A noite convidava à queima de uns quantos cavacos de azinho, o dia tinha sido de alguma emotividade e agora o corpo clamava por descanso. A Tv. estava ligada, mas os meus sentidos recusavam-se a fazer a ligação com esta, talvez, por passearem por lá os mesmos rostos de sempre e este era um daqueles dias que nem o costumeiro zapping apetecia.
A filha mais nova, assim que reparou no lume, veio aninhar-se no sofá pequeno como era seu hábito, este era do comprimento ideal para o seu tamanho, e eu sabia que daí a pouco estaria a dormir, também sabia, que mais tarde a Mãe que naquele momento monopolizava o computador, a acordaria com uma dezena de beijos e sussurros cúmplices com o fim de a levar para a cama, ela acordaria com alguma relutância e com o costumeiro sorriso de quem está nas nuvens, seguiria guiada por mão amiga em direcção ao quarto. Era um ritual que me dava prazer, o gosto de ver as coisas boas e familiares repetirem-se vezes sem conta.
A ligação com a Tv. definitivamente não se estabelecia, os meus olhos teimavam em vaguear pelo lume que crepitava abafado.
Acabei de saborear a caneca de café e a cigarrilha que deveria ser a última do dia, quando decidi finalmente ver aquele filme emprestado há meses pelo meu filho. Tinha ganho alguns Óscars, mas não tinha ainda conseguido conquistar a minha atenção, dispus-me a vê-lo devido a um dos actores ser o Morgan Freeman. Peguei no DVD e reli o titulo, “Million dollar baby”, além do Morgan Freeman, são protagonistas o Clint Eastwood e a Hilary Swank.
Avancei, finalmente decidido a despachar aquele que fazia parte de uma meia dúzia que tinha para ver já há algum tempo. Não me arrependi, nem quando a Maggie (Hilary Swank) decide convidar o seu treinador Frankie Dunn (Clint Eastwood) a acompanhá-la numa visita à sua Mãe, uma cena constrangedora pela extrema pobreza de sentimentos, valores e ideais que a família de Maggie revelou.
Entretanto tinha recebido um telefonema da minha filha mais velha, não seria necessário ir buscá-la, ia tomar café com uma amiga. Pouco depois, já contava com a companhia da minha mulher e acabámos de ver o filme juntos.
Fiquei por ali, agora já disposto a algum zapping o que me levou a ver bocados de vários programas, mas sem que algum me tivesse despertado a atenção.
Quatro da manhã e decido ligar para a minha filha, talvez à décima e insistente tentativa, atendeu: Vinha a caminho! Lembro-me da última vez que olhei o relógio, marcava as quatro e meia, seria mais uma noite mal dormida.
Pela manhã desloquei-me ao hospital onde a minha Mãe recuperava de uma cirurgia efectuada nessa madrugada. Estava tudo bem e recuperava com a normalidade comum àquele tipo de intervenção segundo fui informado. Regresso a casa para almoçar, e tenho então oportunidade de ver a minha filha mais velha, quando se preparava para sair, atiro-lhe: Espero que hoje não repitas a graça! Ela, do alto do seu metro e setenta e oito e escudada pelos seus vinte anitos, responde algo imperceptível, vira as costas e sai. Constato sem sombra de dúvida a minha falta de autoridade, não que fosse a primeira vez que passava por isto, acontece que nas outras eu era o filho e penso agora que a minha Mãe deve ter ficado tão preocupada como eu.
A filha mais nova, assim que reparou no lume, veio aninhar-se no sofá pequeno como era seu hábito, este era do comprimento ideal para o seu tamanho, e eu sabia que daí a pouco estaria a dormir, também sabia, que mais tarde a Mãe que naquele momento monopolizava o computador, a acordaria com uma dezena de beijos e sussurros cúmplices com o fim de a levar para a cama, ela acordaria com alguma relutância e com o costumeiro sorriso de quem está nas nuvens, seguiria guiada por mão amiga em direcção ao quarto. Era um ritual que me dava prazer, o gosto de ver as coisas boas e familiares repetirem-se vezes sem conta.
A ligação com a Tv. definitivamente não se estabelecia, os meus olhos teimavam em vaguear pelo lume que crepitava abafado.
Acabei de saborear a caneca de café e a cigarrilha que deveria ser a última do dia, quando decidi finalmente ver aquele filme emprestado há meses pelo meu filho. Tinha ganho alguns Óscars, mas não tinha ainda conseguido conquistar a minha atenção, dispus-me a vê-lo devido a um dos actores ser o Morgan Freeman. Peguei no DVD e reli o titulo, “Million dollar baby”, além do Morgan Freeman, são protagonistas o Clint Eastwood e a Hilary Swank.
Avancei, finalmente decidido a despachar aquele que fazia parte de uma meia dúzia que tinha para ver já há algum tempo. Não me arrependi, nem quando a Maggie (Hilary Swank) decide convidar o seu treinador Frankie Dunn (Clint Eastwood) a acompanhá-la numa visita à sua Mãe, uma cena constrangedora pela extrema pobreza de sentimentos, valores e ideais que a família de Maggie revelou.
