Padre António Vieira (1608-1697)


Nasceu em Lisboa a 6 de Fevereiro de 1608 e faleceu no Brasil, em Salvador da Baía, a 18 de Julho de 1697.

O escritor Miguel Real, aponta-o como o primeiro pensador do Providencialismo Português, que defendia ter Portugal uma missão no mundo superior à de todas as outras nações.

Interessa acrescentar no dia do Tetra-Centenário do seu nascimento que, se Camões adquiriu a maturidade da língua portuguesa na poesia, Vieira adquiriu-a na prosa. Incomparável génio da parenética, expoente máximo da mentalidade portuguesa seiscentista e um dos mais criativos e brilhantes pensadores de toda a nossa história, tão do agrado de muitos vultos da nossa cultura, nomeadamente Fernando Pessoa, onde encontramos semelhança na imaginação verbal e estilo de pensamento, legou-nos uma aprofundada reflexão sobre Portugal e sobre o que hoje designamos como "Portugalidade", numa obra originalíssima em todas as suas múltiplas facetas culturais que, deve ser lida sem credos-de-fé e crenças ou praxis académicas.

Atentemos na actualidade de tudo o que idealizou e sentiu e no muito que tem para nos transmitir neste dia 6 de Fevereiro de 2008:

Sermão do Bom Ladrão

"Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim. . Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? . Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres."

"Aquele que tem obrigação de impedir que se não furte, se o não impediu, fica obrigado a restituir o que se furtou. E até os príncipes, que por sua culpa deixarem crescer os ladrões, são obrigados à restituição, porquanto as rendas, com que os povos os servem e assistem, são como estipêndios instituídos e consignados por eles, para que os príncipes os guardem e mantenham em justiça. . É tão natural e tão clara esta teologia, que até Agamenão, rei gentio, a conheceu, quando disse: Qui non vetat peccare, cum possit, jubet." (Quem, podendo, não impede o pecado, ordena-o).

Publicado também aqui.

5 comentários:

hora tardia disse...

sem pecado.


a agradecer. o comentário. na águia.


beijo.

Anónimo disse...

Bem lembrando amigo... 400 anos e um ideal eterno...

"o imperador da língua portuguesa" como lhe chamou Fernando Pessoa.

Hoje pela manhã, li o "Sermão de Quarta Feira de Cinzas".

Grande homem, exemplo do que fazemos bem, ecoa pelo eternidade...

[s]s

Klatuu o embuçado disse...

Convido-te a apreciar a excelente homenagem de um amigo a Dom Carlos I.

VIVA A MONARQUIA!

Abraço!

José Pires F. disse...

Amigo Klatuu!

É uma excelente homenagem mas prefiro a tua. Vejo nela um conteúdo imenso que não precisa de imagem alguma. Talvez a melhor que li, de certeza a de que mais gostei.
Excelente!

Grande abraço.

Jorge P. Guedes disse...

O melhor embaixador da História da Língua Portuguesa. Para mim, sem a mais pequena dúvida.

Cada portugu~es devia ser "obrigado" a ler algo do Padre Vieira pelo menos uma vez na vida, assim como os muçulmanos têm de se deslocar a Meca. E eu que sou o mais possível contra fundamentalismos! Mas isto seria um bem para o nosso povo jovem que qualquer dia grunhe em vez de falar e emprega aí umas 200 palavras por dia, não mais.

Um abraço.