Presidenciais!


As presidenciais estão aí, são já no próximo dia 22.
Tempos atrás, quando os candidatos se começaram a perfilar, publiquei algumas opiniões pessoais. Desde esse dia, tenho tecido alguns comentários aos candidatos, e na última vez que o fiz, declarei-me votante no Manuel Alegre, e assim continuo determinado a votar.
Vários foram os comentários aos posts que fui publicando; porém, pela sua qualidade, um ficou-me na memória e hoje fui procurá-lo.
Depois de o reler, e pela oportunidade agora ganha, achei pertinente trazê-lo à ribalta.
Aqui fica.


A crise de liderança no mundo contemporâneo é a crise do sistema de valores dominante. O sistema capitalista é ilógico, irracional, imoral, indefinível e inteorizável. Desde o Patriarca Abraão (o primeiro grande capitalista e esclavagista de que há memória), que tal sistema se tem revelado incapaz, sequer, de matar a fome ao mundo (só nos EUA, segundo o Salvation Army, há 15 milhões de pessoas que dependem da sopa diária da caridade) e não é preciso ir procurar famintos ao Burkina Fasso.

As palavras 'liberdade', 'democracia', 'paz', 'desenvolvimento', 'economia', têem hoje significados pervertidos, corrompidos, prostituídos. São necessárias novas palavras para as ideias primordiais que elas sustentavam. E é preciso separar essas palavras pervertidas de adjutores manhosos. É por isso que se procura fazer crer que 'capitalismo', é sinónimo de 'democracia', por exemplo. Mas, se atentarmos um pouco, mesmo sendo nós muito distraídos, podemos ver que, de facto, esses termos são antónimos.

Nós, portugueses, também vivemos uma crise 'gramatical', como, de resto, todo o mundo contemporâneo.
Mas, mais do que falta de palavras, lexicalmente puras, falta-nos a coragem de ter ideias.
Somos forçados a discutir apenas a aparência das coisas. Só os malucos (subversivos) se dispõem, ante o espanto geral, a querer ver o fundo das coisas.

Na aparência há dois candidatos perfilados à presidência da República. Um (MS) tem o perfil adequado de um monarca, uma experiência considerável da gestão do sistema e uma dimensão planetária e ninguém, nesse aspecto, se lhe pode comparar. O outro (CS) é um campónio, sem tacto político nem cultura e é praticamente desconhecido além-fronteiras.

Mas, que dizer destas alternativas, senão citar Bocage "Há-de sair! Há-de sair!"

A.S.

16 comentários:

peciscas disse...

Acho que não escolhes mal.
Mas, se passares por lá, verificas que há outro candidato, que até vai largamente à frente nas sondagens...

Anónimo disse...

na realidade este post é genial, tão bom que vale a pena ficar até ao dia das eleições....se fosse de Pacheco Pereira era um sucesso...força

José Pires F. disse...

Peciscas!

Já calculava. Mas como é óbvio, votei noutro candidato.
Um abraço.
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Guardião!

Obrigado. O mérito é inteirinho do comentário do A.S.
Um abraço.
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In-Culto!

Sejas bem-vindo. Deves vir bem bronzeado, ou não..., depende das vezes que te deixaram sair à rua.
Um abraço.

RS disse...

Ahh... Eu acho que vocês sabem que eu sei que todos sabemos (ou deveríamos saber) que Bocage estava a fazer um trocadilho com o dito gálico "Ca ira! Ça ira!" (sairá = há-de sair).
Já então se gozava com a mania das importações "à mesure" que salvarão a nossa Pátria, como salvaram a dos outros.
Excelentes pontos de vista.
Subversivamente, subscrevo.
(Subentenda-se: "Vai, Jorge!", que é como quem diz: "Por Júpiter!", em inglês).
Um abraço,
RS

José Pires F. disse...

Meu caro Rui Semblano!

Parece que temos mais alguns pontos de vista em comum. Congratulo-me por isso.
Eu que conheço bem o autor do comentário, visto ser este, um amigo pessoal de há muitos anos, e pessoa por quem tenho elevada estima e consideração intelectual, considerei, que a qualidade evidente da sua opinião, não podia, ficar perdida numa caixa de comentários.
Como o seu autor (AS) não é possuidor de nenhum blog, não pude fazer a identificação devida, que seria merecida sem dúvida alguma. No entanto, não podia deixar de a partilhar com os que me visitam, e a melhor forma era esta.
Um abraço.

