Conversas de Amigos

Há posts que os leitores se limitam a entrar e dizer boa-noite, outros são simplesmente informativos, e há os que proporcionam não raras vezes a discussão de ideias, por vezes até um pouco acaloradas. Esta conversa ficcionada que agora publico, foi provocada pela “discussão” que teve lugar nos comentários do post "A Candidatura Zero Ideias" do dia 21, aproveitei parte do que ali se disse, para montar esta conversa, que podia muito bem ser uma conversa de amigos.

Esclareço, que alterei partes do que se disse, pelo que este post não corresponde à troca de ideias que ali teve lugar. O post lá continua com os comentários que então foram feitos.

___________________________________________________________________________________

– Ó Ferreira, afinal não percebeste nada!
– Percebi, percebi, não percebi foi no sentido que tu querias que eu percebesse.
– Não percebeste não! O homem só fez a apresentação da candidatura, não apresentou programa nenhum pôrra, percebeste agora?
– Pois foi Aniceto. Então quer dizer, e seguindo o teu raciocínio, que as apresentações são para mandar recados para o interior dos partidos e não para apresentar ideias? Se é assim, acho uma perda de tempo, parar um país inteiro à hora do jantar.
– Perda de tempo? Perda de tempo é este teu post pá, todo ele muito fraquinho, escreves uma série de linhas mas vai-se ver... não dizes nada, nem isto, nicles.
– Ó Aniceto pá, não digas isso, eu faço o que posso, mas só sai o que sei, é como no poema do Nemésio, aquele do Pilriteiro.
– Digo, digo, e digo mais: foi uma canalhice tua teres baseado o teu post em ofensas físicas para falares mal do gajo.
– Canalha? Canalhice? O que aí vai ó Aniceto, vê lá mas é se fazes um bocado de recuo, que me estás a provocar.
– Não recuo coisa nenhuma, o que está dito, está dito.
– Sendo assim, digo-te que eu só quis demonstrar, que o homem que quer ser nosso presidente e que portanto vai ter uma imagem pública aquém e além fronteiras, não pode espumar da boca. Fica feio, é desagradável para quem vê, percebes? Estás a ver o gajo a falar com a Rainha Sofia e ela a virar a cara para o lado enojada!?
– Percebo! Mas ó Ferreira, a competência não se mede pelo excesso de saliva.
– Claro que não, mas para isso era preciso que o homem fosse competente.
– Ok. Ferreira, podes não concordar com as ideias do homem, escusavas era de ser tão brejeiro.
– Brejeiro eu!? Quais ideias? Ó Aniceto, ainda estamos a falar do mesmo homem, não estamos?
– Claro que estamos, parece que o sol te fez mal.
– Bem, Aniceto, a única ideia que ele deixou, é que não faz ideia nenhuma, tem talvez uma vaga ideia. Pelo menos foi o que percebi como resposta à pergunta do jornalista sobre a interrupção voluntária da gravidez.
– Está bem, até posso concordar que o discurso foi fraco, mas aguarda mais algum tempo para o homem apresentar o programa e depois logo falas.
– Ó Aniceto, estás-te a passar, até parece que eu tenho estado no estrangeiro e não conheço o homem. Ó pá, eu estive cá durante os dois mandatos do gajo, estava era à espera, que depois de tanto tempo a pensar, o gajo apresenta-se qualquer coisa, qualquer ideia nova, como o gajo está na mesma, fiquei desiludido.
– Lá estás tu, já que sabes tanto, porque não dás tu as ideias.
– Porque não sou candidato, essa é boa ó Aniceto. Quem se candidata é que tem de mostrar que tem ideias, para conquistar e ficar com o nosso voto.
– Tens razão, na verdade também não tens de ser tu a apresentar ideias.
– Pois.
– E o Sampaio ó Ferreira, votaste nele, achas que governou bem, achas? Eu cá não acho, porque não fazem o meu género as jogadas politicas.
– Mhhhh!... Deves estar a falar do Lopes, mas não te vou dar troco que isso não era uma conversa, eram logo duas. Olha, eu gostei do Sampaio, não com tudo o que ele fez, mas no somatório final dos dois mandatos, até acho que foi um bom presidente.
– Eu também acho que o Cavaco não é um herói salvador, não estou à espera que ele resolva tudo, pelo menos em dois tempos, mas olha: achei muito nobre, ele ter suspendido a sua filiação do partido, porque não nos devemos esquecer que o cargo de presidente devia ser apartidário.
– Pois devia, dizes bem, pois devia.
– Mas ó Ferreira, afinal, porque é que não gostas do homem?
– Porque tenho memória pá, e lembro-me que foi ele que conseguiu a efeméride de juntar as duas centrais sindicais numa greve, que foi ele, que conseguiu, que milhares de camionistas fechassem a fronteira de Vilar Formoso, que conseguiu que a classe médica estivesse em greve durante quatro dias, que foi ele, que fez aprovar a Lei de Bases que acabou com a reforma agrária, que provocou o buzinão na ponte, queria dar-nos cabo dos feriados, Já chega ou queres mais?
– Olha, vem ali a Isilda.
– Olá… então, andas por aqui a fazer tempo, ou à espera do namorado?
