Um novo rumo para Portugal - Parte VIII


Fernando Pessoa, sugestionado por António Vieira e pelo profeta Bandarra, convenceu-se que o mito sebástico teria uma nova encarnação, que o faz, em louvor ao Presidente-Rei escrever esta quadra:

Flor alta do paul da grei
Antemanhã da Redenção,
Nele uma hora encarnou El-Rei
Dom Sebastião.

Comecemos, por ser importante, a descrever Pessoa pelas suas próprias palavras, quanto à sua religiosidade e patriotismo; podemos ler numa nota biográfica do poeta escrita em 30 de Março de 1935, como introdução ao poema intitulado: “À memória do Presidente-Rei Sidónio Pais”, só publicado em 1940 pela Editorial Império, o seguinte:

Posição religiosa: Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta na Maçonaria.


Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católica-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: “Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação”.

12 comentários:

Macillum disse...

E é fácil ver em que sectores de Portugal é que a maçonaria está bem estabelecida através da simbologia: as Folhas-de-Acácia, Simbolo Maçónico Internacional (SMI), surgem a enfeitar o Brasão de Portugal desde a Instauração da República, aquando a utilização deste na oficialização de documentos, dinheiro e repartições de Estado;
Vêmos um Compasso (SMI) no logotipo da Ordem dos Engenheiros;
Um Mocho (SMI) no logotipo da Universidade de Coimbra;
Folhas-de-Acácia, Livro-Aberto (SMI), Lamparina (SMI) e Mocho no logotipo da Ordem dos Advogados de Portugal;
Folhas-de-Acácia na Confederação dos Agricultores de Portugal;
Livro-Aberto e Águia olhando p/ nossa esquerda (símbolo imperialista e militarista) no logotipo da Universidade de Aveiro;
Círculo com ponto-ao-centro (SMI) no logotipo do Jornal "O Independente"...
Chamo tb a atenção para as Folhas-de-Acácia no logotipo do Fundo Monetário Internacional (FMI), na garra da águia do Selo Oficial dos E.U.A. e no logotipo da Organização das Nações Unidas (ONU)

www.novaordemditadurial.blogspot.com

Unknown disse...

“Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação”.

Não me vou por aqui a escrever sobre o resto do post porque iria de certeza fazer figura de parvo, mas gostei desta parte final.

marinheiroaguadoce a navegar

isabel mendes ferreira disse...

fernando pessoa á a prova provada de que a metafísica do olhar descritivo e incisivo pode ter vários "olhares"....

este é um post que convida à meditação inteligente....o que duvido sirva aos bloguistas do olá como estás...mas é um excelente post/proposta.


beijo.

isabel mendes ferreira disse...

(droga....enganei-me...queria dizer Fernando Pessoa é....)



:)

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá PiresF

Ando a fazer um trabalho sobre Pessoa.

"A obra ortônima de Pessoa passou por diferentes fases, mas envolve basicamente a procura de um certo patriotismo perdido, através de uma atitude sebastianista reinventada.

O ortônimo foi profundamente influenciado, em vários momentos, por doutrinas religiosas como a teosofia e sociedades secretas como a Maçonaria. A poesia resultante tem um certo ar mítico, heróico (quase épico, mas não na acepção original do termo), e por vezes trágico.É um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da Vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo duma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista e mesmo de influência oriental) que reside uma explicação plausível para ter criado os célebres heterónimos - Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterónimo Bernardo Soares.
A principal obra de "Pessoa ele-mesmo" é Mensagem, uma coletânea de poemas sobre os grandes personagens históricos portugueses.

O livro foi, também, o único a ser publicado enquanto foi vivo".

(Saquei este pequeno texto da net que achei bastante interessante para trabalhar sobre ele - texto - Pessoa).

Parabéns! Um bom trabalho, gostei!

Beijinhos

Era uma vez um Girassol disse...

Huuummmm, interessante post acerca de Pessoa e das suas posições patriótica e religiosa, com a achega esclarecedora da Betty. Apenas assisto, muito interessada...!
Bjinhos

Poliana Pasa disse...

Não sabia deste viés de Pessoa.
Inclusive, sei muito pouco sobre Pessoa. Acho muito interessante escreveres sobre ele.

Fazia tempo que eu não passava por aqui. Que vergonha! Na correria, acabo não navegando muito pela blogosfera. Virei com mais freqüência.

Abraços.

José Pires F. disse...

Macillum!

Parece que tem razão, mas importa saber é se isso é mau.
Confesso o meu desconhecimento e como consequência a minha posição neutral, já que, necessitaria de um melhor e mais profundo conhecimento, para ter uma posição sobre as Ordens secretas.
Quando leio Findel ou Kiuss e depois me confronto com Barruel ou Robison, acabo inevitavelmente por me confrontar também com a necessidade de compreender mais para tomar uma decisão, talvez por isso a minha posição não seja a favor, mas também não é contra.

Um abraço

………………………

Marco Ferreira!

É de facto uma frase muito significativa.

Um abraço

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Isa!

Claro que sim, e são importantes para a descoberta da verdade.

Quanto ao outro assunto; sou de opinião que alguns poderiam dar mais, partilhar mais conhecimento com a blogosfera, infelizmente, no caso de alguns mais capazes, decidiram não o fazer, decidiram que para eles a blogosfera era uma outra coisa e eu não concordando, tenho de respeitar.

Um abraço

……………………...

Betty!

Não posso dizer que sou um profundo conhecedor de Pessoa, mas sou certamente um bom leitor, e tenho por ele e pela sua obra grande admiração.
Este post, insere-se numa série de posts sobre a temática do Quinto Império e o novo pensamento português, ideia iniciada por António Vieira e também estudada por Pessoa, como podemos constatar nos seus estudos.

