Alô, Poesia!

Dias atrás, fiz aqui, mais uma incursão reflectiva sobre arte. Isto é, embora eu não seja um especialista em nada, paradoxalmente e com esforço até à hérnia, tento ser ecléctico e meto-me em tudo (bem… quase tudo). Faço-o com uma caixa de comentários aberta, onde qualquer um pode usar de um “pcht cala-te!” e sem pretender raciocinar ou fazer pensamento discursivo sobre o que é estético, mas sim, porque tenho vivências que a meu modo e como conclusão, gosto de partilhar (Depois disto, a coisa deve soar menos grave. Certamente, menos dramática).

Assim, e sobre a poesia, constato que hoje por ditadura do mercado, esta é relegada para a quase clandestinidade onde abundam o falso e o supérfluo, mas a poesia é útil e vale a pena ter consciência disso. Eu sei.
Não vou pretender definir a poesia, seria inviabilizá-la, porque sendo uma das artes tradicionais através da qual a linguagem humana é sempre utilizada com fins estéticos, tem a função de exprimir sucintamente e entre linhas o pensamento do eu-lírico, talvez por isso, sendo a poesia arte e estética na sua essência, os poetas não são para entender mas para fruir, e há, como eu, quem os frua, sendo sempre uma aventura neste país de poetas e trovadores e outros prosaicos pensadores, encontrar na net, apesar do abundante lixo, a divulgação essencial que, de outro modo, não estaria acessível a pessoas fora do circulo de amizades do poeta. Talvez por isso, há hoje poetas, que têem as suas searas de afectos nesta realidade virtual.

Porque ler e dar a ler, têm aqui lugar, ofereço-vos o link do sitio da poetiza Isabel Mendes Ferreira, e destaco este belo poema do Portugal finissecular, de sua autoria.


a minha pátria é de chão de Pascoaes. árvore de Camões. e
lírica de Camilo. sofrida como uma maçã de Cesário.
um rasgo de Al berto e a mão de Pessoa.
o olho.tigre de Agostinho e o silêncio de Agustina.
Ondina nos pulsos e um pouco imenso de todo o Virgílio.
______________a minha pátria é tão antiga
que de sépia a rubro demora o tempo de reabrir as Farpas.


21 comentários:

  1. Pires, grata pela visita.

    Sou passageira frequente deste blog

    iv*

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  2. É fabuloso este poema da IMF.

    Fabuloso. Épico. Comovente

    Exalta-nos a ser ! Seres plenos

    Não conhecia ...

    Grata

    iv*

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  3. ...pois é...:) "bem malandro".

    olha, "roubo-o" para o livro invisível...que mt provavelmente será sempre isso mesmo: dotado à invisibilidade.

    Beijos. gratos....com um sorriso!

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  4. Anónimo26.2.08

    Bom qualquer coisa que eu vá dizer aqui, sei que vão dizer que sou suspeito, tanto ao concordar plenamente contigo meu amigo, sobre a poesia, (que infelizmente nesse lado do mar sofre demais em armários empoeirados em cantos de livrarias), quanto a magia dessa moça poeta.

    "______________a minha pátria é tão antiga
    que de sépia a rubro demora o tempo de reabrir as Farpas."

    O que dizer, senão, que maravilha.

    (=

    [s]s

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  5. Costumo dizer que não gosto de poesia. Digo sempre que prefiro a prosa, que sinto melhor o ritmo das palavras, porque a escrita tem muito de musical.

    Não é bem verdade. Gosto de poesia mas apenas daquela que faz parar o mundo porque co meia dúzia de versos nos espanta.

    Pior do que uma má prosa é uma poesia de rima fácil, povoada de imagens recorrentes e lugares comuns.

    E nada disto tem a ver com erudição ou educação superior. Tem a ver com uso que se faz da língua e da metáfora, com um material acessível a todos. Se há quem pinte quadros, poucos são os pintam obras-primas. Com as palavras é exactamente a mesma coisa.

    Mas são de louvar as iniciativas que estimulam a arte e a cultura. "Palavreando" é uma delas.

