Fernando Pessoa - Cancioneiro


Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

4 comentários:

Sy disse...

Que bom ter o privilégio de reler Pessoa num enquadramento tão perfeito ! Mil obrigadas !

José Pires F. disse...

Eu é que agradeço as suas visitas e os seus comentários.

Com o tempo virá mais Pessoa e outros poetas, mas Pessoa é Pessoa, e terá aqui um lugar privilegiado.

Anónimo disse...

É um privilégio realmente encontrar aqui Fernando Pessoa!! Mas que poderia querer eu desse meu primo que tanto me enche de orgulho com sua inteligência e sensibilidade???

José Pires F. disse...

Obrigado minha prima anónima, que pelas palavras elogiosas, só podes ser tu uma prima inteligente.