Interrupção voluntária da gravidez.

A pergunta é esta:

Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?

E a minha resposta é obviamente Sim!

O debate faz-se já há algum tempo na blogosfera, assim como, nos meios de comunicação tradicionais. Uns são pelo Não e outros são pelo Sim e, até aqui, tudo bem, a argumentação dialéctica com conteúdo de opinião sendo a favor ou discordante sempre foi por mim dignificada. O mesmo já não acontece quando, intencionalmente, se deturpam factos científicos com intenção de esgrimir, com base da manipulação linguística, argumentos panfletários.

Assim, não tendo eu qualquer resíduo de dúvida, em escolher entre um embrião de 10 semanas e a hipótese real da vida de um ser humano de pleno direito, afirmo, que a actividade cerebral só se manifesta a partir dos 120 dias, aquilo que o córtex emite às 10 semanas é a actividade eléctrica que qualquer planta emite e nunca ondas cerebrais que representem de alguma forma consciência.

Esta afirmação, é alicerçada nos livros de referência da especialidade como o “Electroencephalography: Basic Principles, Clinical Applications, and Related Fields”, segundo o qual, também, e passo a citar:

«An EEG involves measuring varying electrical potential across a dipole, or separated charges. To get scalp or surface potentials from the cortex requires three things: neurons, dendrites, and axons, with synapses between them. Since these requirements are not present in the human cortex before 19-24 weeks of gestation, it is not possible to record "brain waves" prior to 19-24 weeks.»

Posto isto meramente a título de esclarecimento e, já tendo este país, novelas, concursos e palhaçadas a mais, eu que sou católico, ainda espero a entrada da igreja nesta contenda, sabendo com os exemplos do passado recente, ir esta servir-se da falta de domínio da narrativa filosófica ou teológica que a maioria tem, para nos colocar em contradição e, por isso, o mínimo que se pede, é que refinem a discussão no campo da competência e do conhecimento.

Nestes tempos moralmente dissolutos, em que todos os meios são lícitos para atingir um fim passando mesmo pelos grandes exercícios de virtude, era bom que imperasse a sensatez. A vitória do Não, não acabará com o aborto, porque estes continuarão a ser feitos independentemente de qualquer lei, mas contribuirá decisiva e dramaticamente para esterilizar e matar muitas mulheres.

22 comentários:

Anónimo disse...

Como todo caso que causa uma controvérsia e é por si só complicado de se lidar, sempre temos uma perda de razão.
Alguns se julgam no direito de defender o que ao certo sabem, claro, direito de escolha é o que rege a conduta.
Mas daí a deturpar informações para embaralhar a já complicada situação é realmente lamentável, deviam sim estar lendo, estudando, para orientar e não iludir os que ainda estão por decidir.
É um caso melindroso meu amigo, mas simples quando diz “em escolher entre um embrião de 10 semanas e a hipótese real da vida de um ser humano de pleno direito” já se faz entender.
Já li em vários blogs motivos e razões, de tudo um pouco, mas compreendo que continuar como está é pior, assim sendo “Sim”, melhor que se faça aos olhos de todos do que pelos becos da vida.


Abraço amigo e bom fim de semana

[s]s

Anónimo disse...

direito das mulheres, indiscutivelmente. alio.me à causa.

espreitas muito bem.


cordda

Rui Martins disse...

bem, eu não sou cristão, e logo, não tenho que me debater com os ditames que me vêm do topo da cadeia de comando ratzingeriana...

mas nesta questão do Aborto existe uma questão que importa muito mais do que os ditames de qualquer hierarquia religiosa, e é a questão do Sofrimento:

o feto abortado está já num patamar de consciência de si que lhe permita "processar" a Dor e o Sofrimento? Todos os estudos concordam em que não... Sendo assim, não havendo Dôr nem sofrimento, mas podendo haver estas em potência se se tratar de uma criança não desejada ou nascida numa família ou de alguém que não o pode sustentar, parece-me que esse sofrimento de não ter sido desejado é maior e deve prevalecer sobre o não-sofrimento do momento do Aborto.

Pensando o tema assim chegou à conclsusão de que a melhor resposta ética será:

Sim.

Anónimo disse...

Faço minhas todas as tuas palavras, Pires e também como tu, sou a favor do sim. Pela dignidade da vida humana.
Obrigada pela temática escolhida e pelas palavras sempre tão bem escolhidas e fundamentadas.
Grande abraço

Kaotica disse...

