A Janela do Pensamento - I


Chovia. No charme do ócio, encostada à janela desenhava traços sem nexo no vidro que recebia a sua respiração. Enquanto isso, ele, no abrigo da chaise-longue escondia-se. Observa-a.
Estava sozinha no dia em que completava vinte e dois invernos. A serenidade encontrada era visível no rosado das faces. Os cabelos negros, caídos sobre os ombros, ainda cheiravam a sais de banho de onde saíra antes de enfiar aquela camisola masculina sobre o corpo nu e, como sempre também acontecia, era com o já conhecido nó na garganta assaltada pelas recordações que esta lhe trazia.
Colocou a mão esquerda sobre o peito e acariciou-o com gestos suaves e cadenciados. O momento, contigente e volátil, era uma paisagem de enlevos.
Pela primeira vez ele mudou-se para uma posição que lhe dava maior visibilidade. Ela continuava absorta nos seus pensamentos, enquanto, como se de uma recomendação bíblica se tratasse, os traços celebrando os sentidos continuavam a sair do seu lânguido indicador para o interior embaciado da janela.
Mudou de posição dando as costas ao seu observador, que inicia então um avanço lento. Quase secreto. Sem vacilar. Sabendo que não seria visto e, pela primeira vez, ela repara que subconscientemente forçara o indicador a escrever um nome. Iluminou-se-lhe o rosto pela imparável percepção e não resistindo leu-o quase em grito: - RODOLFO!?
Assustado com o som inesperado, ele saltou para cima da livreira que ficava na parede fronteira à janela do quarto.
Encostando-se repentinamente à janela, ainda com a mão esquerda sobre o peito, disse: - Gato desgraçado, um dia acabas comigo!

A resposta que faltava ao Senhor Professor Paulo Borges



Meu caro, sei que é adepto da democracia de via reduzida, e que as faltas de respeito de trato com a sua elevada pessoa o incomodam, mas como sabe carece de resposta. Estamos no outono, é no outono que as folhas caem e é o outono que representa o fim dos dias bons.

Quando o meu caro disse, “Quem vier para agredir o seu espírito” referindo-se à Nova Águia “ou denegrir os seus mentores deve procurar outro lugar”, sabia bem que a questão não era a que apregoava, e a sua fuga para a frente, típica de quem se sente acossado, foi de uma enormidade inacreditável. Precisamente porque se sentia seguro e se desfrutava irresponsável. O que é, a bem dizer, um epifenómeno.
A questão, que você sabe e muitos de nós também, foi o que disse em artigos e nas caixas de comentários da Nova Águia (NA), contra a NA, os membros da NA e o Manifesto da NA acoitado sob a tal capa de fantasia como lhe ousou chamar, e o que foi dizendo, a la carte, deitando mão a truques trampolineiros e com a irresponsabilidade dos pantomineiros. Isso é que é grave, demasiado grave. Para quem? Para divertimento de quem? Para terapia de quem? Não sei. Sei que perdeu a noção do ridículo e seja onde for que isso aconteceu, também lá deve estar caída a sua honestidade intelectual.

O Paulo como bem sabe, revelou-se ao vivo uma surpreendente fraude, e num ambiente de hostilidade desbragada, espumando a sua frustração e ressabiamento, tentou limpar factos, números e argumentos, apagando os vitupérios que publicou acoitado sob o nome de Rasputine e expulsando com a maior prepotência os que consigo não concordavam e que o podiam denunciar. Sim, Paulo você deu-me a prova da causa mais funda do seu desespero e intermitente decadência actual, a prova de que o Paulo é o fantoche do Rasputine.

Compreendo que não seja adepto do contraditório objectivo mas o seja das confrarias do elogio mútuo: as “comadres” (que nome tão suave para o que elas perpetram) essa brigada de imbecis habitués que se julgam o centro do mundo e deles deriva a figura universal do Grande Acusador, mas acontece que, nem todos os que vivem no deserto são camelos, há excepções que não gostam de tipificações: nem das que reduzem um indivíduo a tipo predefinido, nem das outras que alargam a um vasto conjunto de indivíduos a atribuição de tipo.

O meu último conselho, vai no sentido de: quanto menos falar, menos se compromete, menos se queima e mais o respeitam. Nem que seja um corifeu perene e senil, um sacana de um canalha silencioso ou um aprendiz de Rasputine.

Por fim, para terminar e sobre a questão da minha e de outras prepotentes expulsões do blogue, o que estas expressam é pasto de infernos, são tão-só, vagas e imbecilizantes intenções de quem acredita que a sua idealite aguda é um estado de alma colectivo. Coisa que, amiúde, ataca os tiranetes e os seus minúsculos poderes.
O meu caro resiste a uma teoria da conspiração criada por si próprio? Grande mérito, sim senhor. Só falta que a criação lhe fuja das mãos, tipo Frankenstein. Não sei se bebe nem quero saber, mas sei que está embriagado de hipocrisia. Olhe, Paulo eu pintava-me de preto e saía fininho de cena, mas a sua ambição é de desmesurado tamanho, não é?