A dona Idalina e o senhor Fausto*, meus vizinhos, que votam no mesmo partido desde que podem, e porque sim, porque sempre votaram e não é agora que vão mudar, são pessoas de brandos costumes para quem só o presente pontual existe. Para eles, tudo o que é diferente é uma ameaça e em política o conteúdo da sua opinião é a do partido.
Esta leviandade conformista onde a falta de originalidade há muito assentou arraiais é perigosa, e, pela constatação do facto, seria licito considerar um erro que, em questões demasiado complexas, os meus vizinhos (com o devido respeito pelos seus cabelos brancos e sem querer ser insultuoso) que não sabem o nome dos 27 países da união europeia nem tão pouco que são 27, tenham uma palavra decisória em questões onde, a complexidade técnica de certas decisões aponta no caminho da democracia representativa em sua substituição, mas não considero.
A mourama dos partidos dominantes com intenção de não referendar já se perfila, enquanto do outro lado, se desfralda o referendo como bandeira da democracia, estes são os mesmos que não foram chamados a pronunciar-se sobre a livre circulação de pessoas e bens, sobre um governo, um parlamento e uma moeda comuns e, para estes, da mesma forma que a Constituição Europeia era um alvo a abater, o Tratado de Lisboa segue o mesmo caminho com todas as suas 250 páginas negociadas sem referendos.
Confesso relutância em ser favorável ao referendo do tratado de Lisboa porque, devia ser neste caso como em outros de igual complexidade, a favor do funcionamento da democracia representativa por duas razões principais: Quantos portugueses estarão preparados para referendar o tratado? Talvez mil a mil e quinhentos saibam o que está realmente em causa e com razoável honestidade o possa fazer, já com conhecimento de todo o processo e portanto em condições de promover o debate de cidadania, o número não deve ser superior a uma ou duas centenas, logo, qualquer debate sobre questão tão complexa é, em primeiro lugar um absurdo, por se transformar rapidamente numa luta fulanizada e numa grande e pública confusão (para se discutir o tratado, tem de se discutir a Europa), depois, chamar o povo para uma prova de vinhos às cegas é, salvo melhor e fundamentada opinião, antidemocrático. O povo deve ser chamado para aquilo que minimamente entende, para questões de elevada complexidade técnica, existem as incumbências legislativas de exercício de mandato que os deputado têm e dos quais se deve esperar um razoável entendimento do que está em jogo.
Mas gaita… por mais paradoxal que possa parecer depois do que atrás escrevi, este assunto consegue espremer-me algumas considerações mesmo não querendo contribuir com material para a divina comédia nacional, nem sabendo expressar-me melhor e mais curto, é que, estou inconformado com esta coisa estranha e de singular arrojo, de trocarmos decisões por unanimidade onde, os votos dos portugueses eleitos conta mesmo não tendo primos encorpados para o debate de alternativas e esforço de consenso, por votações de maioria qualificada de um Conselho de engenharia política que não é eleito pelo voto do povo, e que, na prática, esta alteração prenhe de imoralidade de procedimentos (países pequenos nem sempre terão comissários) minará os alicerces da convivência política e partirá o clube dos 27 em dois, o dos países ganhadores e o dos países perdedores que, barrados, terão de dar satisfações aos seus eleitores, e mais, mesmo sem estilo o digo; estou convicto que, na primeira decisão que for tomada contra e ao arrepio dos verdadeiros artistas na manipulação da lógica (Reino Unido, França e Alemanha), estes não a aceitarão e vários cenários se poderão então concretizar (escusam de acenar com condutas antidesportivas, porque aqui não se devolve a bola ao adversário nem se fazem chás dançantes), bico-de-obra que só se resolverá no dia em que as eleições nacionais forem substituídas por eleições europeias, até lá, quero que Portugal continue a ter a possibilidade de o seu voto contar para alguma coisa que, não faça deste país, um mero, pequeno e insignificante número, governado por Sir Humphreys.
Chegados aqui sem que eu tenha adjectivado a meia dúzia de palavrões que me acompanhou na escrita do post, perguntarão; onde é que o futebol entra nisto tudo? Não entra, mas embora alguns teimem em dizer e provavelmente acreditar que o futebol é um desporto alienante, talvez até profano quando um quinto dos portugueses vive com menos de 360 euros por mês, eu não concordo. Nestas condições, o futebol é antes de mais um antidepressivo.
Viva o futebol!
Esta leviandade conformista onde a falta de originalidade há muito assentou arraiais é perigosa, e, pela constatação do facto, seria licito considerar um erro que, em questões demasiado complexas, os meus vizinhos (com o devido respeito pelos seus cabelos brancos e sem querer ser insultuoso) que não sabem o nome dos 27 países da união europeia nem tão pouco que são 27, tenham uma palavra decisória em questões onde, a complexidade técnica de certas decisões aponta no caminho da democracia representativa em sua substituição, mas não considero.
A mourama dos partidos dominantes com intenção de não referendar já se perfila, enquanto do outro lado, se desfralda o referendo como bandeira da democracia, estes são os mesmos que não foram chamados a pronunciar-se sobre a livre circulação de pessoas e bens, sobre um governo, um parlamento e uma moeda comuns e, para estes, da mesma forma que a Constituição Europeia era um alvo a abater, o Tratado de Lisboa segue o mesmo caminho com todas as suas 250 páginas negociadas sem referendos.
