Um novo rumo para Portugal - Parte XII



Agostinho da Silva, era um homem inesperado e a sua lógica era outra, como diz António Alçada Baptista, quando relembra os amigos (1) e começa assim a falar dele:

Não posso deixar de lembrar Agostinho da Silva, porque ele foi um homem-referência na minha geração. A minha amizade vinha da admiração que me merecia um homem diferente, um homem como ainda não há.

Ele fez e ensinou tudo exactamente ao contrário daquilo que queria que a gente fizesse: num mundo que nos incitava a acumular riqueza, ele viveu no maior despojamento; num mundo que nos entusiasmava com o trabalho e as realizações, ele aconselhava a ociosidade; num tempo de internacionalização das nações, ele defendia e acarinhava os valores da Pátria e tudo aquilo que podia significar uma identidade nacional. E fazia isso sem espírito de cruzada: tudo parecia emanar naturalmente da constituição do ser humano para assim se reintegrar na ordem inscrita no universo primordial.

[…] Agostinho da Silva ajudou a fundar Universidades, fez respeitar Portugal e falou sobre o sonho do mundo da Língua Portuguesa e do que ele podia significar numa época onde afloram tantos indícios de deixarmos uma civilização do poder para uma civilização de diálogo e de cultura. Por todos os lados onde passou deixou uma espécie de rasto de luz e de lenda, como quem, ao mesmo tempo, acredita e desconfia sobre se aquilo que dizia estava certo.

[…] Estas pessoas são raras mas são necessárias porque nós precisamos de ir vendo como serão os homens do futuro. Essas pessoas ensinam-nos que é possível existir de outra maneira e ter com o mundo e com os outros uma relação diferente. Termos sido contemporâneos de Agostinho da Silva é um motivo de esperança: ficamos com a prova de que estes homens são possíveis, que são feitos da mesma matéria que nós e que, possivelmente, só nos falta acrescentar um pequeno suplemento de alma para lhe imitarmos a vida.


(1) - Pesca à linha Algumas memórias da Editorial Presença, p. 205-206.

25 comentários:

Rui Martins disse...

Agostinho acreditava que o Quinto Império já existia e que tinha encarnado naquele milagre do tamanho de um continente que era o Brasil.

Já Vieira e Pessoa tinham uma visão mais universalista do conceito.

José Pires F. disse...

Na realidade é assim, e isso explica, porque Rui Marques está mais perto de Agostinho do que tu.
No entanto, não te esqueças de que para o fim, Agostinho proclamava ser a Península Ibérica, o motor necessário e imprescindível para o comando da Europa.

Clarissa disse...

Pires...tenho andado tão ocupada que nem tenho tido tempo para te visitar :( Mas passei para te deixar uma grande beijoca.

P.S. Eu percebo a dificuldade de entrar na personagem de uma mulher...eu sinto o mesmo em relação às personagens masculinas.

José Pires F. disse...

António!

Olá amigo. É verdade, devia ser uma referência.

Um abraço.

…………………

Clarissa!

Então… beijoca para ti também.

Anónimo disse...

Estou pensando muito esses dias sobre pessoas assim.

margusta disse...

Um homem que soube sonhar...

Anónimo disse...

Agostinho viveu numa época que não o soube merecer...
Fiquei muito grata de aqui encontrar este texto, pois Agostinho da Silva é para mim um mestre, uma luz que nos deixou os valores que de facto interessam, ou deveriam interessar ao Ser Humano, e nos quais me identifico por inteiro!
Obrigada pelo tema e pela visita.

Rui Martins disse...

Agostinho dizia que não pagava impostos porque se o fizesse podia passar a exigir ao Estado português uma contrapartida, e isso poderia indispô-lo contra Portugal, coisa que não desejava...

isabel mendes ferreira disse...

a possibilidade terá de ser "manuseada" por quem tem a obrigação de gerir meios....e não me parece que por cá (nesta plantação rasteirinha) haja quem dê verdadeiros "meios" a quem quer e sabe esplanar-se....e dar-nos.


bom dia. com beijo.

José Pires F. disse...

Agostinho como sabem, era contra o trabalho, defendia até (como ideal utópico) uma nova sociedade em que todos seríamos reformados logo na infância para nos dedicarmos a fazer o que gostássemos, mas sentia-se moralmente obrigado a trabalhar.
Lembro-me de lhe ler; que trabalhava, porque, quando via o varredor da sua rua, gostava de o poder olhar de frente, e por isso, raramente se entregava à poesia de que gostava, mas que não considerava trabalho.

Tenho nos últimos anos, lido e relido a obra deste Homem Extra-Ordinário como lhe chamou Eduardo Lourenço, e quanto mais o leio, mais pena sinto de nunca ter assistido a uma aula sua.

Rui Martins!

