está muito bom.
As pessoas boas que conheço são todas pelo SIM (o que não quer dizer que todos os que estão pelo SIM sejam pessoas boas - olha lá o Valetim Loureiro, até arrepia!)
Um abraço de boas vindas!

SÓNIA P. R. disse...

Pelo NÃO. Bom dia.

Rui Martins disse...

amanhã tb irei alinhar pelo Sim e fazer figas para que a maioria dos portugueses que alinham comigo não fiquem em casa, agarrados ao comando da televisão e salivando perante as jogadas mais artimanhosas de Simões e quejandos...

A bem do Sofrimento humano, da sua redução e do fim desse verdadeiro crime que são os tais 18 mil abortos clandestinos anuais!

tb disse...

Porque defendo a liberdade de escolha voto sim à despenalização.

Quero ter uma sociedade de pessoas bem formadas e educadas, com infraestruturas de apoio, para termos crianças felizes e amadas que por sua vez crescerão adultos felizes e darão lugar a outros cada vez mais felizes e responsáveis.
Porque não quero que continue a haver aborto clandestino e se passe o que se passa como toda a gente sabe.
Porque quero que as pessaos sejam cada vez mais livres para decidirem, proque quanto mais liberdade, maior a responsabilidade. Por isto e muito mais, voto sim à despenalização
Grande abraço

Parrot disse...

Meu caro Piresf,

Eu sou adepto fervoroso da diversidade. Ainda bem que existe...desta vez não concordo contigo.:))

Abraço

MGomes disse...

Conta a hipocrisia chocante dos que defendem o não, votarei SIM amanhã.
Abraço

Anónimo disse...

e para terminar....







SIM.







beijo. continuado.






Y.

Era uma vez um Girassol disse...

Bom é ter-te de volta...
O tema, por demais tratado, argumentado...é aqui exposto com inteligëncia.
Não me sinto nada pressionada, talvez por ser mulher e entender demasiado bem.
Beijinho

PintoRibeiro disse...

Li atentamente, reli. Voto não. Um abraço,

Rui Martins disse...

Bem Pires, com apenas 31% de participaçºao até às 17:00 parece que os castradores, excomungadores e beatas já ganharam... pouco importa que reune mais ou menos votos... os beatos votaram todos, e o resto ficou no sofá.

estou pessimista!

Clarissa disse...

Dever cumprido, meu padrinho!
Abraço forte

Anónimo disse...

Pessoalmente ( e filosóficamente ) sou a favor do Não. Como membro integrante de uma sociedade o Sim seria a escolha...

A pouco minutos do carnaval dos media e dos politicos, parece que este referendo vai ser mais um Nim... Vamos a ver. Mas não é a figura do referendo que está em causa, antes o tema incómodo, pouco apelativo a uma sociedade materialista ( faça-se um sobre o aumento dos combustiveis e haverá certamente uma enorme afluência às urnas! Até eu lá ia! Doi no bolso!... ) e a intervenção politíca num assunto que se eleva bem mais alto do que qualquer ideologia partidária. Sinceramente, no momento em que via tempos de antena de partidos politicos, fazendo campanha, percebi que a coisa podia descambar... Onde estavam os esclarecimentos sérios? A campanha esclarecedora? Népia! Tudo o que se vi foi um esgrimir de ideologias, de partidos ( pretendendo testes eleitorais - como se o refrendo fosse uma espécie de sondagem )e de figuras públicas ( talvez querendo protagonismo... ) estéril em bom senso, como é norma em tudo aquilo ligado ao guano politico. E o vomitado politico já deixou de ser a flauta mágica que conduz os ratinhos cegamente. Agora cansa! Farta! Mete nojo!
Os partidos limitaram-se à fórmula: " Não pense muito! Se é de esquerda vote SIM, se é de direita vote NÃO!" Mas as pessoas serão assim tão básicas?? Bem, agora que vejo o mapa nacional das votações e vejo o país dividido, penso se não o seremos... Mas temos de deixar de o ser! E já vi beatas ( que o Rui refere num registo pouco próprio... ) a defenderem o sim, gente de esquerda a defender o não. Ou, no minimo a REFLECTIREM e a APRESENTAREM ARGUMENTOS VÁLIDOS!! - vi isso aqui, nos blogs de outros amigos e noutros mais "desconhecidos" por onde passei. Independentemente da escolha, tinham de haver argumentos, que demonstravam reflexão, pensar próprio e não apenas um reflexo condicionado por um patego que nos diz o que fazer... Os tais opinion makers!...
Acho que quando se colocou a politica e a religião neste assunto aconteceu como dizem os brasileiros: "deitaram merda no ventilador!"
As campanhas ( desde os cartazes do Sim, aos conselhos do Não na dominical eucaristia ) foram quase sempre um lixo!
As acusações, as bocas entre defensores do Sim e do Não foram outro grande disparate! Não se percebeu que este é um assunto que diz respeito à consciência de cada um?
Não votei, porque não o pude fazer.

Abraço!

PS: gostei do post da Beatriz, que reflecte grandes verdades.

Anónimo disse...

PS: Quando digo que o Rui usa um registo pouco próprio, refiro-me claro, a ser uma pouco usual demonstração de assanho do nosso Rui.

* Afinal, sempre foi válido! Ainda bem! Mas não retiro nada ao que disse... Aliás, o ambiente eleitoral, enquanto os resultados eram conhecidos, vieo reforçar o que tinha dito: demasiada politiquice neste assunto!
( e o quadro de comentadores da SIC? Um fartote de rir! )

Mais abraço, nesta minha excepção ao meu retiro, que sem ser sabático, é por uma boa causa.

Anónimo disse...

A Direcção da “Clínica dos Arcos” agradece a confiança em si depositada pelos votantes do “SIM”, informando os seus futuros clientes de que as obras das nossas instalações em Lisboa já terminaram. Brevemente dar-se –à início à “Solução Final”.

www.riapa.pt.to

Sofia disse...

Obrigada pelo comentário no meu blog.
Ainda bem que acabou a hipocrisia chocante na sociedade portuguesa.
Finalmente as mulheres vão poder andar de cabeça erguida.

Klatuu o embuçado disse...

Pires, afinal os nossos «amigos» protestam e invocam a Democracia quando lhes é dado a beber do próprio veneno!
Tão previsível!

Abraço e votos de boa saúde.

Anónimo disse...

Caro Pires, sobre o futebol, quase não acompanho por aqui. Meu time (São Paulo) perdeu o estadual de maneira vexatória e foi eliminado da Libertadores. Portanto... Sobre o referendo, fico feliz de vcs terem mais maturidade para debater isso do que nós. Apesar do número alto de abstenções. Mas, democracia se constrói assim também. Abraço e bom fim de semana!