Confesso relutância em ser favorável ao referendo do tratado de Lisboa porque, devia ser neste caso como em outros de igual complexidade, a favor do funcionamento da democracia representativa por duas razões principais: Quantos portugueses estarão preparados para referendar o tratado? Talvez mil a mil e quinhentos saibam o que está realmente em causa e com razoável honestidade o possa fazer, já com conhecimento de todo o processo e portanto em condições de promover o debate de cidadania, o número não deve ser superior a uma ou duas centenas, logo, qualquer debate sobre questão tão complexa é, em primeiro lugar um absurdo, por se transformar rapidamente numa luta fulanizada e numa grande e pública confusão (para se discutir o tratado, tem de se discutir a Europa), depois, chamar o povo para uma prova de vinhos às cegas é, salvo melhor e fundamentada opinião, antidemocrático. O povo deve ser chamado para aquilo que minimamente entende, para questões de elevada complexidade técnica, existem as incumbências legislativas de exercício de mandato que os deputado têm e dos quais se deve esperar um razoável entendimento do que está em jogo.
Mas gaita… por mais paradoxal que possa parecer depois do que atrás escrevi, este assunto consegue espremer-me algumas considerações mesmo não querendo contribuir com material para a divina comédia nacional, nem sabendo expressar-me melhor e mais curto, é que, estou inconformado com esta coisa estranha e de singular arrojo, de trocarmos decisões por unanimidade onde, os votos dos portugueses eleitos conta mesmo não tendo primos encorpados para o debate de alternativas e esforço de consenso, por votações de maioria qualificada de um Conselho de engenharia política que não é eleito pelo voto do povo, e que, na prática, esta alteração prenhe de imoralidade de procedimentos (países pequenos nem sempre terão comissários) minará os alicerces da convivência política e partirá o clube dos 27 em dois, o dos países ganhadores e o dos países perdedores que, barrados, terão de dar satisfações aos seus eleitores, e mais, mesmo sem estilo o digo; estou convicto que, na primeira decisão que for tomada contra e ao arrepio dos verdadeiros artistas na manipulação da lógica (Reino Unido, França e Alemanha), estes não a aceitarão e vários cenários se poderão então concretizar (escusam de acenar com condutas antidesportivas, porque aqui não se devolve a bola ao adversário nem se fazem chás dançantes), bico-de-obra que só se resolverá no dia em que as eleições nacionais forem substituídas por eleições europeias, até lá, quero que Portugal continue a ter a possibilidade de o seu voto contar para alguma coisa que, não faça deste país, um mero, pequeno e insignificante número, governado por Sir Humphreys.
Chegados aqui sem que eu tenha adjectivado a meia dúzia de palavrões que me acompanhou na escrita do post, perguntarão; onde é que o futebol entra nisto tudo? Não entra, mas embora alguns teimem em dizer e provavelmente acreditar que o futebol é um desporto alienante, talvez até profano quando um quinto dos portugueses vive com menos de 360 euros por mês, eu não concordo. Nestas condições, o futebol é antes de mais um antidepressivo.
Viva o futebol!
* Nomes fictícios.
10 comentários:
E PARA COLMATAR OS EUROS QUE TANTA FALTA FAZ A QUEM MUITO FALTA, NADA COMO O FUTEBOL.
concordo. não conheço melhor prozac ...
...
:) e depois referendo? sobre quê? então todos sabem sobre o tratado de lisboa?
eita povo bem informado...:) e eu que não sabia..
________________
Abraço.
é assim mesmo que se dá a volta ao texto e se faz um post com medida conta e peso....(a ordem está invertida)...mas o texto não!
_____________________
imf.
Sir Humphreys... Esse era um verdadeiro tratado politico.
Abraço!
Falo sobre este mesmo tema no meu blog: para quê 1 referendo quando os níveis de abstenção aquando das eleições europeias é acima dos 60%? Ou seja, quando é para participar sobre os assuntos europeus, os portugueses não participam, e um referendo não seria muito diferente. Seria 1 desperdício de tempo e dinheiro.
Justificar-se-ia 1 referendo aquando da nossa entrada na CEE ou aquando do Tratado de Maastricht. Afinal as decisões não são tomadas pelo povo. 1 série de comissários toma essas mesmas decisões, enem sempre no melhor interessedo país.
É ver os dossiês das pescas e da agricultura...Qual foi o benefício?
Dizem que a União Europeia é o maior bloco económico do Mundo. Não é isso que vejo...vejo 1 continente à deriva, com inúmeras potencialidades, mas sempre debaixo da pata dos EUA (e mais di menos dia da China). Qual a vantagem então de ser europeu?
Mas será que devemos deixar nas mãos de outros o nosso destino?
Por vezes também me tento, mas só em momentos, felizmente curtos, de pouca lucidez.
Agostinho dizia que éramos europeus por acidente porque a nossa alma era atlântica. Mas hoje, é com isso que temos de viver.
Grande abraço.
PiresF
voltei...não gosto do futebol. mas gosto muito desse espaço.
cordda
Quando o futebol se veste de verde Leão e arrebata o estádio é festa ! É emoção.
Mas o poema de Hilda Hilst que tão delicadamente ficou pousado no "Piano" é sublime. Sublime ...
Já o copiei para as páginas do caderno.
Abraço
eu não conhecia....
Belíssimo.
rendida. mt e mt obrigada.
tb há de aparecer no Piano, frontalmente.
beijo.
Olá, se puderes passa na casca e assina a petição.
Divulga.
Obrigada.
Beijo encaracolado.
Parece-me que é colocar tudo no mesmo saco...
Como por aqui alguns dizem, juntar tudo no mesmo barco e torcer para não afundar...
Pensamento de Agostinho que deixou no comentário é magnífico.
E vamos ao futebol... Afinal, alguma alegria temos que ter.
[s]s
e bom fim de semana....
com e sem futebol...
e um abraço.
y.
:)
Enviar um comentário