– Nem uma coisa, nem outra, estava ali a ouvir a conversa, porque vocês falam alto pra carago e olha que também não gosto do gajo, nem dele, nem do meu chefe, nem de me levantar cedo.
– E estás no teu direito, ou não estivéssemos numa democracia.
– Olha, eu até acho o Soares um senhor, mas não sei se será um bom presidente.
– Pois eu sei. Sei que também não será.
– Devia era haver sangue novo, estes gajos já cheiram a mofo e a naftalina.
– Eu acho que cheiram a mais, cheiram à merda que já fizeram, mas não sei... esta minha rinite alérgica ás vezes incomoda-me um bocado.
– Ó Ferreira, eu não posso obrigar ninguém a pensar como eu, mas também não admito que me queiram obrigar a mudar de opinião.
– Comigo estás descansada que estás muito bem assim, desde que não votes Cavaco.
– Nesse nem pensar! Bem, tenho de ir, até amanhã.
– Até amanhã Isilda! Vai pela esquerda, que na direita chove. Boa moça esta Isilda, não achas ó Aniceto? Olha este olha, onde vais tão apressado ó Raimundo?
– A lado nenhum, só agora é que ouvi de que tratava a vossa conversa.
– E então?
– Eu estou contigo. Mourinho para Presidente.
– É pá, isto é um ninho da esquerda, a Isilda até diz que o Soares é um senhor, só se for dos diamantes.
– Espera aí um bocadinho ó Aniceto, que já te atendo, não te vás embora. Ó Raimundo, essa coisa do Mourinho à presidência não me cheira lá muito bem, o homem sabe de futebol, lá isso sabe, é poliglota, é inteligente, dá nos cornos aos ingleses como ninguém, mas daí a presidente… Nã, o gajo é muito cagão, olha, só se fosse para presidente do nosso Sporting, com a massa que o gajo tem e com aquela carola para o futebol, estás a ver…
– Já vais?
– Melhor dizendo, já fui.
– Desculpa lá ó Aniceto, estavas a dizer o quê do Soares?
– Do Soares já disse, mas quem deve ter muito a dizer é o policia que é obrigado a estar 24 horas por dia à porta dele e nem uma cadeira tem para se sentar, já para não falar dos outros dois que ele mandou à merda. Mas não é disso que eu quero falar: eu já percebi que não gostas do Cavaco e eu não sou de todo de esquerda, mas respeito todas as ideias e acho que o debate é fundamental.
– Finalmente estamos a ficar esclarecidos
– Claro, porque eu acho que existe muita hipocrisia em torno da esquerda, para eles ideias diferentes ou são fascistas, ou são de asquerosos e perigosos capitalistas. É a assimetria deste país, admite-se com facilidade que existam partidos terroristas como o MRPP e depois as manifestações dos terroristas da Frente Nacional, são recebidas à pedrada, onde é que está a liberdade? Eu posso não gostar, mas respeito.
– Ó Aniceto, eu sou defensor do direito à opinião e do pluralismo de ideias, mas em relação ás ideologias extremistas, alto e pára o baile, que com esses não sou pôrra de democrata nenhum.
– Ok ó Ferreira, ainda havemos de acabar esta conversa, mas agora não dá para continuar porque estou com pressa. Está aí o Ricardo, fica à conversa com ele.
– Comigo? Eu acho que vocês já discutiram tudo.
– Vá lá Ricardo, não te acanhes, diz lá o que pensas.
– Então, sendo assim, cá vai: Eu acho que este governo precisa de rédeas urgentemente, está a estender-se como um polvo a todos os sectores da administração pública, altos cargos do Estado, Sector empresarial, enfim... um despotismo partidário que pouco esclarece os cidadãos e não raras vezes os confunde, merece um factor de equilíbrio, que neste momento apenas perspectivo num órgão de Estado como é o PR.
– Acho que tens razão, concordo contigo.
– Por isso acho que o Cavaco é acima de tudo um voto útil na e para a democracia e um não ao absolutismo burocrático-partidário que o PS a pouco e pouco instala no nosso país...
– Pronto, pronto Ricardo, ias tão bem e agora estragas-te tudo, lá vem outro com o Cavaco. Ó pá, eu já disse que não gosto do gajo.
– Mas porquê? Vá diz-me, que essa coisa do não gosto, não gosto e pronto, é para meninos.
– Já que insistes, e aqui que ninguém nos ouve, cá vai: Ricardo, eu tenho receio daquele homem, o Cavaco na minha opinião tem tiques Salazaristas, é um tecnocrata puro e sem ideologia, e gajos que como ele e à boa maneira portuga que dizem “a minha politica é o trabalho” e pouco dados a ter dúvidas e a enganarem-se, cheiram-me mal à distância. Depois é um homem arrogante nos modos, e ao contrário do Salazar, foi até um pouco promissor Ministro das Finanças no tempo do Sá Carneiro, lembras-te? Só foi líder do PSD en passant, revela sistematicamente não dar crédito aos partidos, que são a base da nossa democracia, quer se goste ou não, logo, não posso concordar que seja ele o nosso voto útil, mais, qualquer um que na segunda volta se perfile contra ele, esse sim, será voto útil, pelos motivos atrás invocados.
– Pôrra Ferreira, falas que te desunhas, fiquei até sem tempo para te responder. Tenho que ir ali à loja da Arlinda antes feche, noutra altura continuamos a conversa.
– Então apressa-te pá, que ela deve estar quase a fechar.
– Até amanhã.


