A Net, esse alter que assoma, distorcendo e invertendo a realidade para a tornar mais verdadeira.


Consigo visualizar esse “mentir”, principalmente a verdade desse mentir… o outro lado do espelho, dos simbolismos... onde se mente para melhor atirar a verdade suja ou o mistério do belo... onde num gesto que não é isolado se atiram para o écran palavras daquilo que sentimos na altura... pegada sobre pegada guiamo-nos pela luz das estrelas que nas folhas ficaram... um jogo ontológico onde se mente, na medida em que se subverte a realidade comum com a arte mágica de remover dos rostos as crostas duras da verdade rotineira, onde as palavras queimam por dentro e são a senha que dá acesso ao mundo dos vivos... o cosmos inteiro confundido numa mistura explosiva... um poema em que residem sentimentos e sentires... sim, a poesia serve para reencantar o mundo, serve para olharmos para nós e pensar; onde me enganei no caminho?... quem sou eu, afinal?... interrogações sempre sem resposta mesmo do outro lado do espelho, porque a verdade está tão subornada pela linguagem comum que a mentira se torna uma distinção poética e de toda a arte.

O poder da mentira é o de dizer a verdade!!!!!

Sacudamos os dentes que procuram rasgar-nos as carnes e dilacerar-nos o ânimo... deixa-me ir contigo até ao fim mais agudo da tua vida, pois só a mentira permite dizer a verdade para lá das verdades comuns e mentir acaba sendo uma necessidade absoluta neste jogo de aparências quotidiano... do apelo da selva que perdura e onde os predadores renascem mordendo trigo novo... onde as palavras são jogos de espelhos em que o lado direito parece ser o lado esquerdo, mas é dessa forma que expressamos as nossas emoções e sentimos tanta coisa quando escrevemos; pensamos em alguém que amamos... que não gostamos... numa paisagem... num momento único vivido... e nem cantos nem lágrimas poderão parar o destino marcado a cada um de nós e a todos nós, quando nos foge o tempo no espinho duma rosa branca.
Na verdade, todos os momentos são únicos, pensamos nesse instante sentado a sul dos astros... e quando voltamos a pensar já não conseguimos pensar da mesma forma, aquele instante ficou cristalizado, é apenas daquele momento e de mais nenhum... da fera acorrentada na praia ou do deus indulgente que inventou o pecado original.