O próximo post que será publicado no sábado, dia impar como o são as ideias diferentes, será também sobre Pessoa.
Para uma melhor compreensão da intenção, podia ler o primeiro aqui: http://espreitador.blogspot.com/2006/03/um-novo-rumo-para-portugal-parte-i.html

Agradeço o texto que fez o favor de aqui deixar, numa atitude de partilha que só abona em seu favor, eu pela minha parte agradeço-lhe imenso e sei que não falo só por mim.

Obrigada e um abraço.

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Girassol!

Olá amiga. Na partilha de informação lá vamos aprendendo uns com os outros.

Grande abraço.

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Poliana!

Olá Senhora Jornalista. Sejas bem aparecida.
Eu compreendo que não é fácil para ti, também eu tenho passado pouco pelo teu blog, mas tenho passado e constatado, que as tuas crónicas estão cada vez melhores, a tua forma de escrever mais fluida e começa a ser notório o estilo Poliana.

Grande abraço.

Clarissa disse...

Padrinho...passei só para te deixar um beijinho, estou cheia de sono...
(Que será feito do Olho e da Conteúdo?! Sinto a falta deles.)

Beijo grande :)

José Pires F. disse...

Clarissa!

Sono? Já?

Também não sei… ainda ontem passei por lá e verifiquei que continuam sem dar sinal de vida.

Bem… Bons sonhos então.
Grande abraço.

Maite disse...

Caro PiresF
E da Mensagem de Fernando Pessoa recordo aqui este poema

O céu 'strela o azul e tem grandeza
Este, que teve a fama e à glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia: e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.


Boa noite para si

José Pires F. disse...

Maite!

Obrigada por recordares aqui este poema de Pessoa, e já que o fizeste lembro aqui um outro, um pouco longo, de titulo Quinto Império:

Quinto Império

Vibra, clarim, cuja voz diz.
Que outrora ergueste o grito real Por D. João, Mestre de Aviz,
E Portugal!

Vibra, grita aquele hausto fundo Com que impeliste, como um remo, Em El-Rei D. João Segundo
O Império extremo!

Vibra, sem lei ou com lei,
Como aclamaste outrora em vão
O morto que hoje é vivo — El-Rei D. Sebastião!

Vibra chamando, e aqui convoca
O inteiro exército fadado
Cuja extensão os pólos toca
Do mundo dado!

Aquele exército que é feito
Do quanto em Portugal é o mundo
E enche este mundo vasto e estreito
De ser profundo.

Para a obra que há que prometer Ao nosso esforço alado em si, Convoco todos sem saber
(É a Hora!) aqui!

Os que, soldados da alta glória, Deram batalhas com um nome,
E de cuia alma a voz da história Tem sede e fome.

E os que, pequenos e mesquinhos, No ver e crer da externa sorte, Convoco todos sem saber
Com vida e morte.

Sim, estes, os plebeus do Império; Heróis sem ter para quem o ser, Chama-os aqui, ó som etéreo
Que vibra a arder!

E, se o futuro é já presente
Na visão de quem sabe ver,
Convoca aqui eternamente
Os que hão de ser!

Todos, todos! A hora passa,
O gênio colhe-a quando vai. Vibra! Forma outra e a mesma raça Da que se esvai.

A todos, todos, feitos num
Que é Portugal, sem lei nem fim, Convoca, e, erguendo-os um a um, Vibra, clarim!

E outros, e outros, gente vária, Oculta neste mundo misto.
Seu peito atrai, rubra e templária,
A Cruz de Cristo.

Glosam, secretos, altos motes, Dados no idioma do Mistério — Soldados não, mas sacerdotes,
Do Quinto império.

Aqui! Aqui! Todos que são.
O Portugal que é tudo em si, Venham do abismo ou da ilusão, Todos aqui!

Armada intérmina surgindo,
Sobre ondas de uma vida estranha.
Do que por haver ou do que é vindo —
É o mesmo: venha!

Vós não soubesses o que havia
No fundo incógnito da raça,
Nem como a Mão, que tudo guia, Seus planos traça.

Mas um instinto involuntário,
Um ímpeto de Portugal,
Encheu vosso destino vário
De um dom fatal.

De um rasgo de ir além de tudo,
De passar para além de Deus,
E, abandonando o Gládio e o escudo,
Galgar os céus.

Titãs de Cristo! Cavaleiros
De uma cruzada além dos astros, De que esses astros, aos milheiros,
São só os rastros.

Vibra, estandarte feito som,
No ar do mundo que há de ser.
Nada pequeno é justo e bom.
Vibra a vencer!

Transcende a Grécia e a sua história
Que em nosso sangue continua! Deixa atrás Roma e a sua glória
E a Igreja sua!

Depois transcende esse furor
E a todos chama ao mundo visto. Hereges por um Deus maior
E um novo Cristo!

Vinde aqui todos os que sois, Sabendo-o bem, sabendo-o mal, Poetas, ou Santos ou Heróis
De Portugal.

Não foi para servos que nascemos De Grécia ou Roma ou de ninguém. Tudo negamos e esquecemos:
Fomos para além.

Vibra, clarim, mais alto! Vibra! Grita a nossa ânsia já ciente
Que o seu inteiro vôo libra
De poente a oriente.

Vibra, clarim! A todos chama! Vibra! E tu mesmo, voz a arder,
O Portugal de Deus proclama
Com o fazer!

O Portugal feito Universo,
Que reúne, sob amplos céus,
O corpo anônimo e disperso
De Osíris, Deus.

O Portugal que se levanta
Do fundo surdo do Destino,
E, como a Grécia, obscuro canta Baco divino.

Aquele inteiro Portugal,
Que, universal perante a Cruz, Reza, ante à Cruz universal,
Do Deus Jesus.


Um grande abraço.