    Deixo um link para abrir o apetite - http://www.novaodivelas.pt/sitemega/view.asp?itemid=546

    Bjs

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  6. Isabel Victor!

    Enorme é a minha satisfação em sabê-lo, porque hoje, logo cedo (e eu não ando por aqui de manhã), me vieste ao pensamento lembrando-me que há muito estava em falta contigo. De tal forma foi, que a excepção se impôs e lá fui em visita matinal.
    Sei que a IMF é uma amiga comum e que também partilhas desta admiração, mas não supus desconheceres este poema que, embora só tenha sido publicado no Nova Águia, por isso mesmo pensei conheceres.
    Sendo assim, dou-te uma novidade: este poema, foi de imediato seleccionado pela direcção da revista, para ser publicado no primeiro número que sairá lá para Junho.

    Abraço.

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  7. IMF!

    Querida Isabel, “bem malandro” fui, e bem o percebeste.
    Sabes… era para te pedir autorização, mas às três da manhã não me irias responder e depois o poema já era público. Pensei por isso, que serias benevolente com este teu devoto leitor e me desculparias a ousadia com a generosidade habitual.

    Abraço.

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  8. Bill

    Pois é… a haver “suspeitos”, estes têem os nomes que aqui se encontram em admiração desta nossa poetiza.
    Infelizmente, como digo, a ditadura do mercado relega para a clandestinidade tão belos momentos, e é uma sorte para alguns de nós, podermos fruir desta convivência generosa porque, a poesia é uma arma carregada de futuro e a história já o provou bastas vezes…e os homens, que também sabem ser bestas, já o provaram muitas vezes! Quase tantas, quantas as que pegaram em armas para matar alguém...

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  9. Eva Shanti!

    Em primeiro lugar os meus agradecimentos pelo link. E eu aqui tão perto, não conhecia. De facto, abriu-me o apetite, e depois duma primeira incursão, já feita, vou acompanhar com atenção redobrada.

    Mas sobre a questão:

    A grande questão hoje, é o preconceito que encaixa a poesia no mundo dos sonhos delicodoces e a ideia banalizada de que não interessa para nada. Aquela ideia de “põe os pés no chão, pá!”, quando, a poesia enquanto expressão artística, nos alarga o quotidiano.

    Cito de memória um pequeno poema de Novalis:

    “A Poesia é o autêntico real absoluto.
    Isto é o cerne da minha filosofia
    quanto mais poético, mais verdadeiro”

    Ora, Novalis, e perdoa a ousadia, procura dizer que há coisas indizíveis fora da poesia, e só com esta podem ser identificadas, porque a poesia é mais do que forma, seja verso ou prosa poética, poesia é o que tocar o essencial e como disse Almada Negreiros, um “acto vitalício”.

    Abraço.

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  10. vim "espreitar". em boa hora!

    deparei como uma excelente reflexão sobre poesia. e um belíssimo poema. que mais esperar da net?

    aceita um abraço

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  11. Herético!

    Ora, não podia estar mais de acordo, e dizer coisa tão acertada merece certamente um prémio. Por isso, dou-to aqui, com uma pitada de Lorca que certamente irás gostar porque a poesia é apenas uma outra forma, não científica, de pressentir que a realidade é muito mais desconhecida e inefável, do que o senso comum e o quotidiano fazem supor.


    Do, Cidade Sem Sono

    Um dia
    Os cavalos viverão nas tabernas
    E as formigas furiosas
    Atacarão os céus amarelos que se refugiam nos olhos das vacas.

    Outro dia
    Veremos a ressurreição das mariposas dissecadas
    E ainda, ao andar por uma paisagem de esponjas pardas e barcos mudos,
    Veremos brilhar nosso anel e manar rosas de nossa língua.


    Quanto ao abraço, aceito e retribuo.