Vespinha disse...

Olá!
É de facto um óptimo comentário...

Sinceramente,só peço que o dia 22 chegue rapidamente,porque de facto,isto tem sido tortuoso!

Bj da Vespinha

José Pires F. disse...

António!

Eu sei.
Leio o seu blog, e sei que é um apoiante convicto de Cavaco.
Eu como já disse voto Alegre, mas não sei se alegre vou ficar.
Um abraço.
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Vespinha!

Como te compreendo, eu já nem consigo ver mais campanhas. O tempo a que esta dura e ainda vai durar, é um teste à resistência desta democracia caduca.
Que chegue depressa o dia 22.
Um abraço.

Anónimo disse...

Abel,

Como bom amigo que és, tens sempre um gesto gentil. E só as pessoas inteligentes sabem ser gentis. E gentileza é coisa que falta hoje em dia.
Recordo que, quando o comentário foi feito, apenas havia duas candidaturas formalizadas.

Um abraço para ti e para os gentis comentadores do 'blog'.

Aníbal de Sousa

Ado, il Navigatore disse...

Eis uma verdade universal: a atual crise gramatical. Aqui no Brasil elegeu-se um governo sem plano de governo e sustentado no impossível, simplesmente pelo uso "prostituído" da palavra "democracia". Hoje vemos que de democrático nosso país não tem nada...

Rui Martins disse...

Como o Pires, tb votarei Alegre... Contra o monarquismo de Soares e Sampaio e a visão limitada de pequeno economista de Cavaco. Mas sobretudo contra a partidocracia.

Muitos farão o mesmo, desiludidos pelas promessas falhadas dos grandes partidos e sobretudo de Sócrates ("não aumentarei impostos...").

Serão assim as eleições presidenciais do Protesto... Por isso suspeito que os números de votos de Alegre serão uma surpresa para muita gente...

Vagabundo disse...

Dado que a minha "fuga" foi mais longa do que o pretendi, só agora venho agradecer a tua visita e desejar-te um 2006 chieo de alegrias.

Fica bem
Vagabundo

José Pires F. disse...

Amigo Aníbal!

Não! Não se trata de gentileza. Trata-se sim de admiração.
Independentemente da amizade, a evidente qualidade do comentário, merece sem dúvida, e por si só, ser conhecido, lido e reflectido.
Se o comentário fosse de outro leitor e não teu, é evidente que o trataria de igual modo, felizmente não é. Felizmente, porque, me dá enorme prazer contar entre os amigos, alguém, que fala do que sabe e sabe do que fala.

As reflexões inteligentes que alguns teimam, mesmo que “subversivamente” transmitir, sempre as reconheci com admiração intensa, correndo mesmo o risco de ser mal interpretado, pois em Portugal, como diz José Gil, “Se alguém exprime uma admiração desmedida ou “excessiva”, o seu entusiasmo é logo considerado suspeito. Como se aquela expressão elevasse o sujeito admirativo a um nível superior intolerável”.

Quando, afinal, a admiração dá força e induz intensidades. O que surge como diferente, não pode ser uma ameaça à igualdade, nem impedir a expressão da singularidade.
José Gil, vai ainda mais longe, quando diz, padecer Portugal de “ausência de intensidade na admiração, ou talvez mesmo, da falta de verdadeira admiração na relação com uma obra, um autor, um acontecimento”.

Ora, não posso eu, estar mais de acordo.
Termino com uma frase de Saramago, para todos os que eventualmente leiam este comentário: “Se puderes ver... Repara!”

Um grande abraço.

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Peregrino!

Percebi muito bem o teu comentário, aliás, estas são verdades que se aplicam ao mundo contemporâneo e ao sistema capitalista vigente, tal como diz o Aníbal.

Abraço.
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Rui!

Também eu já me senti tentado a votar contra a partidocracia, no entanto, e desta vez, esse não é o motivo primeiro. São mesmo os outros candidatos (MS) e (CS).
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Vagabundo!

Obrigado. Espero que agora, a vagabundagem seja feita em períodos mais curtos.

Um abraço

José Pires F. disse...

In-Culto!

A constatação que fazes, pode até, ser motivo de reflexão.
Até dia 22, tens muito tempo.
Um abraço.

Meriel disse...