12 comentários:

Indivíduo disse...

piresf...

Esta bem sim senhor, estou a ver que vibras-te com a discussão, tentas-te descrever os comentários num dialogo, acredita se tivesse sido um verdadeiro dialogo teria sido bem mais pujante, bem mas esta um exercicio giro, esta porreiraço...

abraço;

José Pires F. disse...

É como dizes Gentleman, um exercício. Como é evidente, concordo quando dizes que teria sido bem mais pujante se tivesse sido um verdadeiro diálogo.

Um abraço.

Cristina disse...

muito bom!!

beijinhos e boa semana:))

José Pires F. disse...

Riquita!
Obrigado e boa semana também para ti.

Cristina disse...

segui a sugestão, penso que resultou...:)))vamos ver..depois dizes-me?

beijocas e obrigada

Rui Martins disse...

Ena pá! Ganda Posto (no tamanho e na qualidade), estamos inspirados, ao que vejo... O detalhe do espumar pela boca fez-me lembrar aquele debate entre o Nixon e o Kennedy que o primeiro perdeu porque estava a suar frente às câmaras... Num mundo tão fátuo como o nosso se Cavaco num debate com Soares ou Alegre fôr filmado a babar-se todo isso há-de arrumar o candidato da Direita...

Quanto aos tiques salazaristas... Ele já mostrou que os tinha, enquanto PM e é de esperar que os mostre como PR. Felizmente o quadro legal impede-o de grandes aventuras...

Receio também a monocromia rosa... Especialmente com um PM tão "cavaquista" como este Sócrates... Mas acredito nas reais capacidades de Alegre para vencer (a verdadeira barreira que ele tem que vencer é a primeira volta). E se ganhar... Lá se vai a monocromia rosa, pq Alegre não se vai esquecer de quem lhe puxou o tapete... E se Sócrates ficar menos arrogante, o país só tem a ganhar.

José Pires F. disse...

É isso Rui. E o Alegre continua a ser uma surpresa nas sondagens.

Ainda bem que gostaste, sendo assim, creio que farei por vezes mais algumas incursões no estilo.

Ana disse...

Hehehehe! encontrei-me lá no meio :P
tá espectacular!!

José Pires F. disse...

Ainda bem que gostaste. Foi a voz do Norte, carago.

Intervencionista disse...

Hehehe...
Sim senhor... estamos com uma inspiração "Peseirista" (grande e surpreendente capacidade imaginativa).
Gostei e tens o meu total apoio para continuares com estas adaptações...

Daqui Raimundo.

José Pires F. disse...

Obrigado ó Raimundo, aquele abração.

Anónimo disse...

Excellent, love it! Article of incorporation software Cartel driveway alarm Does work for generic tenuate