Quinhentos anos depois, os bigodudos do Metro de Londres proíbem uma pintura de Lucas Cranach com medo de ofender os passageiros multiculturais que andam nas suas carruagens – essa é a notícia. Porque o fazem? Por medo. Por medo e pouca vergonha. O medo é, neste caso, vergonhoso, porque acha aceitável a reacção de gente que pode achar blasfema a pintura que Lucas Cranach compôs há quinhentos anos e que a Royal Academy exibirá a partir de 8 de Março. O medo instalou-se nas nossas ruas e nas nossas casas. Já não basta temer as ofensas que se causam, é preciso prever que alguém se ofenda e apedreje as nossas ruas e as nossas casas. Mais do que uma vergonha, é uma filha da putice. Assim mesmo.
Francisco José Viegas no Correio da Manhã.Lucas Cranach (1472-1553), pintor da reforma luterana, destacou-se no retrato e nos nus femininos de tema mitológico, evidenciando um sentido naturalista da beleza pouco relacionado com o classicismo romano.
A Batalha de Alexandre, pela sua cuidada composição, é considerada a sua obra mais importante.
A Batalha de Alexandre, pela sua cuidada composição, é considerada a sua obra mais importante.
O nu feminino proibido pela Transport For London, uma Vénus (Venus 1532.) de sorriso matreiro, que veste uma gargantilha e segura uma gaze transparente que mais não faz que realçar os seus atributos, é o quadro com que a Royal Academy pensava anunciar a próxima exposição, dedicada a este grande pintor renascentista alemão, contemporâneo de Dürer, que pintou de tudo: temas mitológicos, retratos de cortesãos, animais, paisagens, santos e demónios, sempre assinados com uma serpente alada.
27 comentários:
"Mais do que uma vergonha, é uma filha da putice. Assim mesmo."
Subscrevo. Nos tempos do politicamente correcto, cometem-se as maiores barbaridades.
P.S. - Uma pequena correcção: O "Transport for London", não é só o Metro de Londres. Inclui os autocarros, transportes fluviais e o "light rail", também. Além de licenciar os "Black Cabs".
Mais que coisa...
Com esse mundo do jeito que está, eles estão preocupado com uma pintura de 500 anos ofender alguém?
Parece que nem se passou 500 anos então ó.Ò
boa semana amigo.
[s]s
Tens razão Portocroft. A noticia referia só o Metro de Londres que, como é da Transport for London e foi esta a empresa que proibiu, decidi referi-la.
A intenção de sublinhar o local da campanha, levou a que acrescentasse o Metro, erradamente.
Rectificação feita com os meus agradecimentos.
É assim Bill, infelizmente.
A humana, mas cobarde cedência ao medo, só nos leva por caminhos ínvios.
Qualquer dia escondem a escultura de David do Miguel Ângelo, pintam a Capela Sistina e fecham os museus espalhados por todo o mundo com medo de não ofenderem...
:).
sem coment�rios.
bjj.
séc. XXI???????
Concordo, claro!
Também já falei do medo, "o medo vivo", o único dinossauro que escapou...
Como é possível?
Ah...querida liberdade!
Bjs
Mac!
Estas decisões de autocensura, nos termos em que são postas, são decisões cretinas, ridículas e absolutamente inaceitáveis, revelam um medroso encolhimento e põem em causa a cultura progressista e emancipatória da sociedade civil, a liberdade artística e a liberdade de expressão.
Claro Isabel, sei bem o que pensas… esta é só mais uma decisão de loucura inaceitável e, um acto de covardia que limita a expressão artística.
Pois é Ruela… nem parece que estamos no século XXI. O diálogo entre culturas não pode ter êxito quando se tem medo da crítica e da controvérsia da liberdade artística, a liberdade de expressão não deve em caso algum limitar-se pelo medo.
Girassol!
Isto é só mais uma prova, infelizmente concreta, dos efeitos da chantagem e terror do fundamentalismo islâmico, que põe em causa a liberdade tolerante de criação e expressão do ocidente, em nome do respeito por aqueles que nunca respeitam ninguém.
Inquisitorial! Toda a nudez passou a perversidade, todo o afecto a sexo, toda a palavra a silêncio consentido.
Abraço.
Espreitador
O medo instalou-se no nosso dia a dia porque a intolerância gera violência.Se cedermos aos intolerantes estamos a contribuir para o aumento do medo.