Entretanto tinha recebido um telefonema da minha filha mais velha, não seria necessário ir buscá-la, ia tomar café com uma amiga. Pouco depois, já contava com a companhia da minha mulher e acabámos de ver o filme juntos.
Fiquei por ali, agora já disposto a algum zapping o que me levou a ver bocados de vários programas, mas sem que algum me tivesse despertado a atenção.
Quatro da manhã e decido ligar para a minha filha, talvez à décima e insistente tentativa, atendeu: Vinha a caminho! Lembro-me da última vez que olhei o relógio, marcava as quatro e meia, seria mais uma noite mal dormida.
Pela manhã desloquei-me ao hospital onde a minha Mãe recuperava de uma cirurgia efectuada nessa madrugada. Estava tudo bem e recuperava com a normalidade comum àquele tipo de intervenção segundo fui informado. Regresso a casa para almoçar, e tenho então oportunidade de ver a minha filha mais velha, quando se preparava para sair, atiro-lhe: Espero que hoje não repitas a graça! Ela, do alto do seu metro e setenta e oito e escudada pelos seus vinte anitos, responde algo imperceptível, vira as costas e sai. Constato sem sombra de dúvida a minha falta de autoridade, não que fosse a primeira vez que passava por isto, acontece que nas outras eu era o filho e penso agora que a minha Mãe deve ter ficado tão preocupada como eu.
9 comentários:
1) Espero sinceramente que tenhas gostado do filme. Eu achei sinceramente que o filme tem uma carga emocional tão grande que toca em todas as pessoas.
2) Quanto á casa com lareira... não é para todos não. e acompanhado por uma pequenina linda como é a minha mana com mais inveja fico.
3) penso que não colocaste o post para teres opiniões... mas sim como desabafo de um fim de dia complicado. È normal ficares preocupado, mas não lhe leves a mal a atitude... 20 anitos são assim mesmo, irreverentes, respondões, confusos e um pouco "marginais". mas penso que isso tu tambem sabes.
P.s. - Maninha, vê lá se tomas juizo que o "velhote" já não aguenta estas noitadas.
PiresF, a transição (a nivel de autoridade) da situação de filho para pai, tem que ser acompanhada pelo apagar selectivo de algumas memórias, que a ficarem no activo nos vão impedir de ver os casos imparcialmente.
(é o caso das mães que perderam os "três" aos dezasseis e aínda fazem marcação ás filhas adultas)
Caro amigo, quanto ao filme é muito bom, o solo de violão é perfeito, muito bom mesmo.
Espero que sua mãe se recupere logo =]
Ja falando da falta de autoridade, nem é isso, os 20 anos é quando a liberdade é mais pedida, de vez, assim, qualquer tentativa de preocupação ja é levada como controle.
Tenho certeza que es um otimo pai, e sua peguena sabe disso =]
Otimo dia
[s]s
Opa, esqueci o principal, o textos está perfeitoooooooooo.
Muito bom deixa passar seus pensamentosde forma clara e simples.
=]
Nuno!
1 - Gostei do filme como disse e obrigado pelo empréstimo. Este já posso, devolver.
2 – Se não quisesse comentários, tê-los-ia fechado, são sempre bem vindos e os teus em especial.
3 – A preocupação reside essencialmente na falta de hábito, ela nunca foi de noitadas e também nunca foi proibida. Foi descabido ser a meio da semana e o facto ter-me apanhado num dia mau.
Raes!
Obrigado pelas tuas palavras elogiosas. O ditado que referes, como normalmente acontece com os ditados, acertou na mouche.
The OldMan!
Palavras sábias as suas, meu amigo, é exactamente isso.
Obrigado.
Bill!
Obrigado pelos votos de recuperação. Em relação a ser um bom pai, tomara ter a certeza que tu tens.
Obrigado pelas tuas palavras e pelo elogio ao texto, estive para não publicar com receio de ser mal interpretado.
PF: Ter em casa uma jovem adulta de 20 anos, não deve ser mole não...(como dizem nos trópicos) Tenho uma com menos um zero e já dá um trabalhão!
Vai-te preparando Rui!
A minha mais nova tem 10. Depois da TV, do DVD, do PC, e da PS2, agora quer telefone no quarto!?
Já a mandei à fava, era só o que faltava.
Amigo Pires, como eu te compreendo... vacilas entre o "sossego" da lareira e inquietação normal de um pai nessas situações (sim, reparei na imagem inicial). Sei do que falo porque o meu mais velho (14 anos) já começa a "acelerar" nessa estrada. Quanto ao amigo Rui, acho que as preocupações dele são mais no sentido de "... será que hoje vou conseguir dormir toda a noite de seguida?"... eh, eh, eh... Bem, mas este comentário era mesmo só para dizer Boa Noite (conforme prometido).
Meu caro amigo Anónimo!
Agradeço o teu comentário e tenho pena de não te teres identificado, porque, devido à frase final (conforme prometido) fiquei com a dúvida se a minha cabeça andará a funcionar devidamente.
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