Equívocos!


Aquele era um bar diferente, apreciou com agrado as ânforas espalhadas pelos cantos, reparou nos quadros que decoravam as paredes, verificando, que estes emolduravam folhas com profecias, revelações e até conselhos. Olhou para Isabel, sua companheira de há cinco anos, e viu nos seus olhos imediata aprovação pela escolha. Mentalmente, agradeceu à Clara sua colega, a informação. Tinha recorrido a ela, solicitando-lhe um sítio engraçado para levar Isabel. Tinham perdido o hábito de sair e porque as suas vidas atravessavam uma fase difícil, sentiu necessidade de um ambiente diferente para desanuviar da tensão, que teimava à demasiado tempo permanecer entre os dois.

Junto ao balcão, ajudou Isabel a subir para um tripó forrado a couro negro e acomodou-se noutro a seu lado, com os olhos, procurou o empregado para pedir as bebidas, e deu de chapa com uns olhos negros que o fitavam. Reparou que era uma mulher belíssima que não soube precisar a idade, andaria entre os trinta e os quarenta. Influenciado pelo ambiente da decoração, o olhar penetrante da mulher lembrava-lhe as pitonisas que costumavam ler oráculos, ela sentava-se no topo direito do balcão, os cabelos tão negros como os olhos davam-lhe um ar misterioso e ao mesmo tempo belo, e ele, enquanto tentava captar a atenção do empregado, reparou que esta continuava a olhá-lo.
Sentiu-se um pouco incomodado, e o receio que Isabel percebesse surgiu, ele não conseguia desviar os olhos daquela mulher.

Isto tinha logo de lhe acontecer quando estava com a Isabel, já era azar. O olhar da mulher não se desviava e pareceu-lhe vê-la sorrir. Nessa altura, ficou definitivamente incomodado pela presença da Isabel, e a situação piorou quando a viu pedir uma caneta com que escreveu num cartão. Olhando na sua direcção, entregou-o ao empregado enquanto lhe segredava qualquer coisa. Era para si pensou, e em pânico tentou manter a postura, e esperar para ver como o empregado lho entregaria sem que Isabel percebesse. Reparou que o copo de Isabel estava praticamente vazio, despejou o seu num gole rápido com o objectivo de renovar as bebidas e proporcionar ao empregado a entrega disfarçada do cartão, assim fez, e seguindo os movimentos daquele, reparou que colocava o cartão, de forma habilidosa por baixo de um dos copos, viu-o aproximar-se e enganar-se, tinha posto o do cartão à frente da Isabel, olhou instintivamente para o topo do balcão, e viu que a pitonisa dos olhos negros lhe sorria, não devia ter reparado que o empregado tinha trocado os copos e que agora o cartão estava bem debaixo do copo da Isabel.

Por uns momentos sentiu-se perdido, até que, Isabel lhe disse: Querido, vou à casa de banho. Ficou aliviado, estava ali o momento oportuno para retirar o cartão e quem sabe combinar alguma coisa. Enquanto seguia com o olhar Isabel que se afastava, viu que aquela mulher belíssima de olhos negros se levantava, aproveitando a oportunidade para se acercar dele, mas, contrariado reparou que não o fez, em vez disso, sorriu-lhe, e seguiu na mesma direcção da Isabel.
Aproveitando o momento, retirou o cartão de debaixo do copo e leu-o, acto contínuo, sentiu uma tontura, leu novamente sem acreditar no que lia, o cartão, em duas linhas dizia:
Quero-te agora. Casa de banho.

20 comentários:

Nina disse...

Hahaha!!! Muito bom!!
Aí já é sábado?? Já é meu niver, êêêê!!
Olha lá no meu blog o presente que eu ganhei!!
Abraços!!

Meia Lua disse...

Só podia ser... quando reparei que davas muita importância ao personagem masculino, e à espera da tua surpresa... o final só podia ser este!!! Lindo!!!

Rui Martins disse...

Não há nada como um bom desfecho imprevisível...

Anónimo disse...

Piresf,

Se um dia publicares um livro...seguramente já tens um leitor.
Bom fim de semana

Abraço
Parrot

Ado, il Navigatore disse...

Ótimo! Com um final desses, não tem erro! Parabéns!

Anónimo disse...

Grande Isabel!
Beijinho

Intervencionista disse...

Muito bom uma vez mais. Essa imaginação transborda de ideias.

TheOldMan disse...

Deve-se evitar pedir conselhos a mulheres sobre locais onde levar outras que não elas, Piresf.

Bem explicado

;-)

José Pires F. disse...

