O apetite pela mudança.

Porque me diz directamente respeito assim como a muitos trabalhadores deste país e porque hoje tive oportunidade de ler um artigo de Christopher Grey na World Business que consolida o meu pensamento, não quis deixar de partilhar uma parte do que ele escreve e também algumas buchas pessoais para o fim-de-semana.

Começa Christopher Grey por dizer que o apetite insaciável dos gestores pela mudança, ignora os custos com a fadiga do pessoal e a falta de inovação que a acompanham, e eu concordo em pleno com esta análise. É a loucura da mudança a uma velocidade sem precedentes e sem sinais de abrandamento.
Hoje é uma afirmação generalizada a ideia de que vivemos num mundo de mudanças extremamente rápidas e o que é que isto significa? Muito pouco e é aí que reside o problema, porque estas palavras, ou semelhantes, fazem já parte do léxico empresarial e quase nem reparamos nelas.

Hoje em dia, a maioria dos gestores e dirigentes tem pouco interesse numa das suas principais capacidades: a gestão da estabilidade, que feita com eficiência lhes permite atingir objectivos estratégicos. A arte da organização centra-se na resistência, na gestão quer da continuidade quer da mudança, e perdem a primeira parte se comprarem invadidos pela histeria da compra e enfrentam nesse caso, um clássico erro de lógica. A mudança é necessária. Isto é mudança e, por isso, é necessário.
A ideia de que qualquer alteração é boa causa danos enormes, leva-os a violar princípios racionais de gestão como por exemplo a análise custos/benefícios. É fácil ser seduzido pelos benefícios, mas será que se contabilizam os custos? Será possível contabilizá-los, tendo em conta como é comum embarcar numa nova série de mudanças antes de deixar que os esforços anteriores se instalem e sejam avaliados?

E a “fadiga da mudança” um dos fenómenos mais perturbadores, menos quantificáveis das organizações e familiar a muitos mercados.
Outra mudança? Mais reorganizações? Desmoraliza num abrir e fechar de olhos e provoca movimentação do pessoal, desilusões e perda de empenho.
Os executivos aprendem que as pessoas “resistem à mudança de forma irracional” e que isto deve ser ultrapassado em vez de resolverem a sua causa fundamental que pode passar até, pela solução de não fazer essa modificação.

É possível que as mudanças devam ser frequentemente efectuadas pelo bem da organização, mesmo que ameacem interesses individuais, mas a taxa de insucesso em processos de gestão de mudança é bem conhecida e sugere que nem sempre as transformações são efectuadas no interesse da organização. A resistência dos empregados provém muitas vezes do facto de saberem mais da empresa do que o escritório principal e por maioria de razão, mais que aquele gestor contratado só para fazer a mudança.

Qualquer líder inteligente sabe que pode existir uma clivagem entre os melhores planos e a realidade no terreno. A mudança continua não causa apenas fadiga, está também associada a outros problemas organizacionais, por quebrar quase inevitavelmente o “contrato psicológico” com os empregados, a relação não verbal e não documentada, mas assumida entre o indivíduo e a organização, conduz muitas vezes à erosão da confiança e alimenta a “síndrome do sobrevivente”, em que os que viram os colegas serem seleccionados se tornam desconfiados e se enchem de ressentimento face ao patronato. A ligação psicológica das pessoas, não apenas ao seu local de trabalho mas também, o que é muitas vezes mais importante, aos seus colegas não deve ser subestimada. As empresas não podem simplesmente cortar uma parte do “capital humano” e imaginar que os que ficam continuarão como dantes, estas estratégias criam ressentimentos e minam a identificação entre o colaborador e a organização.

Concluindo:
A diferença para uma gestão eficaz é que esta desenvolve estratégias inventivas de forma a ultrapassar limitações reais ou imaginárias, desenvolve e age de acordo com estratégias de longo prazo, controlando as tarefas e as expectativas do “capital humano” de forma pró-activa, o que lhe permite atingir objectivos estratégicos em vez de apagar fogos.
O contrário subverte o significado da “palavra assumida”, corrompe e substitui-a por matéria descartável. São necessários novos métodos que sustentem as ideias primordiais para daí partirmos para o combate à crise do sistema de valores capitalista que não constituem de forma alguma, um “ambiente estável” para as empresas.

17 comentários:

José Pires F. disse...

Concluo que os que agora lêem este comentário leram o post, o que retira razão ao Rui Martins, quando diz que na net ninguém lê mais de 25 linhas e dá razão ao Rui Semblano que pelo contrário, aposta numa introdução apelativa como forma de agarrar o leitor.

Um abraço a todos e um excelente fim-de-semana.

Anónimo disse...

Pois!!!Muito foi dito e em boa verdade...continua a ser de lamentar que as mudanças nas empresas nunca sejam feitas para beneficiar os funcionários,mas sempre as empresas:(Qunto ao comentario do piresf olha que até concordo com o Rui Martins na sua maioria os posts grandes não são lidos...bom fim-de-semana para ambos e bjs para todos;)

Teresa Durães disse...

