Falta-me a vontade de ter vontade.

Existem na nossa vida, factos, acontecimentos, circunstâncias, enfim, várias coisas - digamos assim -, umas relevantes outras nem por isso, mas que nos marcam e, sinceramente, não me recordo mesmo fazendo um esforço no sentido de factorizar qualquer agente empírico ou experimental, que tenha contribuído para esta condição que, resulta na falta de pachorra para os livros do António Lobo Antunes.

E logo o António Lobo Antunes (!?), que deu ao mundo em geral e em particular aos portugueses, obras como “Os Cus de Judas” ou o seu mais recente “Ontem não te vi em Babilónia”. Um escritor agraciado com quatro prémios literários e, de quem, tantos gostam e elogiam a começar por ele que se compara a Faulkner e a Scott Fitzgerald, que analisa a sua prosa com pérolas como: “É óbvio que estou a escrever cada vez melhor” e a quem, a desatenta academia de Estocolmo não presta o respeito e a outorga devida, o que, o leva a partilhar com o mundo em geral e em particular com os portugueses, este profundo sentimento: "Honestamente, se tivesse de escolher um escritor escolhia-me a mim". Ora, se este honesto sentimento/desabafo não fosse suficiente, bastaria esta sua consideração: “Eu gosto desta terra. Nós somos feios, pequenos, estúpidos, mas eu gosto disto”, que só por si, é merecedora de profunda reflexão e reconsideração da teimosia que mantenho.

Mas vejamos: Não se trata de falta de respeito por quem escreve e, muito menos, de alguma tentativa de abate de tão erudito autor, porque, não faço parte de nenhuma das matilhas uivantes que só escrevem por estarem mal com a vida e, assim, recentram o equilíbrio do seu alter-ego, não! Eu sei que a escrita pode ser um exercício catártico, no sentido emocional de traumatismos recalcados e exteriorização de sintomas que a psicanálise explica e, também, que muitas vezes, muitos autores, se estão nas tintas para a criação de cumplicidades com os leitores, já que, o objectivo da escrita, se encontra no âmbito da purgação de paixões por meio da arte que lhes permite expandirem-se ficticiamente, o que, torna dolorosa, tediante e enfadonha a sua leitura, por vezes, insuportável até.

Finalmente e para terminar, fica uma das suas geniais frases, que é um exemplo do porquê de não o conseguir ler: “É mais sensual uma mulher vestida do que uma mulher despida. A sensualidade é o intervalo entre a luva e o começo da manga”.

Juro que tentei, aliás, tentei uma, duas, três vezes e, conclui, que me falta a vontade de ter vontade de ler um livro deste grande escritor português.

24 comentários:

Outsider disse...

Por acaso nunca li nenhum livro deste senhor. Mas, confesso que tenho alguma curiosidade. No entanto, após esta tua descrição do tipo de escrita que se trata e, como tenho em elevada conta o teu modo de escrever e a tua opinião, desconfio que não vou gostar.
Um Abraço.

Maite disse...

PiresF viva!

Olhe que no outro dia estive a ler a entrevista que ele deu ao Público e, sistematicamente, só me vinha à cabeça que este senhor está cada vez mais autista...enfim..

Uma boa tarde para si

Teresa Durães disse...

na minha opinião sincera uma coisa são os livros e outra os autores. o mesmo se passa no resto das artes. de outro modo era impensável gostar de Dali, Rolling Stones (já viu a cara e a vida do Jagger???). Pense na poesia de Florbela Espanca (o que é senão desgostos ou exaltações? mas não a conheceu!))

e cada vez que ouço a Música de Peter Gabriel penso sempre (deve ter um mau feitio o raio do homem!)

a lista seria interminável.

Parece que Bethoveen também não era flor que se cheirasse.

Isabel Magalhães disse...

Eu leio A.L.A. desde sempre...! :)

Deixo uma pergunta:

não 'estaremos' a confundir sensualidade com erotismo?

Deixo tb um abraço.

I.

ROADRUNNER disse...

Li o Fado Alexandrino e não desgostei. Sempre é preferivel à Agustina Besssa Luís...

Rui Martins disse...

Cada vez tenho menos pachorra para estes nomes que os Media e as famílias de bem que governam este país desde o famigerado ultracatólico Dom João II nos impingem.