Nina!

Já lá fui, vi o presente do Bill e comentei.
Obrigado sobre a tua opinião do conto.
Um abraço.
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Meia Lua!

Espero que o desfecho, não tenha sido evidente demais.
Tentei que não fosse, mas se foi, revela a dificuldade que ainda tenho.
Bem, o castigo é escrever até aprender.
Um abraço.
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Rui!

Será que foi mesmo imprevisível?
Segundo a opinião anterior, parece que não terá sido muito.
Um abraço.
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Parrot!

Comentário melhor que o teu, e para quem está a começar como eu, creio que não existe.
É um grande incentivo para continuar, se bem, que estes contos, que me dão enorme prazer imaginar e escrever, não passam de um hobby. Sei bem, que ainda lhes falta muito para poderem ser editados, mas é na continuidade e na perseverança do trabalho que poderei chegar a um nível mais aceitável.
Um abraço.
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Peregrino!

Obrigado de novo pelos comentários amáveis que vais fazendo o favor de deixar.
Um abraço.
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Lucília!

Com certeza que sim. Quando ele ia, já ela vinha, ou seja: para malandro, malandro e meio. Para o próximo tenho de me por mais do lado do homem, afinal, faço parte desta espécie. Com muita honra, evidentemente.
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Nuno!

Por vezes não há. Começo a escrever partindo de um mote, confiando que no decorrer da história que vou imaginando à medida em que escrevo, a imaginação encontrará o final. Até agora assim tem sido, veremos até quando.
Um abração.
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OldMan!

Hehehe! Não deixa o meu caro amigo, e mais uma vez, de estar cheio de razão.
Obrigado e um abraço.

Meia Lua disse...

O desfecho não foi evidente e sim, surpreendente!
Se o teu começo como escritor é assim... já disse e repito... vou estar à espera dos próximos contos ;) bjinho

José Pires F. disse...

Freu!

Ainda bem que é essa a tua opinião, eu queria de facto que esses dois ingredientes estivessem presentes.
Beijinho.
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Meia Lua!

Ainda bem que voltaste. Tinha ficado convencido com o teu primeiro comentário, que talvez tivesse sido demasiado evidente. A análise que fizeste, sobre a focagem – talvez excessiva – no personagem masculino, podia de facto antecipar o final.
Quando se está a escrever, torna-se difícil ter a visão do leitor, aquele, lê a história de uma vez, logo, a minha perspectiva enquanto escrevo, pode não ser transmitida.
De facto, estes são os meus primeiros contos, tirando aquelas coisas de adolescente, idade em que todos nós escrevemos e somos irremediavelmente poetas, e depois, as cartas de amor ridículas, que como diz Pessoa, “Não seriam de amor se não fossem ridículas”, nunca mais me atrevi a escrever nada.
Agora, por causa do blog e por ler outros bloggers, com perfeita noção do ridículo a que me exponho, aventurei-me, e com estes comentários, sempre quero ver quem é que me pára.

Anónimo disse...

hummm...isto promete...

Cristina disse...

belo, belo!!!!!!
ai, os homes....tão convencidos...;)

concordo com o Parrot, venha daí esse livro de contos:)

beijinho

Claudio Costa disse...

Pois é, a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida... e vice-versa!

José Pires F. disse...

Guardião!

Mas de promessas está o mundo cheio, espero ser mais que isso.
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Riquita!

Não me provoques.
Beijinho para ti, também.
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In-culto!

Este teu comentário pareceu-me algo provocatório, talvez com a intenção de me intimidar. Só por isso, já publiquei nova história.
Brincadeira, meu caro.
Um abraço.
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Cláudio!

É isso mesmo, meu caro, os desencontros encontrados na arte dos contos.

Anónimo disse...

ó.Ò
Putz hahhaha até fiquei triste com o azar do camarada hahhahahahha
Que coisa hahhahaha
Adorei muito, muito bom mesmo

[s]s

José Pires F. disse...

Bill!

Caso para dizer: Mas que grande equívoco saiu na presunção do rapaz.

Valkye disse...

Gostei, principalmente do final, o fato dele estar tão seguro que a mulher queria ele e não a esposa e depois quebrar a cara com isso.
Mereceu.
^^

José Pires F. disse...

Valkye!

A presunção de que alguns padecem, pode levar a grandes equívocos.
Um abraço.

AJBA disse...

Gostei do final e eu tb não contava com este final...
Os homens só pensam em outras coisas...e alguns não conseguem desviar-se sobre certas coisas.
Mais uma vez parabéns e concordo com o livro.