PiresF: Como Funcionária Pública, onde o "patrão" e os "patrõezinhos" desconhecem por completo o negócio, as regras, falam em mudança mas nem percebem do que falam....

(e nem noção têm do chamado "capital humano") - confesso que não gosto do termo, nem "recursos humanos".

...

Onde as mudanças são só "lá em cima"... e também se passa o mesmo o mesmo nas grandes empresas privadas (a dança das cadeiras.. sempre)

E para quem trabalha em informática como eu, sistemas de informação, que deparo-me com cada situação com essas mudanças... impossíveis, dispendiosas, sem nexo...

Enfim... show off... o que chamaria..

Meia Lua disse...

Trabalho numa empresa que muda constantemente. Custa-me acreditar, como querem, que as mudanças são sempre para melhorar o trabalho e a estratégia da companhia. Mudamos tanto, tanto que a identidade fica pelo caminho. A mudança selvagem, actua como factor desmotivador e fomenta o desequilíbrio emocional de quem nela trabalha. Na maioria das vezes, posso até dizer que quase sempre, acontecem para reduzir custos. Custe o que custar. Bom fim de semana e bjinhos

Anónimo disse...

pois é...sabes Pires amigo, o que te digo? Não fomos feitos para trabalhar mas sim para cintemplar a beleza, a arte e desenvolvê-la. Tudo o resto são invenções que um dia acabarão!...
Gostei de ler o teu artigo. Sim senhor
Beijinhos e abraços

Sofia disse...

Trabalho em uma empresa que nos últimos cinco anos passou por cinco grandes mudanças (ou "reestruturações"). A maioria das pessoas está farta, sem contar aqueles que perderam a confiança nesse tipo de processo.
Seu texto está excelente !!
Abraços,

JP disse...

Identifiquei-me imediatamente ao ver este blog, até pelo fundo idêntico que adoptei recentemente. Li esta e a publicação anterior, onde puxou um pouco o tapete vermelho no qual se passeiam alegremente os bloquistas e decidi venerar o autor por me identificar com as ideias de uma forma absoluta.
Fora de tempo para esse comentário, resta-me deixar aqui uma ideia de constante e necessária aprendizagem, adversária de todos e quaisquer obstáculos à mudança. As pessoas do nosso século, jamais poderão repetir os nossos avós na lenga lenga dos benefícios do saber aquirido. O mundo muda demasiado depressa para que possamos parar de aprender e continuar a conpreender o que se passa à nossa volta. Deixo para outra ocasião a inovação e a mudança, preocupo-me em acompanhar o ritmo.

Clarissa disse...

Um beijo grande meu amigo :)

José Pires F. disse...

Zalinha, Ave, Meia Lua e Sofia!

Esse é um dos problemas, as mudanças visam o objectivo do lucro o que até é compreensível, o que acontece é que os trabalhadores são vistos como números descartáveis ou substituíveis e aí é que está o erro.
Os trabalhadores devem ser considerados uma mais valia de qualquer empresa porque são depósito do “conhecimento tácito” o que significa que conhecem todo o tipo de dados úteis sobre uma empresa, mas estes só existem dentro das suas cabeças.
Na Função pública o problema é ainda mais gritante, passou-se do imobilismo de décadas, para o desmobilismo sistemático porque é preciso mostrar mudança a qualquer custo e já, utilizando a técnica familiar do benchmarking, através da qual as organizações e os dirigentes se comparam com outros membros do sector. À primeira vista isto parece razoável, mas numa observação mais atenta é uma receita para a cobardia, porque com o benchmarking os gestores protegem-se contra as criticas e depois dizem: Não cometi nenhum erro, limitei-me a seguir os líderes e por isso não é de admirar que os maus erros de uma empresa se multipliquem em vários sectores.
Eu não sou contra ao benchmarking quando aplicado aos processos, o que equivale a aprender com culturas que arriscam inovar, sou contra é ao benchmarking efectuado em comparação dos resultados dos principais concorrentes.

Concluindo: Os gestores têm de resistir à tirania da mudança pela mudança. Os mercados podem ter pouca visão, mas os gestores têm de ver mais longe do que considerar a mudança como uma marca de liderança e de uma gestão.



Grande abraço ao quarteto magnifico.

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Jorge Pereira!

Obrigado pelas tuas palavras, mas discordo de um ponto (se bem entendi a tua ideia) que reputo da máxima importância.
Dizes que: “As pessoas do nosso século, jamais poderão repetir os nossos avós na lenga lenga dos benefícios do saber aquirido”. Bem meu caro Jorge, desde quando é que o saber adquirido é uma lenga, lenga? O saber adquirido é sim uma importante mais valia para todos; empresas e trabalhadores. Não devem estes ser menosprezados, nem devem os mais novos pensar que o mundo é agora muito diferente ou que muda muito mais depressa que antes.
Creio que vives na crença de que vivemos tempos de mudança sem precedentes, mas a realidade é que estes tempos são comuns a muitas outras eras. Quem pode afirmar que as mudanças associadas ao microchip são mais rápidas ou mais abrangentes do que as associadas à imprensa?
Normalmente localiza-se o cenário dos “bons velhos tempos” numa época estável entre 1945 e a crise do petróleo de 1974, contudo, dificilmente podemos classificar a ordem do pós-guerra como de estabilidade, seja ela económica, política ou tecnológica, a sabedoria recebida não ignora por exemplo, a corrida ao espaço, a corrida aos armamentos, o desenvolvimento dos computadores, a guerra fria, a descolonização, as guerras da Coreia e do Vietname, o movimento feminista, grandes vagas de imigração e emigração, grandes alterações na cultura juvenil e as relações entre gerações.
Claro que o mundo muda demasiado depressa, mas isso não é de agora, sempre foi assim em cada época e concordo quando dizes que não podemos parar de aprender e compreender e acrescento; segue o ritmo dos mais velhos, de olhos e ouvidos bem abertos, eles têm sempre muito para ensinar.
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Pinto Ribeiro, Clarissa e Diamond!