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  12. Leio alguns de seus comentários - muitos deles, verdadeiros mini-posts, em alguns sites de amigos comuns, do Herético, da Isabel Mendes, da Isabel Victor, e do famigerado Klatuu, dentre outros. Assim, resolvi conhecer o seu blog.
    Este poema da Isabel Mendes que muito merecidamente adicionou à esta postagem, é fantástico, fiz até um comentário a respeito no blog da Isabel Victor, outra visionária das artes.
    Bem, já que me apresentei, vou continuar lendo outras postagens.
    Abraços!

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  13. Caro Oliver,

    É gente de quem gosto e por onde o tenho lido também, para além de seguir o seu blog embora só como leitor.
    Fica o agradecimento pela visita que retribui e, principalmente, pelas simpáticas palavras que deixou.

    Sei que também é um apreciador da poesia da Isabel, um “suspeito”, assim nos considera, pensando que por amizade dizemos bem do que escreve. O que não deixaria de ser verdade não fosse o facto de gostarmos de poesia.

    Um abraço.

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  14. :)))))))))))cheguei. agorinha mesmo.
    e claro para "concordar" com a lista de "suspeitos"...que aumenta...


    .

    e saio....

    a voar.


    ah e viva o SPORTING....vai indo entre o mal e menos bom ...:)
    mas indo...

    sportinguista sofre...:((((.


    beijos.

    ah...e obrigada aos suspeitos!!!!
    pim!

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  15. A poesia é sempre a forma mais elevada do pensamento, do amor, da paixão, da razão e do momento.
    Adoro bons poetas.
    Gostei do link.
    Um abraço

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  16. IMF!

    Pois é… esta época o nosso Sporting só nos faz sofrer, embora já devêssemos estar habituados. Mas são assim as grandes paixões, que fazer…
    E temos agora um Sporting vs. Benfica que vou ver na companhia de vários benfiquistas e sportinguistas. Veremos se o coração aguenta.

    Abraço.

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  17. Silêncio Culpado!

    Obrigada pela visita. E com um abraço, um poema do Herberto Helder

    Sobre um Poema

    "Um poema cresce inseguramente
    na confusão da carne,
    sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
    talvez como sangue
    ou sombra de sangue pelos canais do ser.

    Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
    ou os bagos de uva de onde nascem
    as raízes minúsculas do sol.
    Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
    do nosso amor,
    os rios, a grande paz exterior das coisas,
    as folhas dormindo o silêncio,
    as sementes à beira do vento,
    -a hora teatral da posse.
    E o poema cresce tomando tudo no seu regaço.

    E já nenhum poder destrói o poema.
    Insustentável, único,
    invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
    a miséria dos minutos,
    a força sustida das coisas,
    a redonda e livre harmonia do mundo.

    -Em baixo o instrumento perplexo ignora
    a espinha do mistério.
    -E o poema faz-se contra o tempo e a carne."

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  18. Anónimo29.2.08

    faz-me mesmo. contra o tempo e a carne. do dito. O tempo. osso indestrutível da memória.

    Enorme e discretíssimo H. H. que não "vai" em tertúlias moles nem alinha pelo comum.

    Grande o Poeta.

    beijo.

    (olhe morro de inveja...da ida ao jogo..) :)))).

    mas claro que vou ver...via TV.

    depois falamos...
    mas como o Benfica também anda uma míséria...:) pode ser que ganhemos...
    (ai se a Cristina me ouve...)...

    beijo.

    vou cuidar da cara de lua....:)



    y.

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  19. Anónimo29.2.08

    (raios) : errata:

    "FAZ-se" e não "faz-me".



    desculpas.





    y.

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  20. Ai!!!!

    Lenta a instalação e a chegada obrigatória aqui...mas sei que me perdoarás a demora :) Viciada sou.

    Nela e nas suas palavras :)

    Coração com vicio de afectos.
    Alma com sede de asas.


    Que fazer? :)


    Obrigada por nos dares a conhecer mais um pouco da seara da Isabel:)

    Beijo, bom sabado, bom Março:)

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  21. Cheguei aqui ao som de um Piano

    E nesta seara virtual está Ysabel que aqui generosamente oferece.

    Obrigada

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