Lobo Antunes é aparicado por esta maralha, logo merece o meu desprezo enquanto pessoa (que conheço pelas linhas que fui capaz de digerir a contragosto) e enquanto carácter:
"Nós somos feios, pequenos, estúpidos, mas eu gosto disto"

provavelmente, porque se julga "belo, grande e inteligente" e gosta porque o contraste lhe garante estas classificações.

o problema está em que...

está errado. triplamente errado.

lido todos os dias com os bárbaros do norte (belgas, holandeses, dinamarqueses e noruegueses) e vejo sempre neles os mesmos erros que vejo em nós. Por isso se somos "feios, pequenos e estúpidos" não seremos mais (enquanto Massa) que essas "gentes loiras" de Agostinho.

Anónimo disse...

Sabes que o autismo é uma doença para a qual ainda não há cura...
Está muito bem construído este texto.
Um crítica pela positiva, como convém, aliada a um humor que apenas se pode vislumbrar nas entrelinhas.
Gostei muito, do teu texto, claro! :)
abraço

Fragmentos Betty Martins disse...

Por falar em "paixões" eu tenho assim uma espécie - "de" - por A.L.Antunes, tenho tudo o que posso ter do "escritor" - os livros - a sua escrita...

"Nos meus livros falta, talvez, uma dimensão – que eu tenho – de prazer, de alegria, de gostar de viver, de estar com os amigos. Isso não aparece, dá-me ideia, nos meus livros, ou se aparece é sob uma forma de sarcasmo, de ironia. Embora digam isso, não me sinto agressivo, sinto-me miúdo, em certas coisas sinto-me pequeno, pequenino, gostando de chatear os adultos, mas tenho funcionado sempre assim, sempre em temas tão afectivos!"

(in Jornal de Letras, Artes e Ideias)

Mas dou-te os parabéns pelo teu post. Está com uma crítica excelente.

Beijinhos

Anónimo disse...

Amigo, não conheço... E agora tão pouco quero...
Há sim a diferença entre escrita e escritor mais ha casos em que um interfere demais no outro se torna uma rua estreita demais...
Que frases são essas... Pensamentos de um ser supremo é... Tsc.

Abraço e otimo dia

[s]s

Beatriz disse...

Compreensível. Acho que sentindo-se com vontade de fazer tais declarações, ou de se expandir em opiniões públicas tão... tão... indiscritiveis, o escritor só pode ter uma relação muito particular com o seu público. E estou, aliás, muito convencida que ele contava com a tua opinião, caro Pires.
Porém, e sem ironia... encontro uma diferença enorme no autor e no homem. Nunca li de facto António Lobo Antunes, coisa que há-de ser temporaria, mas se for um louvável escritor, não impede a larga hipótese de ele ser um grande imbecil. Da mesma maneira, com declarações ou perspectivas dessas, não me sinto inibida a apreciar a sua escrita.

Anónimo disse...

Nunca li, mas parece-me que os escritores portugueses estão-se na tinta para a escrita de massas. E ainda bem!!

Isabel Magalhães disse...

Caro PiresF;




................ vim ver se havia resposta à minha pergunta.


voltarei numa outra ocasião. :)))


fica o meu abraço.
I.

José Pires F. disse...

Meus amigos,

Ao contrário do que tenho feito por manifesta falta de tempo, alguns comentários aqui feitos carecem de uma resposta. Que me desculpem os outros a quem não respondo, simplesmente, porque nada há a responder. As opiniões são de cada um e eu respeito-as.

Teresa Durães!

É claro que uma coisa é a obra e outra, por vezes bem diferente, o autor. Acontece, que na minha opinião e porque não privo com o ALA, o que sei dele é o conhecimento adquirido nas entrevistas que leio e vejo e que não abonam em seu favor, além de que, como disse, não conseguir ler os seus livros. O máximo que consegui ler, foi para aí umas vinte páginas de um livro, outros, abandonei muito antes. Isto, não é de forma alguma, mesmo que velada, uma tentativa de menosprezar a leitura de quem gosta e o faz, aliás, eu tenho acesso aos seus livros porque a minha mulher gosta de o ler, além de e acrescento: nunca faço julgamentos pela cara dos autores, o seu comportamento no entanto, já me influencia.

Grande abraço.

.........................................................................

Isabel Magalhães!

Não me parece que tenha confundido sensualidade com erotismo, porque não pretendi entrar por aí.
Creio que a frase em questão será esta: “É mais sensual uma mulher vestida do que uma mulher despida. A sensualidade é o intervalo entre a luva e o começo da manga”.
Esta frase, por mim escolhida, só o foi porque a achei imprópria para consumo, digamos assim. Repare que a frase, para além de ser uma frase batida na parte inicial e na minha opinião um autor da dimensão de ALA, não a dever usar, termina com outra frase que, e também na minha opinião, é uma perda de tempo. Ou seja: Deu-lhe para o pulso, como lhe poderia dar para o sovaco e só com esforço dali tiramos algo, é, digamos assim, daquelas tiradas próprias de alguém que se julga mais do que é e pensa que tudo o que diz, tem porventura grande significado. Não tem. A frase, e, também na minha opinião, é uma merda (desculpe o termo) e por isso uma perda de tempo.

