Na zona dos chapéus de sol, enquanto sem razão e sentido, a música ambiente, por entre o vozear dos crescidos e os gritos das crianças se fazia ouvir, mastigava eu uma munique da Pans que súbita fome tinha requisitado.
Reparei então que, numa das mesas e com inexplicável tranquilidade, um casal absorvia os ensinamentos de uns livrecos técnicos, não sendo minimamente afectados com a psicose grupal daquela seitinha de adolescentes numa das mesas próximas. Numa outra, com expressão apreensiva liam-se os jornais, enquanto, por detrás, um casal de namorados desafiando uma inexistente timidez, incorria em pecado socialmente intolerável das duas que já tinham sido novas e os olhavam com ar policial e tribunalício e, mais afastada, na zona que não tinha direito a chapéus de sol e onde a intensidade dos raios solares era idêntica, uma mulher, conectada, imperturbável com o obsessivo choro dos gémeos e a audível autoridade da mãe em reparos de matéria de divergência social, aparentemente trabalhava no seu Toshiba.
Embora não estivéssemos ameaçados pelos cabos de alta tensão da REN, ou pelo Al-Zawahiri que faz os franceses retirar da Argélia, e o perigo imediato pudesse vir de uma tenda próxima onde decorriam eliminatórias de um campeonato nacional de Sudoku, fugimos deste quadro psicótico, desconexo e do domínio do imaginário que, só não é estranho, deslocado da expectativa e acompanhando de grandes doses de incompreensão, porque acontece num Centro Comercial, onde a obstinação, vencendo a percepção da realidade, me levou nesta tarde de domingo.
Azar o meu, eu sei.
Reparei então que, numa das mesas e com inexplicável tranquilidade, um casal absorvia os ensinamentos de uns livrecos técnicos, não sendo minimamente afectados com a psicose grupal daquela seitinha de adolescentes numa das mesas próximas. Numa outra, com expressão apreensiva liam-se os jornais, enquanto, por detrás, um casal de namorados desafiando uma inexistente timidez, incorria em pecado socialmente intolerável das duas que já tinham sido novas e os olhavam com ar policial e tribunalício e, mais afastada, na zona que não tinha direito a chapéus de sol e onde a intensidade dos raios solares era idêntica, uma mulher, conectada, imperturbável com o obsessivo choro dos gémeos e a audível autoridade da mãe em reparos de matéria de divergência social, aparentemente trabalhava no seu Toshiba.
Embora não estivéssemos ameaçados pelos cabos de alta tensão da REN, ou pelo Al-Zawahiri que faz os franceses retirar da Argélia, e o perigo imediato pudesse vir de uma tenda próxima onde decorriam eliminatórias de um campeonato nacional de Sudoku, fugimos deste quadro psicótico, desconexo e do domínio do imaginário que, só não é estranho, deslocado da expectativa e acompanhando de grandes doses de incompreensão, porque acontece num Centro Comercial, onde a obstinação, vencendo a percepção da realidade, me levou nesta tarde de domingo.
Azar o meu, eu sei.
12 comentários:
....e sorte a nossa (dos seus leitores) que assim se "passeiam" por este imaginário de centro comercial...:)
___________________
psicótico quadro. mas dos nossos dias...
__________________.
in.ssossegados.
beijo.
Concordo plenamente com a Isa (=
Muita, mais muita sorte nossa que passamos por aqui, assim saboreamos suas palavras, escritas da forma que só tu sabe né.
Estas cada dia mais matreiro amigo (=
E eu viajei e cada detalhe, fascinante.
Abraços e ótima semana.
[s]s
ps: obrigado pela nota no FP, não tinha me atentado aos erros, agradeço, muito.
Centro Comercial ao Domingo? É mesmo para deixar os nervos em franja...
não...não vale mesmo a pena...:) sério. sou eu às voltas e reviravoltas com uma coisa que me pediram à mt e que a preguiça me adia...:)
hoje deu-me "práKilo"...tentar uma eventual "ordem"...
mas não perca tempo...Beijos. beijos.
:)
Azar pois e sorte minha por ter lido.(tenho andado tão arredia das lides dos blogs...) :)Mas centros comercias só frequento por obrigação e... olha lá.
(Já agora Pires F e os contos, os outros, os da rua?).
Bj
Fujo deles.
Prefiro o silêncio e a qualidade de uma leitura como esta. :). O retrato de uma sociedade em declínio. Nem dgo de qu~e. Adivinha-se.
beijinho
venço a percepção. da realidade.
______________________
abraço.
Olá Pires
_________Centros Comercias____ao domingo!!! nem mesmo no imaginário:))
Gostei do texto:))
Beijinhos com carinho
Uma reunião de blogers teria sido mais interessante pires :)
Domingo? Centro Comercial????
Só pode ser coisa...de quem se passou dos carretos mesmo!!!!
Meu amigo Pires, adoro a tua escrita, sempre bem humorada e contundente!
Regressei de férias(curtas), com vontade de me pôr a cavar outravez...
Não sei, mas estou seriamente a pensar sair desta nau apenas com 75% do vencimento durante 5 anos e depois...reforma!
Chega...já não aguento mais esta era socratina!
Bjs
Um quadro surrealista da nossa realidade, tão adorada por uns, tão destesta por outros. Talvez uma minoria, mas uma boa minoria.
Abraço!
Errata: detestada em vez de detesta.
PS: a minoria dos que detestam,claro!
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