Desculpa PiresF, mas vim espreitar e não resisti a comentar.
O comentário é brilhante e concordo totalmente com tudo o que o AS diz. Expôs de forma magistral a realidade dos nossos tempos. De facto parece que ninguém se apercebe que o capitalismo domina e a democracia, ideia e ideal radicalmente oposto, não existe na prática. E a descrição do MS e do CS são apuradíssimos retratos dos mesmos. Através de ti saúdo o AS e recomendo-lhe fortemente a criação de um blog.
Quanto ao teu candidato, desculpa, mas não me convence. Cheguei a considerar o MA, mas que neste momento estou decidida pelo MS.
Sabes que participei activamente na sua primeira campanha para a presidência. Lembras-te de um coro de miúdos que cantava "Bochecha mimosa pró palácio cor de rosa"? :) Mas não é a nostalgia que me move.
Foi o facto de conhecer melhor o MA que me decidiu. O poeta-caçador não me convence. Quanto mais o conheço como pessoa mais claro fica que ele é muito caçador e pouco poeta.
Comecei a praticar tiro aos pratos porque gosto de armas e gosto de tiro. Decidi passar do tiro de precisão com pressões de ar para algo com maior grau de dificuldade. Mas sou totalmente contra a caça. Não como conceito, mas sim nos moldes em que é feita hoje em dia. O meu avô caçava para alimentar a família e para poupar os cultivos dos "mimos" dos javalis. E este tipo de caça é válido e não me choca absolutamente nada. Mas caçar por desporto é federar a morte. Isso não! Um homem que sente PRAZER em matar um pequeno, pacífico e indefeso coelhinho não merece o meu voto.
Por favor não leves a mal este meu desabafo, se leres alguns dos meus textos em arquivo vais perceber que gosto muito de animais e adoro coelhinhos :)
beijos

José Pires F. disse...

Meriel!

Desculpas? Eu é que agradeço a tua visita, digo-o com toda a sinceridade.

Claro que o AS (Aníbal de Sousa, posso agora identificá-lo, porque ele comentou aí atrás e assinou), devia criar um blog, mas sei como ele é ocupado e solicitado para muita coisa. No entanto devia; é um homem inteligente e de envergadura intelectual muito acima da média.

As razões que dás para não votares no MA, são as mesmas de alguns milhares de portugueses. É verdade. Eu respeito isso, mesmo não concordando. Não, não sou caçador, tenho só uma opinião que nem sei se será muito diferente da tua, já que, também sou contra a forma como esta se pratica hoje em dia, mas isso também não interessa para agora. Interessa, do meu ponto de vista, é que o MA, rompe com o instituído, com os jogos de poder, e eu, tenho de fazer uma vénia a quem na posição dele tem a coragem de o fazer, além de que, acredito na sua palavra, quando desmente o PM, sobre a dança dos presidenciáveis, pois no PM (que teve o meu voto) deixei de acreditar há muito.

Não gostaria de falar mal de MS, até porque, se for ele a passar à segunda volta, terá o meu voto, como um voto útil, e só nesse sentido, contra CS.
Mas não posso deixar de te dizer, que tenho razões para não o apoiar. Algumas de carácter geral: É vaidoso, ambicioso, implacável, conspirador, manhoso e em suma, um gajo que podemos considerar lixado. É claro que segundo algumas correntes lhe devemos a democracia, mas isso não o torna impoluto.

Eu nunca me esquecerei, que foi ele, o causador da desagregação do movimento sindical português, esteve por trás de toda a tramóia que levou à criação da UGT.
As razões são simples e têem a ver com o seu carácter monárquico, de: quero, posso e mando, o que não era possível na Intersindical. Pois bem, nessa altura, MS, mostrou o calibre da “sua” tão apregoada democracia, dividindo-o.

Bem, creio que também já expus sucintamente as minhas razões, tal como fizeste e poderás sempre fazer, aliás, creio que aquilo que mais prazer me dá em ter um blog (para além dos contos, evidentemente, que são uma novíssima paixão) é esta possibilidade de “discutir” ideias, com pessoas que só conhecemos virtualmente, mas que encontramos disponíveis para dar a sua opinião e que vamos conhecendo pouco a pouco pelo que escrevem.

Podes contar com as minhas visitas. Não serão diárias por manifesta falta de tempo, mas sempre que este o permitir, estarei lá para te ler.

Um grande abraço.

José Pires F. disse...

E porque não, é uma ideia. Não sou é lá muito versado no assunto.
Abraço.