Balada da Neve

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
– e cai no meu coração.

(Augusto Gil)

12 comentários:

Nina disse...

Puxa Pires... No começo fui me deixando levar pela leveza da neve... Mas e a tristeza que me abateu no fim? Tanta beleza e tanta tristeza...

Cristina disse...

obrigada pela lembrança, recitei este verso vezes sem conta:))

triste e belo

bom fim de semana, beijocas

Anónimo disse...

Pires... este poema faz-me parte de muitos lugares.
Quando estiveres a postos para publicar, deixa uma mensagem no barulho de fundo. Bejinhos

Clarissa disse...

Amigo Pires, tudo apostos esperamos o sinal de partida. É só dizer a hora. Beijocas grandes

Clarissa disse...

Correcçã: a postos

José Pires F. disse...

Pronto para tentar publicar às 23hs.

Vou publicar na Rua dos Contos.

José Pires F. disse...

Aguardo indicação da hora.

Clarissa disse...

avance sr pires que nós o seguimos . estamos à sua espera on line

Clarissa disse...

Sr Pires fica para as 23.30h?

Desambientado disse...

Quando me falam em neve, vem-me logo à memória este poema.

Anónimo disse...

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Parapeito disse...

...voltei de novo á carteira da escola...parece que ainda foi ontem :)