Grande abraço.

Nota final: É evidente, que cada leitor tem o seu gosto e não sou eu que o vou criticar, era o que mais faltava para além de incorrer no pecado da presunção, mas isso não me impede de dar a minha opinião sobre o que gosto e não gosto, assim como, aceitar válidas todas as opiniões contrárias embora estando em completo desacordo.

Mocho Falante disse...

olha já somos dois, e até tenho ca em casa um livro do dito senhor mas não tenho a minima pachorra para o ler e depois livros demasiadamente pseudointelectuais...não obrigado é o mesmo que ser um burro a olhar para um palácio, mas certamente é o meu QI que não se adequa aos livros de tal sumidade

abraços

mfc disse...

É arrogante e mal educado...mas é um magnífico escritor.

Alberto Oliveira disse...

A democracia tem destas coisas: a possibilidade de cada um ter opinião sobre. No caso vertente, as opiniões dividem-se(?!)sendo no entanto interessante que a maioria coloque em lugar de destaque a pessoa e só depois o autor. No tempo presente em que os media tentam a todo o custo ganhar audiências, seria de estranhar que ALA não fosse assediado e "conquistado" para o espectáculo da caixa mágica, sabendo-se sobretudo que o escritor é um homem de conversa corrida e diz aquilo que pensa -justiça lhe seja feita, para o melhor e para o pior, acrescento eu, que se por um lado não copia modelos de figuras públicas e responsáveis que passeiam de verbo fácil e fantasioso os males (e as curas) sociais, por outro, colhe tempestades por algumas afirmações menos felizes e fora de um contexto "políticamente correcto". O Premio Nobel & Saramago ainda é uma "pedra no sapato" de ALA...
Como autor, veio preencher ( e na minha opinião, bem) nos anos setenta, um espaço em aberto na moderna literatura portuguesa, cansada e gasta de tanta oposição ao Estado Novo.
Não privo nem conheço pessoalmente ALA; leio-o com gosto. Também não conheci pessoalmente (nem o "que lhes ia na alma" enquanto pessoas)Redol, Cardoso Pires, Abelaira e tantos outros mas a leitura das suas obras tiveram importância decisiva na minha formação...

Abraço.

Anónimo disse...

No meu caso falta coragem de LER ao menos um livro,heheheh
Este ano tenho sido uma vergonha.
Abraços!

Klatuu o embuçado disse...

Sou um admirador da sua obra... mas também lhe digo que a personalidade do homem tem ajudado a detestar o escritor e daí... à obra... a coisa alastra num instante.
Mas é um grande escritor, um dos grandes.

Abraço, amigo Pires.

Anónimo disse...

Ai... infelizmente alguns autores consagrados não me despertam a atenção da leitura justamente por suas idéias tão conflitantes com as minhas... ainda bem q não somos obrigados a ler tudo o q nos indicam não é mesmo?
Bjos pra ti e obrigada pelas palavras de carinho sempre!

Era uma vez um Girassol disse...

Ai como gostei de ler isto...
Às vezes penso que sou extraterrestre...
E o comentário do Rui Martins está o máximo!
Falta de paciência !
Bjs

Anónimo disse...

Vim dar uma espreitadela (embora sejas tu o espreitador) :)
Deixo beijinho

Outsider disse...

Bom com tanto deabate, vou ter que ler um livro do homem, para poder formar uma opinião acerca da escrita.
Um Abraço amigo Pires.

Anónimo disse...

Tenho que concordar com ele, pois tbm gosto desta terra. Quanto a serem feios, pequenos e estúpidos, acho que foi um pouco de exagero... rs.
E vou procurar seus livros. Gosto dessa esponteneidade e sinceridade ao escrever.
Bjs de cá!

Rosa Brava disse...

Depois de tantos comentários ao texto, o meu já nem tem razão de ser... mas o meu Pai, costumava dizer, quando ouvia alguém gabar-se : "presunção e água benta, cada qual toma a que quer..."

Confesso que já li Lobo Antunes...como tantos outros... uns gostei, outros nem tanto.

Um abraço e bom fim de semana ;)