Abraço
Inquisitorial! Toda a nudez passou a perversidade, todo o afecto a sexo, toda a palavra a silêncio consentido. K. disse:
_____________
e eu passo para "celebrar" este inteligente comentário.
que "casa" bem aqui.
________________boa noite.
a ambos.
Silêncio Culpado!
Interessante seria sabermos, o que é que tais homens pensam sobre aquela “performance” que, na sua singeleza feminina, deixa mais matéria de reflexão e comentários do que a maior parte dos sermões.
Klatuu e por osmose Isabel.
Humanos inteligentes dizem com frequência coisas inteligentes. É o caso. O Klatuu, descreve em pouquíssimas palavras o estado em que nos encontramos, um estado de novas ordens, novas éticas ou não-éticas, fruto de elementos que destacam posturas e mesmo poses que já nada têm a ver com o “naturalismo” e, neste caso particular, pretendem que a arte e o nu deixem de estar em conformidade. Mas a arte é transcendental ao real e, por isso mesmo, também um outro meio de abordar a realidade. A nudez na arte, enquanto acto e enquanto atitude de espírito aberto e pressuposto ao fim duma caminhada, está sempre para lá de todo e qualquer sentimento egoísta ou ético da sua utilização.
O mal nunca está na arte, mas sim no pensamento daquele que a observa.
Como cantava o Sérgio Godinho: E assim com medo de tudo/Perdeu meu irmão a vida/E assim com medo de tudo/Viveu-a e não foi vivida
O politicamente correcto tolda-lhes o discernimento. Isso sim, é que assusta.
Paula!
Este “Eh! Meu Irmão” de que aqui deixas alguns versos, fala-nos do medo de ter medo, doença tão antiga como a humanidade e de que padece o mundo dos cobardes, termo importado do francês couard, ou traduzido à letra, cauda caída que é sinónimo de rato. Daí o dito popular: “És um homem, ou um rato?”.
O politicamente correcto, é evidentemente parte importante do problema. Li esta semana, que existe em Londres desde 2003, uma Associação contra o politicamente correcto (www.capc.co.uk - confesso que ainda não tive oportunidade de visitar o sítio), que conta já com 10.000 associados e vários livros publicados. Esta Associação, contesta um sem número de coisas no principio de que, o que está subjacente ao politicamente correcto é um ataque à liberdade das pessoas, porque o que toda a gente quer é uma sociedade decente, coesa e tolerante, sendo o politicamente correcto completamente contra esse objectivo.
Sabemos bem de onde vem esse medo e quem não se quer ofender... Mas esses que não queremos ofender, ofendem-se se formos para os seus países fazer coisas consideradas ofensivas...
É o diabo!
erro.seu.:)
eu é que agradeço.
(a leitura adentro).
beijo.
Inaceitável, vindo de um país como a Inglaterra.
Mas, de facto, o medo do politicamente incorrecto já fede!
Nos States, é impossível colocar-se um cartaz alusivo ao Natal com medo de ofender uns aqui e outros acolá.
Acho que a paranóia dos desenhos alusivos ao Maomé está a fazer escola em países que condenaram os árabes por estes se terem ofendido.
Em resumo: anda tudo doido.
Um abraço.
Jorge G.
odo MNAA é, para mim o mais bonito Cranach...
e talvez um de Toulouse.
Vi a expos. de Madrid e ADOREI...
Esses ingleses são loucos, inventam a mini-saia e agora resolvem pela volta dos tempos vitorianos.
Muito barulho por nada, por sinal as medidas da vênus em questão até se assemelham àquelas das atuais top-models.
Abraços!
O medo é um NADA que invade TUDO !
Tristes tempos ...
(tremenda hipocrisia. assustadora ignorância ... )
Mas sejamos optimistas !
ARTE, 500 anos depois no centro da polémica ! A arte renascida ... inquietante ... VIVA !
iv*
Concluindo, direi que, na verdade a arte pode ser religiosa, ou antes, é-o, pois que é sempre desejo de re-ligação, mas jamais poderá estar à disposição de uma religião ou de uma ideologia e muito menos ao dispor de ideologias repressivas, porque tem como forma a aliança, por isso nela o tempo não é linear, mas sim cíclico. E por isso ela também é religião. Mas uma religião que não conhece quaisquer géneros de dogmatismos porque pretende ser a expressão da liberdade, o característico do homem.
Abraço a todos e um grande obrigado pelos vossos comentários.
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