Ninguém faz um aborto por gosto. É sempre certamente o último recurso e envolve sempre um certo sentimento de culpa, a nível psicológico, e de risco para a saúde. Além disso, esta situação de clandestinidade é hipócrita porque muitos médicos a trabalhar em hospitais colaboram com as parteiras suas comparsas e quiçá parceiras das noites de casino, pois todos lucram com a situação e não é pouco! No entanto, a nossa sociedade é tão preconceituosa e as aparências estão outra vez tão em voga que é minha convicção que, mesmo depois da legalização, continuarão a existir paralelamente sítios clandestinos onde se continuará a abortar em segredo. Claro que sou a favor do desmantelamento desse submundo que tem sido muito penoso a muitas mulheres. Sou desprovida de moral cristã, graças a Deus, e acredito que se sofre pior vivo e não desejado do que inexistente. Acho que há hoje muitas formas de evitar ter que se fazer um aborto. Mas, como último recurso, sou absolutamente pelo sim!

ROADRUNNER disse...

Gostei principalmente do último parágrafo...
Saudações!

Maite disse...

Caro PiresF

Como não quero estragar-lhe o post e o consenso que vejo nos comentários...

Fico-me apenas pelos desejos de um excelente fim de semana para si :)

Era uma vez um Girassol disse...

Como mulher, dona do meu corpo, respondo sim.
Parabéns pela Rua dos Contos!!!!
Quanto aos outros blogues, irei espreitar os que não conheço, porque prezo a tua apreciação e juízo, Pires!
Bjs

Outsider disse...

Caro Pires, subscrevo completamente o que disseste neste excelente post. Apesar de teoricamente ser contra o aborto, não posso deixar de votar sim, porque sou totalmente a favor da escolha, para todas as mulheres e não só para as que têm posses para ir a Espanha. A ver se acabam os talhantes que mutilam mulheres em vãos de escada.
Um Abraço.

mfc disse...

Aplaudo de pé!

PortoCroft disse...

Caro Pires,

Bastaria o último parágrafo do seu texto, para justificar o voto no ¨Sim¨.

Abraço e votos de um bom fim de semana.

Anónimo disse...

sim!

Teresa Durães disse...

bom, eu sou pelo sim de certeza. 10 semanas é um embrião.

boa noite

MRA disse...

E que outra escolha poderia haver...
Sim, por tudo isso e principalmente pelo fim das lágrimas em vãos de escada...

Anónimo disse...

Bom dia....
Sim...
Boa semana...
Bjs....

Anónimo disse...

Olá Pires, depois de um bom tempo afastado da blogosfera por total falta de tempo eu estou voltando. Eu sou a favor sim, a vida é feita de escolhas e a futura mãe tem o direito de escolher. Abraço.

Era uma vez um Girassol disse...

Pires, meu amigo, não podes deixar de ir ao girassol beber um champanhe...
Bjs

Jorge P. Guedes disse...

Um claro e consciente sim!

Jorge G -O Sino da Aldeia

GPC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Como posso dizer sim, se não sei distinguir entre "escolher entre um embrião (SER HUMANO) de 10 semanas e a hipótese real da vida de um ser humano de pleno direito"

Estar a dizer que todas as mulheres que abortam morrem, é errado. Falso. Aconteceu uma, que foi demais, e agora...

Mas dizer que todos os abortos causam morte, com ou sem dor, é verdade.
Mesmo que não se queira admitir por preconceitos
Todos os abortos causam. SÃO CRIANÇAS.
Isto, para quem é pela dignidade Humana.

Para quem é pelo sim:
Legalizar o aborto não quer dizer que os números baixem, apesar do que alguns médicos privados e feministas conselheiras fazem crer. Pelo contrário, vai subir como qualquer capitalista sabe.

Num pais que tudo vai sendo capitalizado e privado, os casos legais de abortos irão aumentar como numa boa economia de mercado, para que a procura do produto suba rapidamente, neste caso a IVG ou Aborto.
Se for a procura for diminuta como é, não dá lucro.
Mesmo que seja feito e legal.

José Pires F. disse...

Caro/a Vai ter aonde,

Agradecia que me lesse lendo, porque algumas das coisas que resolveu entender como ilação da sua má leitura, não estão no meu post.

Digo eu por acaso em algum lado, considerando incluso para discussão o café ao pé de casa; que todas as mulheres que abortam, morrem?
E já agora que estou com a mão na massa; se não sabe distinguir entre um embrião de 10 semanas e a HIPÓTESE REAL de vida de um ser humano, leia mais umas coisas a ver se aprende, começando claro, por reler este post que, até lhe pode ensinar umas coisas.

E, à laia de despedida lhe direi, que essa história das feministas está muito batida, aliás, é a coisas dessas que eu chamo de argumentos panfletários desonestos.

Um bom Nata para si.

Anónimo disse...

Ficamos revoltadas pelo facto do Sim ganhar neste referendo, pois abortar é matar uma criaça. A maior parte dos portugueses votaram Sim, mas com 10 semanas a criança já tem cabeça, mãos,etc