Obrigado e um grande abraço.

José Pires F. disse...

TB!

Está a ficar parecida com o mestre Agostinho.
“O homem se cansa quando trabalha, logo, não nasceu para trabalhar”.

Abraço

nunocavaco disse...

PiresF said...
Ufff!…

Já vinha lançado para desancar as tuas contradições.
Entendi-te e confirmo a ideia inicial com que fiquei.

Abraço.

Caro PiresF foi este o comentário que me deixou e que me levou a passar por aqui. Não vou responder ao comentário mas vou comentar o seu post.

Como já reparou sou de esquerda, e de esquerda mesmo e não concordo com nada daquilo que escreveu à excepção do exerto de uma frase "a crise dos valores do sistema capitalista". Verdade o sistema capitalista entrou em crise e nem os melhores gestores, nem as melhores pessoas podem salvar o sistema porque, é o próprio sistema que cria crises cíclicas. Com isto não digo que a alternativa está aí. A alternativa depende de um processo evolutivo em que o neoliberalismo deixa de fazer sentido porque os valores morais não o concebem. A mudança e a rapidez da mudança só agudizam os problemas. Repare fala-se muito de economia e gestão e pouco de problemas sociais que estas deveriam resolver e não criar. Assim, o humanismo e as crises capitalistas levarão a um maior estado de consciência que levará a que o capitalismo selvagem em que hoje vivemos se transforme a pouco e pouco num socialismo humanista em que a guerra e o roubo de recursos sejam negados. A porta está aberta, veja-se a América Latina.
Sei que não concorda, mas é a minha opinião.

José Pires F. disse...

Caro Nuno!

Obrigado pela visita.

Se bem compreendo a frase “sou de esquerda, e de esquerda mesmo”, digo-lhe que só sou de esquerda, da esquerda pluralista com a qual me identifico ideologicamente mas não com a prática que infelizmente costuma adoptar.

Este não é um post de ideologia política nem de gestão, mas sim sobre este novo tipo de gestores e sobre a gestão das tensões e conflitos internos que têm um impacto directo na saúde das empresas que lideram e inevitavelmente em todos os trabalhadores assalariados. É um post sobre a hibridez, a mistura de estilos e o narcisismo dos actuais gestores, sobre espíritos gregários, apostas erradas e mudanças mal pensadas.

Quando digo: “São necessários novos métodos que sustentem as ideias primordiais para daí partirmos para o combate à crise do sistema de valores capitalista que não constituem de forma alguma, um ”ambiente estável“ para as empresas”, situo-me nestes tempos e não noutros, porque não vivemos em 1867 nos tempos do Capital de Karl Marx, mas sim no de Karl Popper que criticou a engenharia social-utópica do totalitarismo e da social-democracia, preferindo ganhos incrementais contínuos baseados em análise racional.
Mas de Marx, recordo a ideia de que para se compreender uma sociedade deve-se entender primeiramente a sua forma de produção.

Grande abraço.

PS: Nalguns aspectos, somos capazes de não andar assim tão longe um do outro.

Anónimo disse...

Vim espreitar as novidades. Como não há, deixo beijo

nunocavaco disse...

Caro Piresf, fui levado pela irritação. Concordo nalguns aspectos até estamos próximos. Devemos perceber a forma de produção, afinal, a redistribuição de riqueza passa essencialmente por aí.
Um abraço

Anónimo disse...

Boa tarde amigo Pires,
Mudar é sempre bom, mais as mudanças constantes que estão acontecendo com o mundo tráz um serie de efeitos colaterais inreversiveis!!!!
O Que nos resta é tentar nos adaptar!!!

Abraços...

JP disse...

Este espaço tão interessante de debate tem forçosamente de ser alargado, e se me é perdoada a ousadia, a título de sugestão, gostaria de remeter para um assunto mais actual e visível, com post facial, onde, quer queiramos quer não, há maior visibilidade do que neste "comentários/chat", apesar do seu relevante valor. Após a queda do muro de Berlim, a reforma dos patrões do Socialismo abrirá decerto os horizontes do pensamento ideológico. Só não verá quem não quiser ver: - o mercado e os exemplos funcionam de forma global e livre.

Non disse...

Passei só a dar-te um beijinho.

O texto já o li no outro dia.


:)

Bj