Soares e Cavaco em Belém


Foto do Expresso online

Não me conformo com estas duas candidaturas, e que as hipóteses viáveis do votar-para-ganhar nas presidenciais se resumam a estes nomes, Mário Soares e Cavaco Silva.

Cavaco, como diz o meu amigo Aníbal, não o Cavaco mas o de Sousa “é um campónio, sem tacto político nem cultura e é praticamente desconhecido além-fronteiras”, além disso, ainda não me esqueci do que ele fez à Bolsa quando primeiro-ministro.
Depois, não gosto de gajos “que têem sempre razão e que raramente se enganam”.

Soares, como diz também o AS, “tem o perfil adequado de um monarca”, grande verdade com a qual não podia estar mais de acordo, logo, como sou republicano, ele é também uma carta-fora-do-baralho e depois nunca me esqueci de quando foi primeiro-ministro se ter rendido ás exigências do capitalismo, já para não falar do que fez agora ao Manuel Alegre, um amigo de tantos anos, é revelador da ânsia de poder deste homem, chega a ser ganancioso, e estes não têem o meu voto, aliás, Soares nunca o teve.

Vem a propósito, uma pequena história sobre Soares que o António Alçada Baptista conta no seu livro “A pesca à linha – Algumas memórias”da Editorial Presença p.167, com o sugestivo título “Como fiz um governo”.

Sei que era um segunda-feira e que, na sexta-feira anterior, tinha caído o primeiro Governo contitucional. Era de manhã e eu seguia pacatamente pela Rua Alexandre Herculano, quando parou um grande carro preto ao meu lado. Era Mário Soares:
- Ó Alçada, onde é que vai?
- Vou ali à Buchholz...
- Então venha que preciso de falar consigo.
Meti-me no carro e fui para São Bento, para o seu gabinete.
- Você é que podia falar aos seus amigos do CDS para formarmos Governo juntos...
- Se quiser eu falo.
Telefonei para casa do Diogo Freitas do Amaral e ele estava.
- Estou aqui no Gabinete do Primeiro-Ministro e tenho um recado para si. Posso ir aí?
Fui já no carro do Estado, em missão.
Tive sorte porque estava lá reunida a cúpula do CDS para analisar a crise: o Adelino Amaro da Costa, o Victor Sá Machado, o Basílio Horta, pelo menos. Disse-lhes que o Mário Soares queria fazer Governo com eles.
Mostraram-me um jornal onde, na primeira página vinha uma frase do Mário Soares, num comício do Alentejo: «O fascismo avança sob a capa da democracia.» E diziam-me:
- Mas isto é para nós...
E eu:
- Não, está-se mesmo a ver que é para o Kaúlza...Olhem: ele disse-me isto: Se vocês quiserem ao menos conversar ponham-se em contacto com ele.
Assim se fez o segundo Governo constitucional.
Passado tempo, não sei se li num jornal se me disseram que aquele Governo tinha sido feito em Paris por acordo entre a Maçonaria e o Opus Dei...

2 comentários:

Anónimo disse...

A Pesca à Linha, do meu querido Alçada Baptista, que boas recordações eu tenho...

José Pires F. disse...

Excelente livro, que tem muitas outras histórias interessantes.
Com tempo, divulgarei aqui mais algumas.