Não me lembro dessa frase de Agostinho, o que prova, que contigo, aprendo sempre mais alguma coisa.

Lidiane, Diva, TB e Isa!

É com enorme satisfação, que verifico no dia a dia, encontrar gente que gosta de gente extraordinária.

Um grande abraço a todos.

Anónimo disse...

Faltam-nos pessoas assim... Os valores que defendia poderiam ( deveriam ) ser o bálsamo regenarador para estes tempos conturbados. Uma descrição interessante que ouvi para Agostinho foi:«Um templário para o novo século português».

Pois, o amigo Rui Martins é mais universalista e possui uma brilhante, humana e inteligente visão futura. Não partilho apenas alguns pequenos detalhes com essa sua visão, talvez por ter o defeito de não conseguir ser tão... ( como hei-de dizer? ) "optimistamente crente na Humanidade". Mas concordo com ele neste ponto e com 99% das ideias do seu Movimento.

O que mais me espanta, quando leio estes comentários, é parecer que entrei no domínio de uma espécie de "Liga de Cavalheiros Extraordinários"... ( a tal gente que gosta de gente extraordinária )Apesar de não gostar de discipulos, julgo ( imagino modestamente )que Agostinho gostaria de ler as vossas palavras...

Um abraço,

Sá Morais

José Pires F. disse...

Sá Morais!

Acredite que fico lisonjeado por este post merecer estas suas palavras e agradeço em nome dos outros comentadores.
Parece-me que o meu amigo, é também um grande apreciador de Agostinho, que como sabe não gostava de discípulos, nem se considerava discípulo de ninguém.

A esse propósito e porque o referiu, ficam aqui as palavras de Agostinho:

"Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles forem meus, não seus.
Se o criador o tivesse querido juntar a mim não teríamos talvez dois corpos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição venha a pensar o mesmo que eu; mas nessa altura já o pensamento lhe pertence.
São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem."

Um abraço.

Era uma vez um Girassol disse...

Pires, vim aqui "respirar ar puro"...
E encontrei a mensagem que precisava, pela boca de Alçada Baptista, falando do Mestre:
"ficamos com a prova de que estes homens são possíveis, ...e que, possivelmente, só nos falta acrescentar um pequeno suplemento de alma para lhe imitarmos a vida."
Ah, afinal há esperança....
Bjs

Parrot disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Parrot disse...

Meu caro amigo Piresf,

Ultimamente tenho lido algumas coisas ("com sumo") devido a passar por aqui. Considera-te culpado por isso, mas não tenhas remorsos.
Sobre Agostinho....à pouco tempo tive a oportunidade de estar com uma pessoa que conviveu com Agostinho. Apesar da sua idade já não permitir muita lucidez, essa pessoa dizia:
"Ainda hoje não percebo como a alma do Agostinho cabia no seu corpo".

Abraço
Bom fim-de-semana

PS - O post anterior foi apagado por mim....

José Pires F. disse...

É isso mesmo Girassol, as palavras de Agostinho e sobre Agostinho, são autêntico ar puro, e claro que há esperança.

Espero que estejas melhor.

Um abraço.

…………………..

Tété!

Nada para agradecer. Acho que ela também gostaria e eu gostava com certeza.

Um abraço.

………………….

Parrot!

Bem amigo… é gratificante ouvir isso, mais ainda vindo de ti.

Creio que ouvir falar de Agostinho pela boca de quem com ele privou, é um privilegio e essa frase é de um alcance e de um significado imenso. Eu, quanto mais o leio, mais acho isso mesmo.

Um grande abraço.

Luma Rosa disse...

Não conheço a pessoa, só o que descreveu nessa postagens e em outra anterior. Posso dizer que foi um bon vivant que encontrou a fórmula da felicidade.
Porque ser feliz é isso; fazer o que gostamos na hora que sentimos vontade!!
Bom fim de semana!! Beijus

isabel mendes ferreira disse...

um beijo.....para iluminar....

José Pires F. disse...

Luma!

Agostinho tem muita obra no Brasil, onde ajudou a fundar várias universidades.
Permito-me sugerir-te a procura de algumas obras suas, especialmente estudos.
É importante, que o mundo de língua portuguesa conheça este homem impar.

Um abraço e bom fim-de-semana.

……………..

Molotov!

Obrigado e um abraço também para ti.

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Isa!

Obrigada. Que te alumie a ti também.
SMAC!

Zeca disse...

Visita de médico para te desejar um bom fim de semana.
Passarei com mais cuidado para te levar lá para o meu jardim.
Fica bem.

Nina disse...

Respondi seu comentário! =]~

José Pires F. disse...

Zeca!

Já levaste. A exclusão da meia branca só revela bom gosto.

Bom fim-de-semana.

……………

Nina!

Ok. Já lá vou.

Nina disse...

Tá virando bate papo, rsrs...

=]~

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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